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Economia
Segunda - 31 de Julho de 2006 às 23:30

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O artesanato brasileiro atingiu um patamar de sucesso. Não é de hoje que estilistas reconhecem o valor de nossas rendas, fuxicos e crochês, mas o número de coleções criadas em parceria com artesãos cresce numa velocidade estonteante. Com isso, a tradição ganha uma roupagem contemporânea, e agrega valor ao produto final, dando-lhe uma identidade brasileira. Este casamento é hoje um senhor negócio.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tem papel fundamental nesse processo. São inúmeros os projetos de capacitação com estilistas e designers, pelo Brasil afora. "Valorizar o artesanato e a cultura local é o caminho para a diferenciação e o sucesso do negócio", fala a consultora do Sebrae, Else Quintais. "Não há nada que represente mais a confecção brasileira do que a renda."

Quando o assunto estava bem longe do circuito fashion, há 20 anos, o designer Renato Imbroisi foi um pioneiro. Começou trabalhando, na década de 80, com um grupo de mulheres tecelãs, no povoado de Muquém, Minas Gerais, e não parou mais. Hoje, tem parcerias em pelo menos 12 Estados do Brasil. Só no Distrito Federal, trabalha com 20 comunidades. Na criação de acessórios, ele não só reforça o valor do trabalho artesanal como faz questão de utilizar símbolos que resgatem a identidade cultural de cada lugar. "Consigo ver como a vida dessas pessoas mudou. As mulheres se transformaram em pequenas empresárias.

Não há mais a relação injusta com os intermediários, elas aprenderam a se posicionar no mercado e muitas exportam."

A projeção internacional estende-se a ele próprio: tamanha a relevância de seu trabalho, que Imbroisi foi convidado para dirigir oficinas de artesanato em Moçambique, na África. Uma das parcerias se deu nas entranhas do Mato Grosso do Sul, no povoado de Coxim, Pantanal. Pela iniciativa de Marlene Barbosa Mendonça, de 63 anos, a comunidade ribeirinha caiu no mundo da moda. Filha de pescadores, ela viu algumas peças feitas com pele de peixe em uma feira em Cuiabá e ficou "maluca". Esse material, que seria descartado, é curtido em extratos vegetais. Depois de endurecido e tingido, vira revestimento resistente para bijus, carteiras e outras peças.

Marlene fez vários cursos para aprender as técnicas. A partir de 2002, ela passou o conhecimento para frente, não só em Coxim, mas também nas cidades de Corumbá e Miranda, do mesmo Estado. Hoje, é coordenadora da Associação Reciclando o Peixe (Arpeixe), que tem 20 funcionários e conta com o trabalho de cerca de 100 artesãos, apenas em Coxim.

Trabalho - O programa do Sebrae, feito em parceria com a Petrobras, levou o designer Renato Imbroisi para a comunidade este ano. Um dos frutos do trabalho foi a coleção Mulher Peixe, que inclui bolsas colares e carteiras. Foi usado o tema da iconografia dos índios Kadiweu, representativa no Mato Grosso do Sul. "Renato nos deu dicas importantes para usar retalhos da pele de peixe, que jogávamos fora, e trouxe novos materiais para serem combinados", conta Marlene, que hoje busca recursos para promover aulas de informática na comunidade.

Vocação rendeira - Um dos Estados que melhor consegue manter as tradições artesanais é Pernambuco. Lá, outra parceria bem-sucedida foi realizada entre o estilista pernambucano Eduardo Ferreira e as artesãs do chamado pólo agreste, que trabalham com a renda Renascença, Richelieu, crochê e tanerife. Se antes elas fabricavam apenas utilitários e os vendiam em feiras locais, hoje, participam de importantes feiras de negócios e têm contato direto com empresas.

A coleção do estilista - que inclui moda praia e lingerie, e foi apresentada na última edição da Fashion Business Rio - tem como tema a literatura de cordel. O sucesso foi tão grande que, além do mercado nacional, há compradores interessados em Milão, na Itália. Uma das comunidades envolvidas na criação dessas peças é a de Pesqueira, Pernambuco, onde a principal atividade econômica são as rendas renascença e bordados Richelieu, numa tradição passada de geração para geração, que alcança até as mãos dos homens.

Hoje, os artesãos já ampliaram a produção para peças conceituais em parceria com Eduardo Ferreira. "Ele trouxe soluções criativas, nos ensinou novas técnicas e transformou o comum em chique", comenta a coordenadora da Renarte, associação local dos artesãos, Maria Inês Barbosa, de 47 anos. Para o estilista, admirador confesso das rendas, a troca não foi menos enriquecedora. "O artesanato é muito rico como fonte de inspiração, o requinte das tramas têxteis é incrível. O seu uso está ajudando a definir a identidade da moda brasileira."





Fonte: Agência Estado

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