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Politica Brasil
Sábado - 11 de Março de 2006 às 09:19
Por: Adriana Vandoni

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Lamentável a desmoralização da Câmara Federal, desmoralização consentida e cometida pelos próprios parlamentares. Diante de tantos escândalos, sei que seria muito pedir ética, mas um mínimo de vergonha na cara não seria pedir muito. Eram para estar com vergonha, aliás, eram para ser apontados nas ruas por todas as pessoas de bem.

Pra que serve o Conselho de Ética? Ora, desde a absolvição do deputado Mabel na câmara já era possível supor que tudo acabaria nessa vergonhosa situação. Se a acusação que lhe pesava era a tentativa de cooptação da deputada Raquel e ele foi absolvido, então ela deveria ser cassada por ter faltado com o decoro. Depois veio a absolvição de Pedro Henry no Conselho de Ética, por não ter sido pego recebendo dinheiro do Valerioduto. Faltaram provas, disseram eles e o parecer do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), encarregado de redigir um novo parecer quando o relatório do dep. Orlando Fantazzini (PSOL-SP), à favor da cassação, foi derrubado no Conselho de Ética. Faltaram provas?, se esquecendo que no início dos acertos do mensalão nosso nobre deputado era o líder do PP na câmara, um partido envolvido até o pescoço com o mensalão. Será que Henry é ingênuo à ponto dos seus liderados tramarem tudo isso sem o seu conhecimento? Provas, provas, que provas, deputado Sampaio? Se é isso o que se busca, nosso ministro da Fazenda já estaria preso! O que está em jogo é muito mais que isso, é a Honra de um poder público. Pelo menos a sociedade almeja isso.

Acontece que de tanto cometerem delitos, esses nobres transgressores já perderam a noção do que seja dignidade e honradez. O que lhes interessa é garantir o seu quinhão para a campanha que se aproxima. Alguns podem dizer que existem os de bem, os que não estão com a consciência comprometida. Sim, existem esses gatos pingados. São raras pérolas em um chiqueiro.

Como disse a cientista política Lucia Hipólito: "A Câmara está dando uma 'banana' para o eleitor bem informado, crítico, rigoroso, que quer um comportamento rigoroso dos seus representados. Está dizendo para o Brasil inteiro o seguinte: queremos o voto dos desinformados, dos desassistidos, o voto clientelista, de cabresto. É inclusive desrespeitoso com essas populações, que realmente trocam o voto por um emprego, porque são despossuídas de tudo”.

É a consagração da boçalidade.

A Câmara, seguindo seus instintos, está imbecilizando e emporcalhando este país. Será que isto é mesmo uma democracia? Será que delinqüir e ser absolvido por colegas, é democrático? Nossa reprovação é através do voto, sei disso, mas não podemos nos esquecer que grande parte da população brasileira vive apenas o presente, pois o governo não lhes garante um futuro e o seu passado nada tem de glorioso. Nosso povo decide seu voto baseado em esmolas oficiais, da mesma forma como se deixava influenciar pelos coronéis políticos. E assim se dará a campanha de Lula e dos imorais aliados, claro, já que viram que não existe punição.

É preciso que haja por parte da população uma grandiosa rejeição aos atuais parlamentares. É preciso renovar e apagar essa gente que está ai. Precisamos fazer alguma coisa que abra os olhos dos menos atentos para essa porcaria que a Câmara está nos jogando na cara.

Diante de tanta imundice, patrocinada por um governo de um ex-operário, me veio a lembrança de um texto do anarquista russo Mikhail Bakunin, morto em 1876. Bakunin disse que por qualquer ângulo que se olhe, chega-se ao mesmo resultado execrável: “o governo da imensa maioria das massas populares por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ e articulista de A Gazeta, escrevendo às quartas, sextas e aos domingos. E-mail: avandoni@uol.com.br





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