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Meio Ambiente
Segunda - 03 de Abril de 2006 às 08:35
Por: Rodrigo Vargas

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Seu casebre remete aos barracos de favelas. A rotina de seus filhos, longe da escola e submetidos a condições de trabalho degradantes, ganhou repercussão internacional e ações governamentais “de emergência”. Seu ofício é o menos valorizado na cadeia do turismo de pesca.

O ribeirinho que habita o entorno do Parque Nacional do Pantanal é, em geral, muito pobre. E sem alternativas. Além da pesca e de raras lavouras de subsistência, a maioria sobrevive da coleta de iscas vivas – tuvira, ximboré e caranguejo – para os grupos de pescadores que procuram a região.

A renda média com a atividade – que os expõe a ataques de animais e a doenças infecciosas e parasitárias - é de menos de um salário mínimo. Nas moradias, que têm as paredes improvisadas com lonas e chapas velhas de madeira, não há esgotamento sanitário ou água tratada.

Estas informações constam das 105 páginas do diagnóstico sócio-econômico que integra o Plano de Manejo do parque. Um trabalho de campo que analisou a situação das 20 famílias ribeirinhas que habitam a área imediatamente próxima à unidade e também de 12 famílias representativas de etnia Guató (ver matéria).

“Essas famílias dispõem de condições extremamente adversas de sobrevivência, marcadas pela ausência dos serviços essenciais, tais como educação, saúde, saneamento básico, energia elétrica e transporte”, diz um trecho.

Até 2004, quando uma reportagem da TV Morena - afiliada da rede Globo no MS - denunciou a situação, precipitando uma série de ações de assistência (dentre as quais a construção de duas escolas), a maioria das crianças da região nunca havia entrado em uma sala de aula.

Entre os adultos, conforme revelou o diagnóstico, havia um baixíssimo padrão de escolaridade: 63% dos entrevistados eram analfabetos. “Ali há gerações inteiras, avós, pais, mães e filhos que não sabem ler ou escrever. São pessoas que têm um conhecimento muito grande do ambiente em que vivem, mas nunca tiveram acesso a uma educação formal”, relata Celso Tarcísio Rosso, coordenador de desenvolvimento local sustentável da ong sul-mato-grossense Ecologia e Ação (Ecoa).

Há três anos, a entidade coordena, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), uma ação que tenta auxiliar na construção de uma nova realidade à beira dos rios do Pantanal. O Projeto Isqueiros chegou às comunidades da serra do Amolar no final de 2005.

Ali foi construída uma base de apoio com 122 metros quadrados que irá abrigar iniciativas que contemplam desde a melhoria das condições de saúde (à exceção de algumas atividades pontuais da Marinha, não há atendimento regular) até a capacitação dos ribeirinhos para atividades de fiscalização ambiental e atendimento ao turista.

“As denúncias da imprensa ajudaram a tirar a região do abandono completo. Mas ainda falta muito. É preciso construir alternativas para estas famílias”, avalia o coordenador, que considera inclusive a possibilidade de manutenção da coleta de iscas. “É possível melhorar a eficiência da atividade e reduzir as perdas. Depois, o objetivo é avançar, com o apoio da Embrapa, para a criação em cativeiro”.

Para Rosso, outro importante objetivo é aproveitar os conhecimentos tradicionais dos ribeirinhos em atividades que promovam a conservação dos ambientes do entorno e mesmo no interior do parque nacional. “Queremos utilizar toda esta experiência ribeirinha em benefício da conservação”.





Fonte: Diário de Cuiabá

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