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Politica Brasil
Quinta - 09 de Março de 2006 às 16:53
Por: Dra. Lou de Olivier

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Antes de qualquer comentário, devo dizer que vivemos numa sociedade que prega a monogamia e somente por isso essa matéria justifica-se. Se vivêssemos numa sociedade que aceitasse a poligamia, certamente os parâmetros para analisar este assunto seriam totalmente diferentes.

Antes de definir o que é amar demais e o que é amar de menos, é preciso definir o que é amar:

Amar é colocar em prática um dos sentimentos mais complexos que o ser humano pode experimentar. O amor que, na verdade, deve ser um sentimento desprendido, desejando a felicidade do ser amado, ainda que com outra pessoa ou seguindo um caminho que não traçamos para ele. Neste raciocínio, talvez o amor mais verdadeiro seja o dos pais pelos filhos e, especialmente, das mães por suas crias. Aquele amor desprendido, que faz com que a mãe busque para si, o sofrimento que caberia ao filho, o dar a vida pelo outro, abrir mão da própria felicidade pela felicidade do filho. O verdadeiro amor universal é assim.

Seria pedir muito que o amor entre casais fosse tão desprendido, então estipula-se que o amor entre duas pessoas seja um compromisso de troca, de aprendizado mútuo. A partir daí, nasce a cobrança: “se te dei algo, o que me dará em troca?”

Também, na vivência do amor, associa-se a amizade, o companheirismo, a cumplicidade, o que torna o casal parte de um todo, juntos são, ou deveriam ser, completos. Mas, como na prática, a teoria é outra, o que um dia serviu para fortalecer a união, será o maior argumento para destruir o outro num processo de divórcio, por exemplo, principalmente se houver disputa pela guarda dos filhos. Neste caso, todos os segredos compartilhados servirão como armas para vencer esta guerra.

Há ainda um motivo que torna o amor muito prazeroso, o sexo. Este ato que, de tão íntimo, pode até ser praticado sozinho, vem temperar o que se chama de amor. E, nesta mistura de sensações, cria-se inúmeras variações, todas com seu lado bom e seu lado ruim.

As relações iniciam-se das mais variadas formas, mas há duas mais comuns: a) pela atração física, pessoas aproximam-se, conversam e identificam-se ou não;

b) pela identificação intelectual em chats pela Net ou fone, também há aproximação e posterior compatibilidade ou incompatibilidade física. Estipulado o início da relação, esta pode tomar os mais diversos caminhos. Há quem parte para o namoro mais sério, há quem só “fica”, existe ainda a amizade colorida que estipula uma mistura de sexo e amizade, sem compromisso e sem futuro. E mais uma série de formas de relação.

Somente ai, começamos a definir quem ama demais e quem ama de menos. Amam demais pessoas que misturam-se simbioticamente aos parceiros, passando a viver a vida deles, perdem seu centro, suas próprias referências, sua vida e apenas vivem em função do outro, de prender o outro a si e se prender ao outro. Também pode ocorrer de alguém estando muito apaixonado, entrar no jogo do outro, como por exemplo, numa amizade colorida em que um não quer compromisso e o outro só entra para tentar conquistar o “fujão”. Então, passa a violentar-se para manter uma relação que não lhe satisfaz, apenas esperando que, um dia, o outro se deixe conquistar. Também estão neste caso, todas as pessoas que aceitam uma relação que não lhes convém, apenas para ter o outro junto a si.

Nestes casos o que há não é amor de fato, mas sim, uma mistura infantil de egoísmo, insegurança, medo, controle, insatisfação, o que gera a possessividade e, em segundo plano, a necessidade de “prender” o outro a si, ainda que o outro não tenha a mínima intenção disso.

O outro lado dessa mistura infantil de egoísmo, insegurança, medo, controle e insatisfação, pode gerar o contrário da possessividade que é o descaso, uma espécie de narcisismo que faz com que o indivíduo não ame a ninguém além de si mesmo.

Então pode-se dizer que estas pessoas amam de menos. Daí surgem as amizades coloridas de comum acordo, mistura de sexo e amizade que só servem para passar o tempo. Afinal, falta o principal que é a troca, a responsabilidade, o compromisso. Sem esses fatores nenhuma relação se fortalece. Pessoas que envolvem-se nestas relações devem ter em mente que é algo passageiro, despretensioso e que, se um dia, quiserem algo mais estruturado, deverão procurar em outras pessoas, pois já terão desgastado qualquer possibilidade de estruturar suas relações atuais. Detalhe importante: desde que as pessoas tenham essa consciência, nada as impede de curtir uma relação descompromissada. O que não dá para admitir é que uma das partes entre consciente e a outra crie uma expectativa de que, cedo ou tarde, irá amadurecer esta relação. Neste caso, o desequilíbrio de expectativas irá fazer um ou ambos sofrerem muito. Também se incluem no tipo que ama de menos, as relações em que um (ou ambos) vive às voltas com vários (as) amantes ou até quem vive em celibato sem nenhum motivo aparente e desde que não tenha nenhum vínculo religioso.

Ainda há os casos combinados, quando uma pessoa que precisa de várias amantes une-se a alguém extremamente altruísta e desprendido que não o “pune” por esses “deslizes”, ou pessoas que sentem-se muito bem em relações descompromissadas, etc. Mas, neste ponto, todo cuidado é pouco, pois o altruísta extremo pode, de repente tornar-se um grande tirano e as relações descompromissadas podem, por exemplo, ter uma camisinha furada ou algo que acabe prendendo os amantes que, na verdade queriam apenas diversão. E, se o resultado for um filho não planejado, a diversão pode sair bem mais cara do que se previu.

Em maior ou menor grau, todos os casos citados necessitam de terapia, pois podem ter as mais variadas causas e vários desfechos, dependendo do tratamento escolhido. Meu livro: “Acontece nas melhores famílias” discorre sobre esse e assuntos correlatos.

Numa próxima oportunidade, falaremos sobre: “A paixão e suas razões” e “monogamia X poligamia”.

Dra. Lou de Olivier – Psicopedagoga e Multiterapeuta www.loudeolivier.com.br





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