Criada há 25 anos nos Estados Unidos, MTV enfrenta crise
Em 1º de agosto de 1981, "Video Killed the Radio Star", dos Buggles, inaugurava as transmissões da MTV nos EUA. Menos pelas qualidades artísticas, a canção foi escolhida por simbolizar a chegada da nova era. A partir de então, gravadoras, artistas e público teriam que se adaptar à realidade do clipe.
Mas, aos poucos, a emissora foi mudando. Paulatinamente, os clipes foram sumindo para dar lugar a programas variados. Estratégia para conservar a audiência jovem. "A MTV sempre procurou permanecer jovem e evoluir de acordo com sua audiência. Para isso, é importante espelhar nossa audiência deste momento, e não a audiência do passado." Assim Marnie Black, porta-voz da MTV norte-americana, justificou a tímida (ou falta de) comemoração da chegada desses 25 anos.
Se nos anos 80 e nos 90 a MTV permanecia como principal veículo de divulgação de artistas pop, há alguns anos ela se vê obrigada a dividir atenções com outras TVs e internet.
"A última grande revolução da própria MTV, a ponto de influenciar comportamento, moda etc., foi com o grunge. A MTV não foi responsável pelo advento do grunge, mas a bandeira dela estava lá na frente quando o grunge apareceu", diz o ex-VJ Fábio Massari, que esteve na MTV entre 1991 e 2003.
"Num contexto de You Tube, MySpace e dos sites dos próprios artistas, a MTV precisa se reinventar", opina o videoartista Lucas Bambozzi. Para o pop, a MTV perdeu importância.
"É a referência principal de comportamento jovem. Mas, em relação à música, não mais", analisa o apresentador da TV Globo Zeca Camargo, que trabalhou na MTV entre 1990 e 1994. "Assiste-se a um clipe onde você quiser, ele está disponível todos os lugares. Sou de um tempo em que ia para casa para assistir à estréia de "Like a Prayer", da Madonna, em 1989. Era um evento. Hoje você dá uns toques no computador e assiste ao novo clipe da Madonna."
Ao olhar para a MTV, tanto a dos EUA como sua irmã brasileira, nascida em outubro de 1990, nota-se que a "Music Television" está cada vez menos música. Para alguns, isso é inevitável. "Deve-se elogiar que não é mais a mesma. A MTV não pode falar com a mesma pessoa que assistia à emissora no início dos anos 90, alguém que tenha 40 anos. Tem de falar com quem tem 15 anos. E se depender só de música, vira uma TV velha", aponta Camargo.
Já André Vaisman, ex-executivo da MTV entre 1993 e 1998 e hoje diretor de programação e produção da Play TV, afirma que a rival teve, no Brasil, o papel de afirmar o pop nacional.
"A MTV soube trabalhar bem com as gravadoras durante os anos 90. Agora, você nunca viu a MTV fazer uma crítica negativa sobre um artista brasileiro. Não é uma TV em que caiba a crítica musical. A MTV teve a missão, nos anos 90, de criar um universo pop no brasil. Não havia isso, o mercado brasileiro era quase nada. O pop dos anos 80 foi sumindo. Quantas bandas dos anos 80 sobreviveriam efetivamente sem a MTV? Umas três. Paralamas, Barão e Legião, talvez. Com o apoio da MTV, outros artistas puderam prosseguir carreira."
Mas Vaisman critica a atual grade de programação da emissora. "A MTV emburreceu. Olhando para o próprio umbigo, se cativou demais em fazer TV e deixou de lado o que tinha de mais importante, que era a música. Ao abandonar isso, corre o risco de virar uma emissora voltada para o auditório. Hoje, ela é quase um SBT jovem fingindo que é classe AB."
Ainda que esteja exibindo menos clipes, a MTV continua a atrair artistas e diretores para sua órbita. "A MTV ainda é o principal canal. É um atestado de qualidade. É uma certeza de que o clipe foi bem feito", afirma Mauricio Eça, 36, diretor de mais de cem videoclipes.
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