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Politica Brasil
Segunda - 26 de Dezembro de 2005 às 12:12

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Mencionado em conversas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como alternativa possível no jogo sucessório de 2006, a candidatura de Ciro Gomes (Integração Nacional) a presidente é assunto levado a sério na direção do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que considera atê mesmo a hipótese de o ministro concorrer contra o próprio Lula.

A prioridade absoluta da sigla, para o próximo ano, é superar a cláusula de barreira, a exigência legal de que os partidos tenham 5% dos votos nacionais e 2% em pelo menos nove estados para ter direito ao fundo partidário e tempo de rádio e televisão.

Para cumprir essa meta, o PSB admite ficar de fora do palanque de Lula na próxima eleição presidencial. Num cenário de disputa com verticalização das eleições, como foi em 2002, o partido trabalha com três alternativas: a candidatura própria, a composição com Lula e - hipótese considerada hoje mais difícil - ficar sem candidato a presidente da República. Na eleição passada, mesmo tendo candidatos competitivos como o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (RJ), a presidente, e o deputado federal Miguel Arraes, falecido este ano, puxando votos em Pernambuco, os socialistas tiveram dificuldades, mas cumpriram a exigência da cláusula de barreira - mecanismo que passa a valer efetivamente a partir de 2006.

A proposta da candidatura própria cresceu a partir das últimas pesquisas de opinião. Na avaliação do PSB, Lula está cada vez mais parecido com o candidato José Serra em 2002 - isolado. A exemplo do tucano, deve se tornar o alvo preferencial dos adversários.

E teria dificuldades para costurar apoios na eventualidade de passar para o segundo turno. Neste cenário, a existência de uma candidatura de 'oposição responsável pela esquerda', mas amigável, poderia ser interessante para o próprio presidente. Lula deixaria de ser o único alvo. Além disso, segundo avalia o PSB, não será a senadora Heloisa Helena (PSOL-AL) que vai tirar votos dos tucanos em São Paulo, por exemplo, mas alguém como Ciro. Por essa avaliação, a candidatura ainda não assumida de Lula estaria fortalecendo o PSDB, especialmente o prefeito de São Paulo, José Serra, pela inexistência de um palanque intermediário.

Essa alternativa chegou a ser colocada sobre a mesa pelo presidente do PSB, deputado federal Eduardo Campos (PE), em recente reunião com os presidentes do PT, Ricardo Berzoini (SP), e do PC do B, Renato Rabelo (SP). Conversa exploratória, o assunto, como as outras opções discutidas, não foi aprofundado.

É evidente que se trata de uma opção nada digerível pelo PT, mas o problema para o PSB é o próprio Ciro Gomes: nas conversas com o partido, o ministro da Integração tem reiterado que não há hipótese de ele vir a concorrer contra Lula. Mas os dirigentes socialistas acreditam que talvez Ciro se dobre a uma exigência partidária - de que somente ele poderia levar a sigla a cumprir a meta imposta pela cláusula de barreira - ou a uma eventual concordância de Lula com a estratégia.

Uma vertente dessa alternativa é Ciro Gomes sair candidato com o apoio de Lula, no caso de o presidente desistir de disputar a reeleição. Nas conversas com partidos aliados, há horas em que Lula é candidatíssimo, mas em outras parece firme na idéia de não disputar um segundo mandato, se julgar que não fará um governo melhor que o primeiro. A dúvida do presidente é vista com muitas reservas pelos aliados, mas eles esperam por uma prometida decisão de Lula para o final de janeiro ou início de fevereiro. Se ele anunciar que não será candidato, o PSB vai disputar a vaga.

O próprio Ciro deve se colocar na disputa e pedir o apoio de Lula. Para tentar dobrar o PT, o argumento do PSB é que os petistas não têm nenhum outro nome com o mesmo cacife eleitoral do ministro.

Mas o PT já sinalizou que não pretende abrir mão da cabeça de chapa. Mesmo nas especulações que faz sobre a possibilidade de não concorrer, Lula, além de Ciro, menciona nomes do PT como o ex-ministro da Educação, Tarso Genro, e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, como candidatos plausíveis. Seja como for, sem Lula no páreo, Ciro e o PSB se sentiriam liberados na disputa.

A segunda alternativa considerada pelo PSB é a composição com Lula, em troca da vice-presidência e o apoio do presidente e do PT em um número determinado de estados que ajudem o partido a cumprir a cláusula de barreira. Ciro também é opção para vice. Mas essa é uma solução que também apresenta problemas com o PT.

Em Pernambuco, por exemplo, o PSB gostaria do apoio do presidente à candidatura do deputado Eduardo Campos ao governo, o que poderia assegurar a eleição de uma bancada federal forte do partido. Mas os petistas se julgam favoritos na eleição com o prefeito do Recife, João Paulo (PT).

Por último, a alternativa que o PSB considera mais difícil: ficar sem candidato a presidente. Eleitoralmente, para efeitos de cumprimento da cláusula de barreira, o partido julga que seria a melhor saída, mas por outro lado avalia que seria a solução mais despolitizada.

O problema é a verticalização, a regra segundo a qual partidos com candidatos a presidente não podem se coligar nas eleições estaduais. O PSB entende que, com a cláusula de barreira, devem sobreviver seis ou sete partidos, um quadro que, pela experiência de outros países, pode congelar o quadro partidário por 20 ou 30 anos.

Sem candidato próprio a presidente, o PSB ficaria livre para fazer as composições estaduais necessárias para o partido atingir a cláusula de barreira e se manter como uma opção no quadro partidário nacional.

Esse é no momento o objetivo prioritário do partido, a ponto de as seções estaduais estarem pressionando a direção nacional a abandonar o governo Lula e ir para a oposição. As queixas são que o PT não é solidário, mas o fato é que os dirigentes regionais se deram conta, na desgraça petista, que é possível ocupar o espaço do Partido dos Trabalhadores. A direção nacional do PSB é quem ainda segura o partido com Lula.





Fonte: Valor On Line

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