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Politica Brasil
Quarta - 10 de Maio de 2006 às 07:21
Por: Aline Chagas

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Maria da Penha Lino, ex-funcionária do Ministério da Saúde e da Planam, revelou à Polícia Federal e Ministério Público que 170 deputados federais estão envolvidos com o esquema de fraude licitatória na compra de unidades móveis de saúde e equipamentos médicos. Presa durante a Operação Sanguessuga, ela teria resolvido colaborar com as investigações em troca de benefício numa eventual pena.

Nenhuma autoridade da Polícia Federal e Ministério Público Federal, que teriam acompanhado o depoimento de Maria da Penha, quis falar sobre o assunto ontem, apesar de insistentemente procurados pela reportagem. A nova oitiva ocorreu na segunda-feira à noite, na sede da Polícia Federal, e durou cerca de seis horas. Além do delegado federal Tardelli Boaventura, participaram os procuradores da República Mário Lúcio Avelar e Paulo Gomes.

Segundo o advogado de Maria da Penha, Eduardo Mahon, no depoimento a ex-assessora destacou o nome dos deputados, a partir de uma lista impressa no site da Câmara, baseada no que lembra do conteúdo de um livro-caixa da Planam que contém o nome e o valor do repasse que cada um recebia da empresa.

Mahon contou que a ex-assessora conheceu como funcionava o esquema e a forma de pagamento dos parlamentares no período em que trabalhou na Planam. E que, por isso, teria se desentendido de tal forma com os patrões que acabou deixando a empresa.

De acordo com o depoimento de Maria da Penha, relatado por Eduardo Mahon em entrevista, os deputados eram o começo do esquema, com a aprovação das emendas para projetos da área de Saúde. Para a apresentação de cada emenda, os parlamentares combinavam com a Planam propinas entre 5% e 20%, dependendo do valor do bem e do deputado.

Mahon contou que Maria da Penha conhecia também detalhes de como era feito o pagamento dos deputados, através de conversas que teve com outros funcionários da Planam. De forma detalhada, a ex-servidora do Ministério da Saúde revelou que um motorista levava o dinheiro em malas até o estacionamento da Câmara Federal. Lá, os próprios donos da Planam retiravam as notas e as colocavam nas meias, cuecas e nos paletós, para conseguir passar pela fiscalização do prédio.

“Maria da Penha sabia que, depois disso, eles passavam de gabinete em gabinete, entregando a parte de cada deputado”, lembrou o advogado. Mahon garantiu que Penha não citou nomes de senadores porque o Senado era considerado “impermeável” ao esquema.

O advogado informou que Maria da Penha revelou para a Polícia Federal o local onde está guardado o livro-caixa com o nome de todos os deputados federais envolvidos. “Ela deixou bem claro que o problema não era com as prefeituras e vendedores de veículos, mas sim com o Congresso”, contou Mahon.

A ex-funcionária de Planam, segundo Mahon, indicou o nome de mais funcionários da empresa envolvidos e o local onde cada um poderia ser encontrado. Sobre os assessores dos deputados, Maria da Penha teria relatado que eles eram as “partes fracas” no Congresso, muitas das vezes usados como cobradores por ordem dos deputados, que não queriam lidar diretamente com a Planam.

Para Maria da Penha, a Planam não tinha envolvimento com a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM). José Wagner de Souza e revendedoras de carros, como a Torino (cujo dono é José Thomaz de Oliveira Neto, também cliente de Eduardo Mahon segundo a lista de advogados da Polícia Federal), foram inocentados por ela.

No depoimento, Maria da Penha frisou que não tinha uma boa relação com os donos da Planam e que, inclusive, saiu do emprego após brigar para receber os direitos trabalhistas devidos. Os depósitos identificados em sua conta seriam os valores devidos pela empresa pela rescisão contratual.

Maria da Penha prestou novo depoimento após o advogado de defesa fazer um acordo com a Polícia Federal e Ministério Público Federal. Conforme Mahon, foi proposta que se Penha conseguisse convencer as autoridades de que não tinha participação no esquema, seria incluída no Serviço de Proteção à Testemunhas. No caso de atribuírem qualquer crime à ela, mesmo pequeno, deverá ser beneficiada com a delação premiada.





Fonte: Diário de Cuiabá

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