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Politica Brasil
Quarta - 25 de Janeiro de 2006 às 07:28
Por: Adriana Vandoni

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Até a década de 60, Mato Grosso e todo o Centro Oeste eram nada mais que uma terra de índios coberta por floretas, que se localizava nos fundos do Brasil desenvolvido e civilizado. Isso graças ao modelo getulista de industrialização e a gana em romper com o poder exercido pelos cafeicultores de Minas e São Paulo.

Isso começou a mudar em 60 com a construção de Brasília e a interiorização do desenvolvimento. Em 70 houve novo impulso para a região. Seguindo a estratégia militar de “integrar para não entregar”, levas de pequenos agricultores, atraídos por uma série de facilidades como concessão de terras e financiamentos oficiais, vieram tentar a sorte na região. O jornal Folha de SP noticiou em outubro de 1970: “Medici aplaudiu entusiasticamente a derrubada, em plena selva amazônica, ontem, de uma árvore de mais de 50 metros de altura, simbolizando assim a transposição de mais um obstáculo à construção da Rodovia Transamazônica”. Se fosse hoje ele estaria preso sem direito a fiança, mas, enfim, isso fez com que a região crescesse mais que o dobro da média brasileira.

Ufa! Passamos a existir! Porém, atrás da expansão agrícola e do nítido potencial de crescimento, das vantagens climáticas e da privilegiada posição geográfica, vieram as campanhas difamatórias e Mato Grosso deixou de ser uma terra de índios coberta por floretas, para se transformar em uma terra onde vivem brancos inescrupulosos e violentos, que matam os índios, plantam veneno, criam gado a custa do trabalho escravo e devastam as florestas, logo, Mato Grosso é o responsável por catástrofes como o furacão Katrina que devastou Nova Orleans. Claro que em Mato Grosso existem bandidos, safados, corruptos, no entanto, o Rio que inundou Nova Orleans não foi nenhum dos nossos Rios, mas o Mississipi que teve todo o seu curso alterado com a construção de canais para facilitar a navegabilidade, onde as lavouras estão presentes até nas margens e as matas ciliares inexistem em quase toda sua extensão. E quem fez isso? Foi Mato Grosso? Claro que não. Por mais incrível que pareça, quem fez isso com o Mississipi são os mesmos que hoje financiam ONG’s multinacionais que vivem a atazanar o desenvolvimento de Mato Grosso.

Infelizmente essa é a imagem que algumas organizações ambientais entranham em parte da mídia e nas pessoas que vivem de costas para o nosso progresso e para a nossa realidade, mas que se beneficiam da nossa produção. Estou cansada disso!

O agronegócio passou a ser um palavrão usado de forma pejorativa por grupos que possuem um fundamentalismo ideológico ignorante e que se utilizam dele para fazer palanque. Insatisfeitos com a descoberta de que no Brasil, com exceção da Zona da Mata de PE, onde usinas quebraram e do Sul da Bahia onde o cacau foi dizimado pela vassoura da bruxa, não existem mais latifúndios improdutivos. Criaram então o “latifúndio produtivo” que de acordo com a explicação do Frei Sérgio Antônio Görgen, deputado estadual (PT/RS): “mesmo que comprove produtividade econômica - é socialmente improdutivo. Não produz distribuição de renda: concentra. Não produz comida para a mesa do povo brasileiro: o pouco que se acha é monocultura de exportação. Não produz dinamismo econômico local nos municípios onde se localiza: suga-os. Não produz empregos: ostenta luxo. Não produz vida digna para o povo: é uma usina geradora de miséria. Não produz uma sociedade justa e democrática: serve ao poder de uma oligarquia atrasada”.

No final do ano passado, a revista Veja, publicou no dia 14 de dezembro a matéria: "Pantanal – Um paraíso em perigo" e na edição de 28 de dezembro: “O ano em que a Amazônia começou a morrer” e o subtítulo: “A peleja da economia contra a ecologia”. Mas não fazem uma matéria mostrando que Mato Grosso é um dos Estados lideres no Brasil em recolhimento de embalagens de agrotóxicos vazias. Nem dizem que recolhe tanta quanto os Estados Unidos inteiro que coloca 7 vezes mais embalagens no mercado que o MT, segundo informações do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias.

É chegada a hora de colocarmos um ponto final nessa deturpação e generalização. Volto a dizer que em Mato Grosso existem safados, bandidos, imbecis e corruptos, como em todos os cantos do mundo, até na capital federal. Mas Mato Grosso não se resume a isso.

Essa imagem ignorante e a ação de ONG’s que cooptam inocentes verdes, muitas vezes bem intencionados, mas que não sabem a quem estão servindo, está comprometendo a desenvolvimento do estado e a transição de potência agrícola, que já é de fato, para potência industrial.

Mato Grosso já atingiu um nível de produção de matérias-primas capaz de atender um parque industrial, tem potencial hidroelétrico em abundância e está estrategicamente bem posicionado, é o estado que apresenta a menor distancia média de acesso a todos os mercados, mas vivem nos criando obstáculos para construção de rodovias, hidrovias e ferrovias. O que é preciso? Aldo Rebelo (PC do B/SP), em visita a Mato Grosso disse: “No Brasil criou-se a idéia e moda que não se pode ter hidrovias porque prejudicam o meio ambiente, aí mobilizam-se forças poderosíssimas para dizer que no Brasil não pode”. Precisamos de muitas coisas, dentre elas um bom trabalho de “elucidação” ambiental que acabe com os equívocos preconceituosos que desgraçadamente emperram nosso desenvolvimento.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT. E-mail: avandoni@uol.com.br / Blog: http://argumento.bigblogger.com.br/




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