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Economia
Quinta - 13 de Julho de 2006 às 16:50
Por: Roberto Samora

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A safra 2006/07 de grãos do Brasil receberá menos investimentos já na preparação da terra e no plantio, indicam números dos setores de calcário e fertilizante, o que supõe diminuição no potencial produtivo do país antes mesmo das sementes serem lançadas, afirmaram especialistas, que esperam também redução da área plantada.

Eles apontaram que o endividamento do setor e a crise de rentabilidade continuarão pesando sobre a agricultura no próximo plantio, apesar dos programas emergenciais do governo de apoio à comercialização e das renegociações de débitos.

Os problemas financeiros dificultam a adoção de práticas agrícolas essenciais para melhoria da produtividade, como a aplicação de calcário (calagem), especialmente no Brasil, onde a maior parte das terras exige correção da acidez. A calagem também potencializa a ação dos fertilizantes.

"Há estimativas que indicam que o Brasil precisaria aplicar cerca de 70 milhões de toneladas de calcário por ano. O Brasil poderia estar produzindo 200 milhões de toneladas se aproveitasse o potencial de uso dessas práticas, tanto de calagem quanto de adubação," disse o professor da Universidade Federal de Lavras-MG (Ufla) Carlos Alberto Silva, por telefone.

A produção de grãos em 2005/06, estimada oficialmente em 119,4 milhões de toneladas, sofreu com problemas climáticos, mas ela não seria muito maior, apontou o especialista, em função dos baixos investimentos.

Dados da Abracal (Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola) indicam vendas de 17 milhões de toneladas em 2006, estáveis em relação a 2005, mas um número quase 10 milhões de toneladas menor que o de 26,45 milhões de toneladas registrado em 2004.

"O ano de 2004 foi excepcional... Mas estudos de universidades e da Embrapa indicam que a necessidade nacional de calcário é ainda muito maior," acrescentou o presidente da Abracal, Oscar Alberto Raabe.

Segundo o professor da Ufla, a maior parte da área agrícola brasileira, especialmente no Cerrado, precisa da calagem, até mais do que aplicação de adubos. "O pessoal aplica fertilizante, mas em uma terra sem correção o produto não tem a eficiência desejada, o que é um problema, porque a adubação pode representar de 20 a 50 por cento do custo da lavoura."

"Calcário está com redução de venda brutal, é um crime o que se faz na falta de correção de solo. Sementes e calcário também estão padecendo desse agravamento da crise," confirmou o diretor-executivo da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Eduardo Daher, que também aponta redução nas entregas em seu segmento.

A Anda estima que as vendas de adubo no país em 2006 voltem para os níveis de 2001, quando 19 milhões de toneladas foram comercializadas, contra 20,1 milhões no ano passado, bem abaixo do patamar recorde próximo de 23 milhões de toneladas registrado em 2003 e 2004.

DINHEIRO JOGADO FORA?

O presidente da Abracal lembrou também que, considerando o índice de acidez médio do solo brasileiro, de cada 100 quilos de adubo colocados na terra, cerca de 35 quilos não seriam aproveitados pela planta, sem calagem adequada, o que, segundo ele, acaba ocorrendo em muitas propriedades.

O diretor da Anda ressaltou que seria melhor o agricultor plantar uma menor área mais tecnificada, obtendo maior produtividade, do que tentar fazer a mesma área com menos insumos. "Plantando a mesma coisa com redução de adubação, o agricultor corre um risco maior. É mais divertido ir ao cassino e apostar na roleta."

Segundo Daher, alguns mercados como o de Mato Grosso e Goiás já "sinalizaram redução de área plantada" de grãos, o que resulta também em queda de vendas.

Ele acrescentou ainda que, mesmo que haja uma mudança positiva radical no cenário agrícola, dificilmente os setores de insumos terão possibilidade logística de atender um eventual aumento de demanda dos agricultores no segundo semestre, um argumento que reforça a previsão de que as vendas deverão mesmo cair mais este ano.





Fonte: 24HorasNews

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