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Cidades/Geral
Segunda - 31 de Julho de 2006 às 09:48

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O abate de vacas no Estado vem crescendo de maneira acentuada desde 2005. Dados do CentroBoi, a Central de Comercialização da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) revelam que comparando os volumes de janeiro a abril de 2005 com 2006, a alta é de 14,11%. A diferença é de mais de 100 mil vacas.

De janeiro a abril de 2005 foram abatidas no Estado 751 mil vacas contra 729 mil bois. Nos primeiros quatro meses desse ano a diferença entre os abates aumentou. Foram 857 mil vacas contra 745 mil bois.

Já números coletados pela Associação dos Proprietários Rurais de Mato Grosso (APR/MT), revelam que de janeiro a março deste ano, Mato Grosso abateu 6 mil vacas a mais que bois e que os volumes estaduais, superam o registrado no Brasil, dentro do mesmo período e mais: as vacas mato-grossenses representaram neste mesmo período 20% dos abates de fêmeas que foram realizados no país. A base da APR/MT são os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em março, 201 mil vacas foram abatidas contra 195 mil bois. Em fevereiro, a diferença foi de 18 mil vacas a mais. Já os números nacionais do IBGE mostram que em março foram abatidos 1,13 milhão de bois, contra 1,05 milhão de fêmeas.

Esta espécie de descarte forçado ilustra a falta de liquidez que este segmento da produção agropecuária vem registrando desde 2003, quando o valor da arroba do boi começou a sofrer pressão e os custos de produção aceleraram.

De acordo com o presidente da APR/MT, Ricardo Castro Cunha, “literalmente a vaca está indo para o brejo. Esses abates em ascendência traduzem a quantas anda a crise no setor. Para um pecuarista matar suas matrizes é porque falta crédito. Matamos a nossa galinha dos ovos de ouro”, compara.

Ele explica que a “dilapidação do patrimônio”, é a única saída para se fazer frente aos compromissos do dia-a-dia. “Felizmente o pecuarista tem um comportamento mais cauteloso na hora de fazer dívidas. Não somos um segmento endividado. Quando a entrada de capital fica abaixo da necessidade, saímos vendendo boi, vaca, bezerro, para trazer dinheiro e assim, o patrimônio vai sendo dilapidado. Estamos neste ciclo desde 2003”. E acrescenta: “O principal termômetro de que o setor vai mal é o incremento no abate de fêmeas”, insiste.

CONTRAPONTO - As conseqüências do descarte pontual das matrizes não são segredos para o setor. Vai faltar bezerro a médio prazo e a taxa de crescimento do rebanho estadual será freada. Atualmente, Mato Grosso detém o maior rebanho bovino do País, com 26,08 milhões de cabeças.

O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e presidente do Sindicato Rural de Cuiabá, Jorge Pires de Miranda, concorda com a preocupação e diz “que as matrizes são a reserva da fazenda e que com a falta de liquidez para os garrotes, o pecuarista vai abrindo mão das fêmeas para girar negócios”, mas avalia este comportamento como benéfico a curto e médio prazos.

A curto prazo a destinação das fêmeas para os frigoríficos atende às questões ambientais. “Não temos como expandir novas fronteiras, ou seja, abrir novas áreas, então o abate de fêmeas, freia o crescimento dos rebanhos”, explica.

Já a médio prazo, Pires aponta que com o volume excedente de vacas sendo reduzido mês a mês, “haverá a valorização. O bezerro ganhará preço e a remuneração do criador será melhor”.

O responsável pelo CentroBoi, Luciano Vacari explica que vai chegar uma hora em que vai faltar o bezerro. “No momento, já existe uma valorização do bezerro acontecendo. O preço passa dos R$ 300 e alcança cotação de R$ 320”, aponta.

Esse ganho de preço é reflexo da redução na oferta do animal. Segundo dados do CentroBoi, de 2003 para 2004, houve aumento de 600 mil bezerros. De 2004 para 2005, o incremento desta faixa etária foi de 100 mil, e de 2005/2006, foram apenas 60 mil. Em 2005 abatemos cerca de 5 milhões de animais, e quase metade foram fêmeas”.

Vacari explica que em 2002 foram mortas 719 mil fêmeas. Em 2003 foram 1,2 milhão. Em 2004 o abate foi incrementado dentro da média de 500 mil ao mês e fechou o ano com 1,75 milhão e no ano passado, as mortes de fêmeas somaram 2,24 milhão.

Castro Cunha lembra que nos valores atuais das cotações, a diferença no preço da arroba da vaca para a do boi está em 27%, “quando a média histórica é de algo em torno de 12%. Vendemos a vaca porque o boi não está valorizado, e quanto mais vacas ofertamos, mais pressionamos o preço contra nós”, lamenta. No mercado de balcão, (venda imediata), a arroba do boi alcança na média estadual cerca de R$ 47, contra R$ 37 para a arroba da vaca. “Cada vaca que vendemos, é uma fábrica a menos de bezerros”. (Veja mais na página C2)





Fonte: Diário de Cuiabá

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