Publicidade
Repórter News - www.reporternews.com.br
Cultura
Quarta - 09 de Agosto de 2006 às 15:14

    Imprimir


O cinema anarquista durante a guerra civil espanhola é tema da Mostra Espanhola de Cinema e Fotografia organizada pelo Cineclube Coxiponés, no Centro Cultura da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Aberta na segunda-feira (7), as exibições prosseguem até o dia 18 de agosto, às 19 horas. A entrada é gratuita.

Dentro da programação do Cineclube, serão exibidos os seguintes filmes: Aurora de esperanza, Barrios bajos, La silla vacía, Nuestro cuplable, Carne de fieras, Barcelona trabaja para el frente, El frente y la retaguardia, La última e Otro futuro.

Anarquista - Guerra civil espanhola

Neste ano completa-se 70 anos início da guerra civil espanhola, precisamente nos dias 19 e 20 de julho de 1936 irrompe a sublevação militar fascista contra a república. O evento marca a nova ordem em disputa no campo ideológico e geopolítico na Europa do século XX e foi ensaio dos fatos que afetaram o mundo com eclosão, em seguida, da Segunda Guerra Mundial. Campo fecundo da disputa ideológica dentro da esquerda, no qual o anarquismo assume sua maior visibilidade como proposta de uma sociedade libertária e igualitária, tornaram-se enfrentamentos que marcaram nossa sociedade. Com uma estrutura popular e participativa, o anarquismo domina as cidades de Barcelona e Aragón, locais paradigmáticos onde os filmes foram produzidos.

Essa mostra teve curadoria realizada para o Festival de Huesca por Ángel-Santos Garcéz. Segundo o curador, a escolha se deu sobre um grupo de películas praticamente desconhecidas fora da Espanha, realizadas pela Confederação Nacional do Trabalho (CNT), de tendência anarquista na retaguarda das frentes de batalhas durante a guerra civil espanhola. São curtas-metragens de propaganda e longas de ficção, produzidas pelo Sindicato Único de Espetáculos filiado à Confederação Nacional dos Trabalhadores (CNT), que entre os anos de 1936 e 1937 realizou mais de uma centena de filmes.

Os curtas-metragens são, em geral, de natureza propagandística de cunho didático e mostram as mudanças realizadas na organização social dentro das zonas sob controle das forças republicanas com tendência anarquista, onde as fábricas, e também a própria indústria do cinema, foram coletivizadas e funcionavam como centros sociais, educativos e espaços do debate político. Cenas da frente de batalha são mostradas na sua dura frieza do combate, mas são construções sobre uma luta contra o fascismo e pela liberdade de projeção utópica de uma sociedade socialista idealizada.

Os filmes de longa metragem, entretanto, são produções simbólicas na exploração da narrativa ficcional e utilizam de vários gêneros tradicionais como o melodrama, a comédia, e o musical, mas com um olhar particular, em busca da afirmação do princípio libertário. Essas narrativas não buscam julgamentos de valores morais sobre a conduta de seus personagens: estivadores, prostitutas, artistas de rua, e inclusive ladrões – um campo estereotipado de pertencimento ao conceito de popular, como ressalta Ángel-Santos Garcéz – são observados sempre com franqueza e simpatia, sem serem julgados sob nenhum ponto de vista. Assim, há um contraponto com a estética do cinema do realismo socialista e o conceito de povo é construído sem exaltação. Podemos perceber simbolicamente os valores que o anarquismo queria modificar como a noção de família, de amor, de respeito mútuo e de solidariedade, ou seja, as instituições conservadoras são questionadas no cotidiano das ruas e na intimidade das relações afetivas.

Exposição Fotográfica

A Guerra Civil Espanhola nas Fotografias de Agustí Centelles Ossó. Esse é o tema da exposição fotográfica apresentada, durante a mostra de cinema no Centro Cultural da UFMT.

Agustí Centelles Ossó retratou Barcelona no período republicano anterior à guerra civil e fotografou os conflitos desde os primeiros dias. Sua documentação nas proximidades das ações apresenta uma visão a partir das barricadas republicanas. Centelles Osso fotografou o desenrolar da guerra incluindo cenas dos campos de concentração e a destruição efetivada pelos bombardeios aéreos contra alvos da população civil. A exposição das imagens de Agustí Centelles Osso apresenta a visão de um fotógrafo comprometido com a causa republicana.

Agustí Centelles Ossó

Nascido em 1909 em Valência, filho de um eletricista, com um ano Centelles fica órfão de mãe e seu pai muda-se para Barcelona em busca de emprego. Trabalhando desde cedo, ele inicia seu contato com a fotografia como retocador de negativos em um estúdio importante de Barcelona, com quinze anos de idade.

Começa a trabalhar como foto-jornalista para o jornal El Dia Gráfico e durante um jogo do Barcelona, em 1933, vê pela primeira vez um colega de profissão com uma câmera alemã Leica, logo depois compra seu próprio equipamento. Transforma-se, então, em foto-jornalista independente, vendendo suas reportagens e notícias fotográficas para vários jornais de Barcelona. Centelles fotografa a república dos tempos de paz, a eclosão do conflito, se envolve na frente e na retaguarda da guerra, retrata os genocídios da população civil exposta a bombardeios aéreos.

Em sua volta para Espanha franquista em 1946 dedica-se durante trinta anos à fotografia publicitária e industrial. Com a morte de Franco e o fim de seu regime em 1976, Centelles recupera seu material fotográfico e o organiza em exposições e livros. Recebe o Prêmio Nacional de Artes Plásticas, em novembro de 1984, pelo seu importante papel na história da fotografia espanhola. Um ano depois, em dezembro de 1985, Agustí Centelles Ossó falece em Barcelona.

O tesouro de Centelles

No início de 1976, Agustí Centelles Ossó cruza a fronteira com a França e recupera algumas caixas de madeira suas que estavam guardadas na casa de uma família de camponeses amiga. Dentro delas, cuidadosamente embalados, estavam mais de quatro mil negativos fotográficos, correspondentes a parte de sua produção de imagens como foto-jornalista independente durante os períodos da Segunda República espanhola, da Guerra Civil e dos anos de exílio na França.

A história desse tesouro começa em fevereiro de 1939, quando ele se desloca levando os arquivos fotográficos do exército republicano do Leste para a França. Embala esse material, junto com sua produção fotográfica particular, e o guarda em uma grande mala de couro. A viagem até a fronteira é feita por carro ou trem, mas Centelles cruza a fronteira à noite carregando a mala nas costas através dos Pirineus nevados.

É levado primeiramente para o campo de concentração de Argèles, um descampado cercado de arames farpados perto do mar, e depois para Bram. Centelles consegue, com a ajuda de outros refugiados, proteger sua mala de couro de roubos, de curiosos e de confiscos. Sua carteira internacional de jornalista o ajuda a manter seu tesouro a salvo dos guardas franceses

Em Bram, monta um laboratório clandestino e.descoberto outra vez utiliza-se de sua carteira de jornalista e consegue convencer o supervisor do campo de que fotografar o campo mostraria suas condições. Então ele organiza uma exposição em Bram, sobre a vida no campo de concentração.

Depois de conseguir sair do campo e ir trabalhar em um estúdio fotográfico próximo, Centelles envolve-se com a resistência francesa local. Em 1944, depois de um apertado cerco da Gestapo, ele organiza seus negativos novamente em caixas de madeira e os deixa sob custódia da família de camponeses em Carcassone.

Regressa para a Espanha na clandestinidade, mas depois de dois anos entrega-se às autoridades. Em 1946, tem sua carteira de jornalista cassada, dedicando-se pelos próximos trinta anos à fotografia industrial e publicitária, até o fim do regime franquista O ´´Tesoro de Centelles´´, como a família camponesa guardiã nomeava suas caixas de madeira, finalmente volta às mãos de Centelles em 1976.





Fonte: 24HorasNews

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/284040/visualizar/