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Cultura
Sexta - 30 de Dezembro de 2005 às 15:12

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Um livro sobre o escultor brasileiro Aleijadinho acaba de ser lançado na França. Aleijadinho, o leproso construtor de catedrais, de autoria do escritor suíço Patrick Straumann, é a primeira obra sobre o artista mais emblemático do barroco brasileiro publicada em francês nos últimos 42 anos.

A última havia sido uma biografia realizada pelo historiador de arte francês Germain Bazin.

“Tenho certamente um olhar europeu sobre o assunto. Mas não escrevi esse livro para divulgar na Europa a vida e a obra injustamente desconhecida de um artista brasileiro. Fiquei impressionado pela arte de Aleijadinho e acho que ele é um escultor fascinante”, diz Straumann.

“Ele é um artista de uma importância mundial.”

'Importado'

Straumann já havia publicado um livro sobre o pintor e desenhista francês Jean-Baptiste Debret, que viajou ao Brasil no século XIX, acompanhando a missão artística francesa entre 1816 e 1831.

Esse artista “importado” pela coroa portuguesa para fundar uma nova estética no Brasil incitou o escritor suíço a conhecer a arte que já existia no país, no período colonial.

Straumann diz que seu trabalho consistiu em colocar no livro uma distância entre a trajetória biográfica do artista e sua obra, mostrando ao mesmo tempo que a relação entre a vida de Aleijadinho e sua arte é muito complexa.

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nascido em 1738 em Vila Rica, atualmente Ouro Preto, era mestiço, filho de uma escrava e foi vítima de uma doença degenerativa, que o fez perder os dedos das mãos e dos pés.

O estágio avançado da enfermidade o obrigou a trabalhar com os instrumentos amarrados nos punhos.

Caravaggio

Para o escritor suíço, a vida e a obra de Aleijadinho se misturam e contribuíram para criar o mito em relação ao artista.

Segundo ele, à medida em que a doença se agravava, o escultor ia atingido a perfeição.

Aleijadinho já tinha mais de 60 anos quando realizou suas obras-primas na cidade de Congonhas do Campo: as estátuas em pedra sabão dos 12 profetas, na parte externa da igreja, e as 66 figuras em cedro que compõem os passos da Via Crucis do Cristo, no espaço do santuário de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

Em seu livro, Straumann compara Aleijadinho a Caravaggio e Goya e ressalta a originalidade de sua arte, que segundo ele ultrapassou as fronteiras do barroco.

'Lição'

Para o escritor, Aleijadinho também é um artista contemporâneo.

“Sua obra impressiona até hoje. Ela é certamente religiosa, mas não trata apenas dos temas religiosos, e sim também da vida humana. Essa é a grande lição do Aleijadinho”, afirma Straumman.

O título do livro, publicado pela Editora Chandeigne, é uma citação do escritor suíço Blaise Cendrars, que descobriu Aleijadinho no Brasil com os modernistas, como Mário de Andrade, nos anos 30.

O livro também é muito bem ilustrado pelas fotos do italiano Ferrante Ferranti, que há anos fotografa a arte barroca em países da Europa e no Brasil.

Sorriso

O fotógrafo esperou dez anos para obter a autorização para fotografar as imagens do Cristo na cidade de Congonhas do Campo.

“Tentei mostrar nas fotografias do livro o gênio universal de Aleijadinho e tudo o que faz a força de sua personalidade, ou seja, o fato de ser mestiço, doente e vulnerável", diz Ferranti.

Uma foto impressionante no livro é a da escultura do Cristo crucificado.

“Coloquei a estátua no chão, para realizar diferentes ângulos, e ao fotografá-la de cima tive a impressão que o Cristo estava sorrindo, o que não ocorre quando olhamos a escultura de frente”, conta.

Esse sorriso furtivo do Cristo na cruz aparece na foto de Ferranti.

Mais de 200 anos depois, a arte e a vida de Aleijadinho continuam fascinando e repletas de mistérios.




Fonte: bbc Brasil

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