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Cultura
Quarta - 06 de Setembro de 2006 às 09:42

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A colombiana Amparo Osório será uma das escritoras sul-americanas que irá participar da Literamérica, Feira Sul-Americana do Livro, que acontecerá entre os dias 16 e 24 de setembro, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá. A autora acredita ser imprescindível que se realizem alianças concretas para que haja um intercâmbio efetivo entre literatura brasileira e literatura sul-americana.

Amparo nasceu em Bogotá e é autora dos livros de poesia “Huracanes de sueños” (1983); “Gota ébria” (Ediciones “Embalaje”, 1987); “Territorio de máscaras” (Hojas Sueltas, 1990); “Migración de la ceniza” (Editorial Magisterio, 1998); “Antología esencial” (Coleção “Los Conjurados”, 2001) e “Memoria absuelta” (Universidade Nacional da Colômbia, 2004).

É coordenadora editorial da revista Presença Comum e da coleção internacional de literatura “Los Conjurados”. Vários de seus poemas foram traduzidos para o inglês, francês, italiano, húngaro, português, alemão e russo. A seguir, a entrevista com Amparo Osório feita por Floriano Martins, editor da revista Agulha.

1. Quais contatos você tem com os escritores brasileiros e de que maneira a literatura brasileira é difundida em teu país?

Ampara Osório – Nosso primeiro grande contato foi através da Revista Agulha e dos poetas que a integram. A literatura brasileira é algo que nos emociona e nos assombra por seus matizes e riquezas que tem servido de base para a criação de um profundo legado cultural que contempla não só a narrativa e poética que vai de Jorge Amado a Ana Cristina César, citando dois de seus extraordinários escritores, como felizmente também tem influenciado grandes expressões culturais como música, cinema, artes plásticas e arquitetura. No plano pessoal acho que pertenço a essa seita secreta de apaixonados melómanos ligados a intérpretes e compositores brasileiros como Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Gal Costa, Toquinho, Maria Bethânia.

A pesar do idioma (maravilhoso) e da distância geográfica, o Brasil e seus criadores são algo que nos interessa profundamente, assim temos publicado em vários números de nossa revista autores brasileiros como Mário Faustino, Cecília Meireles, Floriano Martins, Fiorense Furtado, Sérgio Lima, Augusto de campos e Arnaldo Antunes.

2. Conte um pouco do trabalho editorial que você vem realizando junto à Fundación Común Presencia, inclusive referindo-se a novos títulos que estão sendo editados.

A coleção internacional de Literatura “Los Conjurados”, que nasceu há cinco anos com o apoio da nossa revista Común Presencia pretendeu desde o início ser uma homenagem não só às grandes vozes da criação universal, mas também um ponto de apoio a novos talentos nacionais e estrangeiros.

Queríamos nos tornar pioneiros de um editorial de poesia. Foi assim, como o primeiro título “Poesia Vertical”, que fez uma homenagem póstuma ao grande poeta argentino Roberto Juarroz. Logo vieram os abrigos invisíveis dos quais Juarroz tanto falava. Diante dessa premissa, entramos em contato com o poeta Sirio-Libanés “Adonis”, que já conhecia a revista e generosamente não só cedeu os direitos para uma seleção antológica titulada “Mi cuerpo es mi camino”, como também enviou para este livro dois poemas inéditos manuscritos.

Como nossa Fundação é uma entidade sem fins lucrativos, que não recebe nenhum tipo auxílio oficial, desde o início desta aventura que alguns chamam “essecialista”, que temos feito grandes esforços para difundir essas necessárias vozes universais. Assim chegamos a 25 títulos de poetas entre os quais estão Georg Trakl, Giuseppe Ungaretti, Arthur Rimbaud, António Ramos Rosa e Claude Michel Cluny.

Fomos avançando também na cobertura dos gêneros de testemunho, conto e ensaio, conseguimos pela primeira vez em espanhol, a autorização da Academia Sueca para editar os Discursos dos Prêmios Nobel de Literatura.

Ainda que tenha sido um trabalho silencioso e algo lento pelas condições econômicas do país, nos tornamos uma editora de prestígio literário, já que também temos conseguido que tanto a revista como a coleção estejam sendo distribuidas em cinco países latino americanos (Colombia, Venezuela, Perú, Equador e Porto Rico).

A revista é a célula mãe de toda esta aventura editorial. Acaba de sair o número 18. Nele aparece desde o início até hoje, reportagens e entrevistas com criadores de nossos tempos, como E. M. Cioran, Octavio Paz, Jacobo Borges e Olga Orozco, entre outros, todos eles realizados conjuntamente com o poeta Gonzalo Márquez Cristo, e que em breve publicaremos dentro de um livro-homenagem “Los Conjurados”.

3. Como será sua apresentação na Literamérica? O que pretende trazer para o leitor brasileiro, em Cuiabá, que certamente estará atento à tua poesia?

Ainda estou esperando o Programa oficial da Feira, mas quero basicamente fazer um reconto dos meus processos criativos e uma leitura antológica dos meus três últimos livros “Territorio de máscaras”, “Migración de la ceniza” e “Memoria absuelta”.

Me interessa profundamente o contato pessoal não só com os autores convidados para o encontro, mas também com o público interessado. Gostaria de ter também um espaço para que as pessoas conheçam de uma maneira mais próxima os processos da Coleção “Los Conjurados”.

4. Como observar hoje, em termos de poesia colombiana, uma relação de forças entre tradição e ruptura?

Existem definitivamente não só estas duas forças dentro da poesia colombiana atual, mas diversas variantes que tornam mais complexo nosso panorama cultural. Em um ensaio recente do professor Enrique Ferrer Corredor se faz um balanço e uma análise de algumas das tendências poéticas das últimas décadas no meu país, que ele denomina como Transmodernos, Cotidianistas, Oficiantes do Vértigo e Esencialistas.

Particularmente recorro aos postulados de Roberto Juarroz sobre fato de que “a poesia é falar do abismo que somos, diante o abismo em que estamos”.

5. O que tem ocasionado certo vazio nas relações entre Brasil e América Hispânica, já é um fato histórico, e o que você sugere como uma possibilidade plausível de aproximação cultural desses países?

É urgente, quase imprescindível que se realizem alianças concretas para a difusão da nossa literatura. Obviamente que em um ato utópico que só compete aos poetas, poderemos conseguir. Talvez seja necessário comprometer entidades privadas, casas de cultura, revistas literárias, criadores, etc. Derrubando o mito das fronteiras e do idioma.

Esperar que os governos ou outros níveis oficiais o façam, seria atrasar e quase imposibilitar esta necessidade de laços fecundos. Pois como disse o grande Quasimodo em seu discurso de celebração do Prêmio Nobel de Literatura: “O trabalho dos políticos na Terra é o de retardar a voz dos poetas, mas com o tempo, como pensava Leonardo Da Vinci, esse erro será corrigido”. Talvez muito disso possa ser idealizado e concretizado na minha visita a esse país exótico e cordial.





Fonte: Secom-MT

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