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Politica Brasil
Segunda - 16 de Janeiro de 2006 às 19:24
Por: João Carlos Caldeira

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Numa dessas tardes de verão chuvoso de Cuiabá, chego em casa e encontro no portão da frente, uma menina negra, com aproximadamente 18 anos, chorando copiosamente, com cara de desesperada, querendo falar comigo.

A menina mal consegue se expressar de tanto choro e aflição. Imaginei que realmente era algo sério e uma necessidade urgente, resolvo então lhe dar atenção. Entre um soluço e outro, diz que mora no Renascer (bairro pobre, encravado no meio de bairros ricos, entre a UFMT e o Alphaville, ao lado do Jardim Itália) e que sua mãe havia falecido e eles não tinham dinheiro para fazer o funeral e pedia alguma ajuda (financeira).

Não tenho por hábito dar dinheiro ou esmolas tanto na porta de casa como nos semáforos da cidade, sempre fui contra, mas nesse caso, fiquei comovido com a situação.

Tempos depois, um amigo e vizinho de bairro, me perguntou se eu também havia caído no ¨conto da menina chorona ¨. Tirou o maior sarro de mim, dizendo que eu era a terceira pessoa que ele conhecia no bairro que havia caído em sua encenação teatral.

Depois disso, vi a mesma menina pedindo dinheiro num semáforo da Av. Miguel Sutil, no trevo da Av. dos Trabalhadores, utilizando-se dos mesmos artifícios. Sempre tive a convicção que esse tipo de ¨ajuda¨é a pior possível e não contribui em nada para resolver ou amenizar o problema de quem recebe, ao contrário, serve apenas para aliviar nossa pesada e medíocre consciência, diante de tantas injustiças e mazelas sociais.

No próximo dia 23, a Prefeitura Municipal de Cuiabá estará lançando uma campanha ¨Não Dê Esmolas, Dê Cidadania¨, resultado de uma pesquisa e investigação realizada sobre a população de rua da capital.

Desenvolvida pela secretaria do Bem-Estar Social, a campanha tem como objetivo tirar das ruas cerca de 150 pessoas que são andarilhos, alcoólatras, viciados e portadores de distúrbios mentais, emocionais e físicos, que vivem da mendicância na capital.

A Prefeitura está montando um centro de triagem no bairro Quilombo, onde oferecerá serviços médicos, psicológicos, de cabeleireiros e de outros profissionais, além de dormitório e restaurante.

A esmagadora maioria dessas pessoas aproveita do espírito solidário e da compaixão típica de todos nós brasileiros.

Usam seus defeitos físicos ou doenças, muitas delas simples de se resolver através do sistema de saúde pública, para impressionar e conseguir dinheiro fácil. Aproveita-se da gravidez ou o que é pior, dos filhos pequenos, para pedir esmolas pelas ruas. Outros fazem caras e expressões sofridas, de mal-tratados para tocar os corações e bolsos dos transeuntes.

Quem quer realmente ajudar oferece abrigo, comida, emprego, remédio, assistência médica e hospitalar, assistência psicológica e espiritual. Acontece que isso dá trabalho, é dispendioso, demanda tempo, disposição e alguns sacrifícios pessoais que nosso egoísmo e individualismo não permite.

Dar esmolas é fácil, o difícil é dar atenção, respeito e condição digna para que o mendigo saia da rua e se torne um cidadão, se torne gente.

Parabéns à Prefeitura de Cuiabá pela atitude e ação concreta na direção de uma cidade mais solidária e menos injusta.

Telefone gratuito para todos colaborarem: 0800-602-1234.

João Carlos Caldeira E-mail: joaocmc@terra.com.br Empresário, jornalista e professor universitário.




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