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Politica Brasil
Quarta - 15 de Março de 2006 às 15:15
Por: Wilson Lemos

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Não são poucos os atentados contra nossa língua, em que pese a vigilância daqueles que a defendem. Nada escapa às constantes investidas de seus agressores. Esses inimigos do vernáculo têm verdadeira ojeriza à leitura e fogem dos livros como o diabo da cruz. No máximo folheiam jornais, pois não conseguem ir além das manchetes. Pois são esses que desconhecendo nosso idioma e desrespeitando as regras mais comezinhas da gramática, saem por aí zurrando e mordendo a língua portuguesa.

Deixemos de lado, por ora, os erros de grafia e os tropeções de concordância, e vamos assinalar certas expressões e cacoetes de linguagem que se tornaram comuns pelo uso freqüente. Quase todo dia ouvimos pelo rádio e tv e lemos nos jornais e revistas a notícia de um “acidente com vítima fatal”. Pouca gente percebe a mancada: fatal é algo que mata. A pobre vítima nada tem de fatal, pois não mata ninguém.A coitadinha simplesmente morre. Fatal é o acidente.

Há também aqueles que escorregam na maionese empregando o verbo extorquir.Nesses dias de mensalão e propinodutos vários, virou moda denunciar casos de extorsão. Câmeras, microfones e jornais divulgam com estardalhaço a prática desse crime. Mas, no frigir dos ovos, a maior vítima é sempre a nossa pobre língua quando alguém berra ou escreve a manchete: “O fiscal tentou extorquir o comerciante”. Pisou no tomate. Segundo nos ensina o pai dos burros, extorquir significa adquirir, obter por meio de violência ou ameaça. Assim, o objeto da extorsão não pode ser a vítima, mas aquilo que se quer arrancar dela: “O fiscal tentou extorquir dinheiro do comerciante”.

Temos ainda as expressões “ao encontro” e “de encontro”, que são frequentemente usadas de modo errado.Do alto do palanque o candidato afirmava: “Minha candidatura vai de encontro à vontade do povo”. Queria dizer que a candidatura correspondia aos reclamos da população. Na tribuna, um empolgado vereador garantia: “Este meu projeto vai de encontro aos interesses da comunidade”. Morderam a língua. De encontro significa opor, bater, chocar-se com, colidir: “O carro, desgovernado, foi de encontro ao muro”. Nos casos do candidato e do vereador, o correto seria: ao encontro da vontade do povo; ao encontro dos interesses da comunidade.

Risco, entre outras coisas, quer dizer perigo. Com freqüência ouvimos que o paciente corre risco de vida. Ora, esta é mais uma mordida que se dá na língua. Ninguém corre risco de vida.

O paciente, coitado, corre risco de morte. Como corre o risco de não encontrar o caminho de casa, quem não indica de modo correto onde reside: “Maria, residente à Rua Amazonas”. Nem pensar. A gente reside em alguma rua. O adjetivo residente não aceita a preposição a. Por isso, usa-se na: “Maria, residente na Rua Amazonas”.

Nem sempre o pronome onde é usado do modo certo. Há quem o empregue indevidamente no lugar de quando: “O ponto alto da campanha é o debate, onde o candidato pode mostrar melhor seus conhecimentos”. Onde só indica lugar físico: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. O poeta da Canção do Exílio sabia que o sabiá cantava em um lugar – as palmeiras. Debate não é lugar. A frase correta seria: “O ponto alto da campanha é o debate, quando o candidato pode mostrar melhor seus conhe-cimentos”.

A conjunção enquanto também é vítima dos que mordem nossa língua. Virou modismo empregá-la erradamente.“ Não permito, enquanto governador...”. “O Brasil, enquanto nação livre, não se curvará...”.Enquanto tem como função ligar orações, verbo com verbo, indicando a ocorrência simultânea de ações: “Você dormia enquanto eu vigiava”; “Enquanto você fala eu escuto”. Morde a língua quem usa enquanto no lugar de “como” ou das locuções “na condição de”, “na qualidade de”.

Mas... Por que esta garimpagem de erros, de agressões à nossa língua? Por nada. Longe de mim, senhores, qualquer veleidade de filólogo ou de zeloso defensor da integridade do vernáculo. Nenhum interesse por um lugar entre os paladinos da pureza da lingüística. Da parte deste pobre trabalhador braçal das letras e bisonho analfabetizado, apenas a tentativa de um texto diferente com um quê de humor sem graça. Uma mera brincadeira, como este último parágrafo sem verbos.

(Wilson Lemos – E-mail: wfelemos@terra.com.br





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