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Meio Ambiente
Segunda - 23 de Janeiro de 2006 às 22:27

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Um estudo realizado em orangotangos da ilha de Bornéu revelou o papel inesperado desempenhado pelo homem no declínio desses primatas. Os seres humanos seriam responsáveis por empobrecer seu patrimônio genético através do fracionamento de suas populações.

Os cientistas já sabiam há muito tempo que a degradação do hábitat e sua transformação em terras agrícolas ameaçavam a sobrevivência de vários animais, mas este aspecto sobre o declínio do único macaco antropóide da Ásia é agora pela primeira vez analisado num estudo publicado nesta terça-feira pela revista PLoS Biology.

Este trabalho, que utilizou simulação informatizada para tratar a mais importante coleta de dados genéticos jamais feita sobre um primata selvagem, foi realizado por Benoît Goossens (Universidade de Cardiff, Reino Unido), Lounès Chikhi (Cnrs/Universidade Paul Sabatier de Toulouse, França) e suas equipes.

O material foi extraído de pêlos encontrados em abrigos ou de excrementos depositados aos pés das árvores e analisado nas escalas de marcadores genéticos chamados micro-satélites (repetições em série de cadeias do DNA).

Duzentos orangotangos - membros de uma população acompanhada há oito anos por um programa de pesquisa lançado pela ONG francesa Hutan, em Sabah (no norte da ilha de Bornéu, na Malásia) em colaboração com o Sabah Wildlife Department (SWD) - puderam ser identicados.

Suas "peças de identidade" foram inseridas num modelo estatístico com o objetivo de compará-las à diversidade genética de uma população estável, levando em conta que, quanto mais o tamanho de uma população cai de forma significativa, mais sua diversidade diminui e maiores são as chances de ela apresentar uma "marca" específica deste declínio.

Para os pesquisadores, o resultado é inequívoco. Mesmo a variante mais otimista desta simulação no computador mostra um "sinal forte e significativo do estrangulamento dessa população".

Dois outros modelos, destinados a estimar, respectivamente, os tamanhos das populações no passado e a datar o início de seu declínio, sugerem que os orangotangos eram claramente mais numerosos até o início da exploração florestal no século XIX. O desmatamento acelerado da região nos anos 1950 e 1970, hoje transformadas em plantações de palmeiras, agravou a situação.

Uma contagem aérea dos abrigos de orangotangos, realizada em 2004 pelo cientista francês Marc Ancrenaz, também co-autor do novo estudo, revelou uma notícia aparentemente otimista: a existência de 11 mil e 13 mil indivíduos em Sabah, sendo que mil estavam na área da coleta das amostras.

"O número de sobreviventes não deve nos enganar", advertiu Benoît Goossens. "A assinatura do declínio genético que eles carregam reflete a rapidez da queda da população, mostrando que ela era pelo menos duas vezes maior há 20 anos. Felizmente, nem toda a diversidade genética foi perdida e não é demasiado tarde para agir".

O número total de orangotangos é desconhecido. Estima-se que sejam da ordem de 27 mil indivíduos em toda a ilha de Bornéu desde uma queda de 33% ocorrida entre 1996-97 e causada por secas e incêndios na floresta. Em Sumatra, mil orangotangos teriam sido mortos por ano entre 1993 e 2000 numa população estimada em 12 mil há 15 anos.





Fonte: AFP

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