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Internacional
Segunda - 30 de Janeiro de 2006 às 23:00

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O primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, iniciou hoje os primeiros contatos dentro e fora do país para solucionar a crise diplomática e econômica provocada com o mundo islâmico, mas não pediu desculpas por algo que não considera de sua incumbência. A causa da polêmica foi a publicação, no jornal Jyllands-Posten no último dia 30 de setembro, de 12 charges do profeta Maomé consideradas ofensivas no mundo islâmico, fato pelo qual a publicação e o Governo se negaram a desculpar-se, alegando que a veiculação dos desenhos faz parte da liberdade de expressão.

Cinco dias depois do início da crise, Rasmussen, até agora aparentemente à margem do assunto, entrou em contato hoje com os presidentes da Comissão Européia (CE, órgão executivo da União Européia), José Manuel Barroso, e da UE, Wolfgang Schüssel. Ele também contactou o chefe da principal entidade empresarial dinamarquesa e com outros líderes empresariais do país que tinham reivindicado que o Governo dialogasse com o mundo islâmico.

Rasmussen anunciou uma iminente convocação da comissão de Exteriores do Parlamento, enquanto seu ministro para esta área, Per Stig Moeller, levou o caso à reunião com seus colegas em Bruxelas, em meio a um aumento das negociações diplomáticas no mundo islâmico.

Estas medidas permitiram ao Governo uma trégua da oposição, que tinha criticado a "passividade" do Executivo e a insistência de Rasmussen. Apenas o ultradireitista Partido Popular, habitual aliado governista, incentiva o primeiro-ministro a não se dobrar diante dos países islâmicos.

Em um país que costuma respeitar a liberdade de expressão, não se questionam os direitos do jornal, mas Rasmussen foi criticado por duas coisas: ter rejeitado uma reunião com os embaixadores islâmicos há dois meses, quando o problema era uma questão dinamarquesa, e por não ter uma postura de diálogo agora.

Em declarações à rede de televisão TV2, Rasmussen insistiu hoje que o Governo não tem "nenhuma opinião" sobre as caricaturas e que não pode pedir desculpas "por algo feito por um jornal". Além disso, ressaltou que defenderá a liberdade de expressão e os direitos fundamentais da sociedade dinamarquesa.

O primeiro-ministro disse que não se arrepende da atuação do Governo na questão e afirmou que trabalha sem descanso no terreno diplomático para solucionar o problema, que classificou como "muito grave" e que, segundo ele, obedece às diferenças culturais entre duas sociedades distintas.

Embora a CE e a UE tenham apoiado oficialmente hoje o Governo dinamarquês, o conflito continua ganhando repercussão fora do Oriente Médio e chegando a países como o Paquistão.



Desde que a Arábia Saudita retirou sem avisos prévios seu embaixador de Copenhague, na última quinta-feira, Kuwait e Líbia tomaram a mesma medida, enquanto outros seis países se queixaram das charges e a Organização da Conferência Islâmica (OCI), integrada por 57 nações, convocou protestos pacíficos.

Além disso, grupos radicais palestinos queimaram bandeiras dinamarquesas e ameaçaram de morte cidadãos de um país que, desde a subida ao poder da coalizão liberal-conservadora de Rasmussen, em 2001, apoiou restrições na questão da imigração e uma política externa pró-americana, enviando tropas ao Iraque e ao Afeganistão.

As ameaças fizeram com que a Cruz Vermelha Dinamarquesa retirasse seus três trabalhadores no Iêmen e na Faixa de Gaza. O Ministério de Exteriores norueguês também retirou seus voluntários da região palestina.

A Noruega também foi atingida pela crise, mas de forma muito mais secundária, já que o Governo ordenou, há algumas semanas, que seus embaixadores se desculpassem por causa da reprodução das charges, no início de janeiro, na revista cristã norueguesa Magazinet.

A crise também tem uma dimensão econômica, com o crescente boicote aos produtos dinamarqueses nos países islâmicos.

A Dinamarca exporta anualmente 675 milhões de euros em produtos ao Oriente Médio - a metade para a Arábia Saudita -, apenas 1% do conjunto das exportações dinamarquesas, embora companhias como o poderoso consórcio lácteo sueco-dinamarquês Arla Foods estejam sendo seriamente afetadas.

A Arla, que denunciou agressões a dois distribuidores na Arábia Saudita, fechou temporariamente uma fábrica saudita, paralisou um investimento de 54 milhões de euros na região e insinuou que as perdas podem se traduzir em redução dos empregos na Dinamarca.





Fonte: EFE

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