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Meio Ambiente
Segunda - 03 de Abril de 2006 às 08:16
Por: Rodrigo Vargas

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Nascidos nos mananciais do médio-norte mato-grossense, os rios Cuiabá e Paraguai descrevem trajetórias que, a princípio, parecem buscar o afastamento. Quando atingem respectivamente as cidades de Barão de Melgaço e Cáceres, a distância em linha reta entre os dois cursos d’água é de mais de 180 quilômetros.

A partir daí, no entanto, suas águas tomam novo rumo, e se lançam no caminho de um magnífico encontro. Ao seu redor, fazem transbordar de vida os campos, alimentam uma complexa rede de corixos, revigoram as baías e dão forma e conteúdo a um dos mais importantes cenários naturais do planeta.

Na confluência destes dois rios (ver mapa) está localizado o conjunto de áreas protegidas que a Conferência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu como Patrimônio Natural da Humanidade em 2000.

Com mais de 190 mil hectares, o Parque Nacional do Pantanal – que completa 25 anos em setembro – e as reservas particulares Acurizal, Dorochê e Penha são amostras impressionantes da beleza natural e da diversidade de espécies do bioma.

Um lugar que o biólogo e doutor em ictiologia José Augusto Ferraz de Lima, há seis anos na chefia do Parque Nacional, classifica como único, inigualável, mesmo quando comparado a outras atrações da planície pantaneira.

“Hoje eu vejo o pessoal falar: o Pantanal é patrimônio da humanidade. Não é o Pantanal. É essa área aqui. O parque e as áreas protegidas do entorno são o que se tem de mais grandioso no mundo em relação às áreas contínuas de inundação de água doce”, afirma.

Grandiosidade é a palavra. Da imensidão de baías como a dos Porcos e a da Gaíva, à imponência das formações da serra do Amolar – que se erguem a mais de 900 metros -, tudo na região parece expressar, de forma eloqüente, a necessidade de respeito, pesquisa e preservação.

Com seus 135 mil hectares integralmente dentro do município de Poconé, o Parque Nacional representa a maior e mais importante iniciativa neste sentido. Foi criado em 1981 sobre parte da antiga Reserva Biológica do Caracará - em terras pertencentes a uma antiga fazenda de pecuária extensiva.

Em contraposição ao Parque Nacional de Chapada dos Guimarães - que tem mais de dois terços de sua área vinculados a proprietários não-indenizados – sua demarcação é integralmente regularizada e livre de conflitos com vizinhos.

Outra grande diferença é que a unidade pantaneira nunca esteve aberta à visitação – condição que se pretende alterar já a partir deste ano, com a promessa de uma série de investimentos em infra-estrutura, proteção ambiental e apoio aos visitantes.

Isso não significa que não existam problemas a enfrentar. Além do fogo, resultado de manejo incorreto por parte de proprietários rurais da região, o parque sofre com a ação de caçadores e, com maior freqüência, de pescadores ilegais vindos de Poconé, Corumbá (MS) e até dos vizinhos Bolívia e Paraguai.

Há ainda o transporte de cargas pela hidrovia Paraguai-Paraná, em comboios que, com tamanho em geral incompatível com a largura e a sinuosidade do rio, causam danos às margens, à cobertura ciliar e a própria dinâmica das águas da região.

O maior risco, contudo, fica muito distante dos marcos divisórios do Parque, em cidades como Cuiabá, Várzea Grande e Cáceres, que despejam lixo e rejeitos sem tratamento nas águas dos dois rios, e nas áreas de agricultura intensiva do médio-norte, que causam o assoreamento e afetam as nascentes.

Diante do fracasso do Programa Pantanal, e das pressões econômicas por que passa o país, dar resposta a todos estes desafios é tarefa para mais de uma geração. Mas não há dúvida de que ela precisa começar agora. Grandioso, o Pantanal é também frágil. Não pode esperar.





Fonte: Diário de Cuiabá

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