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Cultura
Sexta - 08 de Setembro de 2006 às 15:07

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Em entrevista concedida a Floriano Martins, Cameron fala sobre sua expectativa para o evento, que vai reunir os principais escritores Sul-Americanos. Cameron fará palestra sobre o trabalho dele e também vai ler alguns de seus poemas.

O escritor Juan Cameron será o representante da literatura chilena que estará presente na Literamérica 2006 - Feira Sul-Americana do Livro, que será realizada entre os dias 16 e 24 de setembro, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá. Cameron fará palestra sobre o trabalho dele e também vai ler alguns de seus poemas.

Juan confessou em entreista entrevista ao também escritor e editor da revista Agulha, Floriano Martins, que gostaria muito de tentar ler uma poesia de autoria dele traduzida para o português. "Leio em português com ajuda de dicionário, mas nunca falei nem a pronunciei em voz alta", confessa.

Juan Cameron, nasceu em Valparaíso no dia 28 de janeiro de 1947. Formado em Direito, pela Universidade do Chile, atua também como escritor. Foi redator cultural e chefe de redação da Revista del Sur, em Malmö, Suécia; professor de Teoria da Comunicação, Linguagem Publicitária e Ética Profissional em universidades privadas. Entre as diversas publicações de sua autoria estão Las Manos Enlazadas (1971), Apuntes (1981), Cámara Oscura (1985), Video Clip (Suécia – 1989), Como un A ave Migratoria en la Jaula de Fénix (Espanha, 1992), If I go Back/Si Regresso (EUA, 1993), Där Alla Änglar Fallit (Suecia,1993). Recebeu diversos prêmios internacionais de literatura e tem textos traduzidos em diversos países como Japão, Canadá, Rússia, Romênia, Irã, França, Alemanha, Irlanda, Austrália e Inglaterra. A seguir, a entrevista com Juan Cameron feita por Floriano Martins, editor da revista Agulha.

FM - Quais contatos você tem com escritores brasileiros e de que maneira a literatura brasileira é difundida em teu país?

JC - Não tenho grande contato com os poetas brasileiros. Talvez pela diferença de idioma não costumamos vir muito por esses lados. Contudo, José Maria Memet publicou recetemente Affonso Romano de Sant'Anna, a quem nunca ouvi falar em Santiago, e Ledo Ivo, que me encarregou de fazer o prólogo. Conheci Lêdo em 1999, em Rosario, na Argentina, mas já o lia desde os meus 18 anos. Recitei parte de "El Bombero" e ele, afetuosamente, me puxou pelo braço e fomos tomar um vinho perto do Paraná. Eu o apresentei na embaixada brasileira, em Santiago, e em Valparaíso, minha cidade. Não foi bem mostrado nas antologias brasileiras e pouco se destaca na que Thiago de Mello fez e traduziu no Chile Adán Méndez (Visão da Poesia Brasileira, Ed. Rio, 1996). Thiago foi bastante divulgado no Chile e, creio eu, que as circunstâncias políticas influenciaram para isso.

Em geral, a literatura brasileira não é conhecida massivamente em nosso país. Sabemos de cor toda a poesia modernista de Carlos Drummond de Andrade e seu fenomenal "Confissões de um itabirano", que reflete sua juventude.

Cecília Meirelles foi traduzida recentemente pela poeta Patrícia Tejeda, de Valparaíso. Eu poderia afirmar que, a pesar de tudo, os poetas a conhecem por via de vasos comunicantes. Conhecemos os jovens Angélica Freitas e Ricardo Domenek de nome, é que certos livros nos chegam vez ou outra.

A questão do idioma é um grande problema. Como dois orientais, o espanhol e o português nos parecem iguais, irmãos. Mas quando você conhece, quando entra na nossa casa, quantas diferenças aparecem. Corremos o risco de cair no portunhol, sem dominar nem um nem outro.

FM - Como se observa em sua nota biográfica, você pertence "aos grupos literários da quinta região". Como isto funciona, este tipo de demarcação?

JC - Me formei na região de Valparaíso ("quinta" é uma numeração de militares), na minha cidade e na vizinha Viña del Mar. Comecei junto com Juan Luis Martínez e Raúl Zurita, mas isso pertence a pré-história literária. Na minha região os bons poetas são pouquíssimos e isso se confunde nas listas nacionais.

FM - Como será sua apresentação na Literamérica? O que você vai trazer para o leitor brasileiro, em Cuiabá, que certamente estará atento à sua poesia?

JC - Fui convidado para fazer uma palestra sobre minha poesia no "corpus chileno" e nossa atual lírica. Por certo, vou ler meus textos. Tomara que eu encontre alguns textos traduzidos, pois gostaria muito de lê-los em português, essa língua tão estranha e mágica que resgata do espanhol palavras antigas e sonoras que nem sequer sei o que significam no meu idioma: como espingada, por exemplo. Leio em português com ajuda de dicionário, mas nunca falei nem a pronunciei em voz alta.

FM - Como observar hoje, em termos de poesia chilena, uma relação de forças entre tradição e ruptura?

JC - Veja bem, eu fui revolucionário e muitas vezes quis a reconstrução do muro de Berlim, hoje me sinto um conservador. É conseqüência da ditadura, e todo esse maldito sistema neoliberal que tanta pobreza e ignorancia tem trazido ao Chile. A competencia para sobreviver, para se destacar, para chamar atenção e não naufragar, é muita. Há muita deslealdade, muita asneira, perdemos o caminho ético. Então ser rupturista está na moda, qualquer estúpido é, qualquer ignorante faz uma instalação. Eu prefiro voltar-me para os livros, que nos conecta com o mundo, que não gastam energia e só funcionam com a luz do sol. Hoje sou pela tradição, que é onde nasce toda modernidade e toda hereditariedade. O resto é uma espécie de origen bastarda.

De outro ponto de vista, digo que a urgência de inovação é própria de Santiago. Nos Estados não temos essa obrigação, porque nos falta, graças a Deus, o poder.

FM - O que tem ocasionado certo vazio nas relações entre Brasil e América Hispânica, já é um fato histórico, e o que você sugere como uma possibilidade plausível de aproximação cultural desses países?

JC - Se os governos enviassem livros grátis aos poetas do outro lado da fronteira do idioma, seria fantástico. Recentemente chegou para mim (enviado pelo autor) Poesia Completa e Confissões de um Poeta, de Ivo. Este último terminei de ler hoje. É preciso implementar um estudo de ambas as línguas, o intercâmbio artístico e bolsas de estudo. O convite que eu recebi hoje, é para mim, o maná no deserto. Me aproxima dessa nova língua e me permite um maior acesso aos seus autores. Isso é o que tem de ser feito. Nós, os poetas, precisamos de apoio fiscal. Como disse o conquistador espanhol, "a dor do nosso coração só cura com ouro".





Fonte: 24HorasNews

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