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Internacional
Segunda - 13 de Março de 2006 às 13:29
Por: Jon Boyle

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As revoltas estudantis que ocorrem na França costumam bombardear as ambições de políticos conservadores, e o primeiro-ministro Dominique de Villepin enfrenta o perigo de sofrer o mesmo destino de antecessores dele.

No domingo, ele defendeu com veemência o projeto de contrato de trabalho CPE, que, segundo o governo, incentivará a contratação de jovens e que, segundo a oposição, aumentará a insegurança dos trabalhadores.

O projeto mobilizou as universidades do país e levou até 1 milhão de manifestantes para as ruas.

No final de semana, pela primeira vez desde maio de 1968, a polícia antimotim usou bombas de gás lacrimogêneo para expulsar estudantes da Universidade Sorbonne, em Paris.

A Sorbonne foi o local de nascimento do levante estudantil e operário que paralisou a França e acabou abrindo caminho para a derrubada do presidente Charles de Gaulle. O dirigente deixou o cargo após perder um plebiscito realizado um ano mais tarde.

O paralelo entre os dois momentos limita-se, por enquanto, aos escritórios saqueados e às pichações nas paredes. Mas ninguém prevê por enquanto o fim do conflito ou quem sairá mais prejudicado dele.

Villepin criou o contrato de trabalho para empregados jovens na esperança de incentivar a contratação de pessoas mais novas e diminuir a taxa de desemprego nessa camada da população, taxa essa que chega a 23 por cento atualmente.

Uma oposição antes discreta ao plano ganhou força repentinamente na semana passada e agora os comentaristas prevêem que as manifestações acabarão com as chances de Villepin de concorrer à Presidência do país em 2007.

"Ele entrou em um jogo no qual perde de qualquer forma. A meta para ele agora é perder o menos possível", afirmou Christophe Barbier, vice-editor da revista L''Express.

Mesmo que o dirigente vença o atual impasse, os manifestantes podem se vingar dele nas urnas: "Villepin verá pesquisas com resultados negativos durante um ano. Mas ele precisa de pesquisas positivas e de bons resultados a fim de apresentar-se como um candidato viável à Presidência."

TRADIÇÃO DE CONFLITOS

Os políticos conservadores da França já caíram muitas vezes diante das manifestações de estudantes.

O episódio mais recente do tipo aconteceu em maio de 2003, quando manifestantes minaram o plano do então ministro da Educação do país, Luc Ferry, de conceder mais autonomia às universidades. Ferry acabou perdendo seu cargo em uma reforma ministerial realizada mais tarde.

Em 1986, um outro conservador tentou reformar as universidades e provocou distúrbios. A crise atingiu um clímax violento quando o estudante Malik Oussekine morreu após ser espancado por policiais durante uma manifestação.

No dia seguinte, o governo desistiu do projeto de lei e o então ministro da Educação, Alain Devaquet, renunciou.

Menos de uma década mais tarde, um primeiro-ministro conservador, Edouard Balladur, viu-se obrigado a desistir de uma polêmica lei que previa o corte do salário recebido por jovens contratados como estagiários.

O revés sofrido por Balladur aconteceu apenas um ano antes de eleições presidenciais nas quais aparecia antes como favorito. Ele acabou ficando em terceiro lugar.

Segundo comentaristas, se Villepin perder a atual disputa com os estudantes, poderá levar com ele Nicolas Sarkozy, ministro do Interior do país e que também deseja concorrer à Presidência francesa pelo bloco conservador.

Esse cenário pode beneficiar os socialistas.





Fonte: Reuters

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