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Cultura
Sexta - 03 de Fevereiro de 2006 às 19:36

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A trágica história de Lina, a espanhola que se casou com Serguei Prokofiev, seguindo-o para a antiga URSS e acabando em um campo de prisioneiros stalinista, inspirou uma nova versão de "Cinderela, do compositor russo, que o Balé do Teatro Bolshoi de Moscou acaba de estrear. A Cinderela é Lina, escreveu em seu diário o próprio compositor.

O coreógrafo Yuri Possokhov e o diretor artístico Yuri Borissov se basearam nesta confissão íntima para dar forma a uma nova versão de Cinderela, balé escrito em 1944, no qual Prokofiev refletiu toda a sua angústia diante da situação em que sua família vivia na época.

"A história, e não a fábula, nos serviu como ponto de partida. A música foi escrita em um momento difícil para Prokofiev, após seu retorno para a antiga URSS e em plena época stalinista", explicou Possokhov.

Esta preocupação é ressaltada na nova produção pelo cenário surrealista, com objetos em grande escala como enormes relógios sem ponteiro, sobrepostos em um fundo negro, e uma coreografia na qual foram incluídos os "adágios" líricos nos quais Cinderela e seu príncipe transmitem a sensação de uma felicidade efêmera.

"Decidimos lançar luz sobre a vida privada de Prokofiev e mostrar a enorme força vital de Lina", destacou Borissov.

O compositor deixou o território russo após a revolução bolchevista de 1918, retornando em 1936 com sua família: a mulher Lina e os dois filhos do casal.

Em 1941, Prokofiev abandonou Lina, que foi detida em 1948 e condenada a 20 anos em um campo de trabalhos forçados do regime de Stalin, sob a acusação de espionagem.

No entanto, Lina sobreviveu ao compositor, que morreu em 5 de março de 1953, no mesmo dia em que Stalin. Foi libertada em 1956, deixou a Rússia em 1974 e morreu em 1989 em Londres, aos 92 anos.

A versão da Cinderela que desde quinta-feira é apresentada no famoso teatro moscovita tem pouco a ver com a primeira versão do balé de Prokofiev, encenado pelo Bolshoi em 1945, pouco depois da Segunda Guerra Mundial.

"Era uma história simples com um cenário grandioso, segundo o gosto da estética stalinista", lembrou a crítica Tatiana Kuznetsova. Nesta versão - que contou com o beneplácito de Prokofiev - a Cinderela foi interpretada pela bailarina mais famosa da época, Galina Ulanova. A Cinderela atual, interpretada pela primeira bailarina do Bolshoi, Svetlana Zakharova, não teme comparações com sua antecessora.

"Este espetáculo nada tem a ver com a encenação anterior do Bolshoi e minha Cinderela tampouco tem nada a ver com o personagem criado para Ulanova", afirmou Zakharova, famosa por sua perfeição técnica.

Por ser a protagonista da nova versão da obra de Prokofiev, a estrela russa recusou recentemente um convite para dançar no Scala de Milão (norte da Itália), para interpretar também a Cinderela, mas em uma coreografia criada por Rudolph Nureiev.

"Recusei-me a dançar no Scala porque outras bailarinas já interpretaram as coreografias de Nureiev. Considero mais importante participar do novo balé criado para mim", explicou Zakharova, que além da Cinderela interpreta a empregada de Prokofiev.

A coreografia de Possokhov, um ex-bailarino do Bolshoi que fez sucesso no Ocidente e atualmente dança em San Francisco, é clássica, mas com toques modernos.

"O coreógrafo nos pediu para que nossos corpos estivessem relaxados e que nossos movimentos fossem livres. A princípio foi problemático", reconheceu Serguei Filin, que interpreta o príncipe.

"Meu objetivo é demonstrar que cada príncipe merece sua Cinderela e vice-versa", explicou Filin, que garantiu expressar com sua interpretação "o amor e uma forte atração sexual".




Fonte: AFP

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