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Politica Brasil
Domingo - 14 de Maio de 2006 às 09:01
Por: Adriana Vandoni

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Encontrei-me com uma amiga que há muito não via e perguntei por onde ela andava: estava com os pais em Sinop? Estava, disse-me ela, mas não se chama mais Sinop, agora o nome vai ter que mudar para “vende-se ou aluga-se”. Claro que ela estava se referindo a situação de penúria por qual passam os municípios do Estado. Ela me contou também das três horas que passou parada na estrada por causa do bloqueio dos produtores e fez o seguinte comentário: “Adriana, você sabe que minha família vive do agronegócio e está enfrentando as mesmas dificuldades, mas não posso concordar com um bloqueio indiscriminado”. Perfeito! Eis a questão. Há anos que venho escrevendo que o setor precisava se unir para gritar os seus problemas e mostrar ao Brasil as dificuldades que enfrenta para trabalhar. Mas é o setor mais desunido que conheço. Quem sabe agora com a crise pegando todos, pensava eu, agora eles se unem. Chega a ser engraçado, mas todos são presidentes. Presidentes de si, entendem? São tantas as associações que não deve ter gente suficiente para ser integrante. São associações de si pra si. Interessante é que muitas delas exercem uma rivalidade camuflada, à boca pequena, uma espécie de concorrência velada. Mas que existe, existe. Perguntei a diversas pessoas: quem está coordenando a manifestação? Já escutei mais de dez nomes de coordenadores. O que se faz ou se declara num ponto do estado difere do outro. O movimento está claramente sofrendo de uma overdose coordenativa, o que infelizmente, pode fazer com que ele perca o rumo das negociações, caia na antipatia da opinião pública e faça com que os produtores que estão hoje nas estradas, voltem para suas fazendas mais vulneráveis do que quando saíram. Esse é o risco que o movimento parece estar correndo, apesar de possuir legitimidade para acontecer. O governo Lula desgraçou com o campo. Isso é indiscutível. Além dos tropeços econômicos, seu governo financiou a insegurança ao estimular e bancar as ações do MST. Colaborou de forma especial para a confusão ambiental ao colocar Marina Silva a frente do Ministério do Meio Ambiente. Marina tem aquele pensamento maniqueísta de que não há possibilidade da coexistência da preservação e da produção. Mas eu pergunto: se não alcançarem na íntegra os objetivos que dependem das respostas do governo federal, o que vão fazer? Penalizar a população, já penalizada com a crise, com o desabastecimento? Guerrear com pedradas? Vão acabar perdendo o importantíssimo apoio da opinião pública. É bem verdade que dessa manifestação sairão quantos?, dois ou três deputados eleitos? Quando leio declarações do tipo: “a medida do governo não irá desmobilizar o protesto dos produtores” ou “vamos continuar nas estradas queimando máquinas”, fico assustada. O próprio nome já diz, são produtores rurais que estão acostumados a produzir e vender a produção, não podem em hipótese alguma, perderem a razão e passarem a agir com se fossem do MST. A imagem do produtor rural é completamente deturpada. Primeiro eram os roceiros jecas, com o estouro na produção em 80 e o início da mobilização da UDR eles passaram a ser os ricos exploradores, violentos e caloteiros. Imagem que é constantemente reafirmada pela mídia. Quantas máquinas serão queimadas? Por quanto tempo irão permanecer nas estradas, mesmo sem os bloqueios que foram proibidos pelo Juiz? É preciso estabelecer um limite para essa ação. Não estou insinuando que devam roer a corda. De forma alguma. Apenas que não se percam e acabem como naus, a deriva na beira das estradas. Um exemplo bem simples. Sabe quando um filho aparece com nota baixa e os pais o colocam sem shopping por um ano? É óbvio que em duas semanas acabam o liberando e assim vão perdendo a autoridade. Essa é minha apreensão com o rumo que está sendo desenhado pelo movimento. A finalidade não é apenas produzir deputados, mas alcançar o amparo e o respeito que merecem. Não deixem que o grito do Ipiranga se transforme em um tênue eco.




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