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Internacional
Terça - 08 de Agosto de 2006 às 07:55

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Longe das câmeras de TV das equipes que fazem plantão em frente ao restaurante Versailles – principal ponto de encontro dos cubanos que querem aparecer na mídia em Miami –, alguns exilados vivem de forma bem diferente daqueles que exibem carros caros e roupas chiques pela cidade.

Os moradores cubanos das proximidades da avenida Flagler, na área conhecida como Pequena Havana, são, em sua maioria, pessoas idosas, que passam o dia sentados nos bancos da avenida, bebendo em bares ou jogando dominó.

Diferentemente da maioria dos moradores de Miami, eles não têm carro e moram em pequenos apartamentos com quarto, cozinha e banheiro.

Apesar das condições de vida precárias, todos os cubanos entrevistados pela BBC Brasil dizem viver melhor em Miami do que em Cuba.

“Lá tinha muito comunismo. Aqui também tem política, mas é um país livre”, diz Mirta Hernandez, de 60 anos, que mora há 26 em Miami.

Ela tem diabetes e recebe US$ 630 (o equivalente a cerca de R$ 1.370) por mês de ajuda do governo por ser considerada incapacitada para trabalhar.

Saúde e comida

Questionada se não estaria melhor em Cuba, que tem um sistema de saúde considerado de boa qualidade pelos padrões internacionais, Mirta Hernandez irritou-se: “Cuba não tem saúde, todos estão doentes. Como a saúde pode ser boa se as pessoas não têm o que comer?”

Edilberto Arguayes, de 80 anos, partilha da mesma opinião. “Todo mundo fala bem do sistema cubano, mas eu não. Quando não há alimento, não há saúde.”

Questionado se algum dia teve dificuldade para comer na ilha, Arguayes disse que não, pois “ia vivendo com o dinheiro que ganhava como barbeiro”.

Em Miami há sete anos, Arguayes não trabalha e também vive às custas do governo americano, que lhe fornece “médico, cama, casa, dinheiro e comida”.

De acordo com os últimos dados da Organização Mundial da Saúde, de 2003, os índices de mortalidade infantil e a expectativa de vida das populações de Cuba e dos Estados Unidos são os mesmos.

Em ambos os países, há uma taxa de mortalidade infantil de 8 em cada mil bebês e a expectativa de vida dos homens é de 75 anos e das mulheres de 80.

A diferença é que cada habitante custou ao governo americano US$ 5.711 (o equivalente a cerca de R$ 12.400) em 2003, enquanto que Cuba gastou US$ 251 (o equivalente a cerca de R$ 545) em saúde por habitante. Ondas de imigrantes

Mirta Hernandez faz parte da onda de mais de 100 mil cubanos que chegaram no sul da Flórida em 1980, quando Fidel Castro abriu temporariamente o porto de Mariel, em Cuba.

Diferentemente das três ondas anteriores, esta era formada por pessoas de classes mais pobres e por criminosos, que foram expulsos da ilha pelo governo cubano.

“Estes cubanos foram educados pela revolução e chegaram aqui sem nada e começaram o mesmo processo dos que chegaram antes, porém alguns não foram bem-sucedidos”, explica o professor e diretor do Instituto Cubano da Universidade de Miami, Jaime Suchlicki, que ressalta que este grupo é muito pequeno.

Segundo ele, a primeira onda de cubanos que deixou a ilha nos anos 60 e no ínicio dos anos 70 era formada por pessoas das classes média e alta de Cuba, que se integraram facilmente à sociedade americana.

“Estas pessoas estão morrendo, mas a segunda geração, que veio para cá muito jovem ou nasceu aqui, conseguiu se firmar em altos postos na comunidade local”, afirma Suchlicki.

Os cubanos que circulam em busca da atenção da mídia no restaurante Versailles revelam os ideais dos exilados bem-sucedidos: luxuosos carros e caminhonetes exibem a bandeira dos Estados Unidos ao lado da de Cuba e, se alguns andam com colares da bandeira cubana, outros usam símbolos dos Estados Unidos, como, por exemplo, uma gravata com o desenho da Casa Branca.

“São advogados, contadores, membros da legislatura e de conselhos locais, que têm grande influência na política e na economia do sul da Flórida”, diz Suchlicki.

Muitos falam em retornar à ilha, caso o regime de Fidel Castro comece a se deteriorar após os problemas de saúde anunciados há uma semana.

“Vários deles querem visitar a ilha, outros – os mais velhos – querem comprar um pequeno apartamento e morrer ali. Um outro grupo quer ir a Cuba para fazer negócios e investimentos. Uma pequena minoria pensa em tomar conta da política cubana”, conta Suchlicki.

É este último grupo que pode enfrentar hostilidades dos cubanos que vivem na ilha, na opinião do professor.

Em Havana, muitos daqueles que apóiam o regime castrista consideram os exilados cubanos de Miami “estrangeiros” e acreditam que estejam há tanto tempo fora do país que não têm o direito de voltar para realizar mudanças na estrutura do governo.

Nesta segunda-feira, o presidente George W. Bush afirmou que o futuro modelo de governo de Cuba deve ser determinado pela população que vive na ilha antes de os exilados que vivem nos Estados Unidos exigirem seus direitos.

“Depois que os cubanos estabelecerem um governo, os cubano-americanos podem reivindicar, por exemplo, terras que foram confiscadas”, afirmou Bush. “Mas primeiramente o povo cubano precisa decidir o futuro de seu país."





Fonte: BBC Brasil

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