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Cultura
Segunda - 05 de Dezembro de 2005 às 07:19

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Ao narrar sua História Universal da Angústia, W. J. Solha revisita de forma original as dramáticas trajetórias dos grandes personagens de nossa cultura. Através de sete narrativas longas, o autor recria à sua maneira meio paulista, meio paraibana, totalmente brasileira, porém sem nunca perder o caráter universal figuras históricas, mitológicas e literárias. Da Bíblia às catástrofes do século XX, passando pelas obras de Shakespeare e pelas tragédias gregas, Solha mescla arte e realidade ao elaborar uma obra erudita e, ao mesmo tempo, popular.

Personagens bíblicos, como Lucas e Saul, são expostos aos desafios terríveis do Velho Testamento. Os gregos, por sua vez, surgem engolfados pelas piores tragédias, recriadas com tintas fortes por Solha após terem sido contadas e cantadas pelo teatro e a literatura. O autor vai também aos dramas literários e exibe uma visão particular da angústia de Hamlet, esmagado pela missão de vingar o pai e frustrar-se até a mais funda melancolia com a traição da mãe. Mas na História Universal da Angústia há também espaço para nomes históricos e/ou anônimos, protagonizando cenas da vida cotidiana em diversos países do mundo Estados Unidos (crimes raciais e violência gratuita), Japão (bomba atômica, cultura do suicídio), países da África (submissão das mulheres), Europa (guerras)...

Como o próprio Solha afirma, História Universal da Angústia "tem muito de Zé Limeira... e dos nossos grandes poetas e cantadores Zé Ramalho e Vital Farias": o livro mostra o evangelista Lucas internado em um sanatório do Nordeste brasileiro, debatendo as razões divinas; o rei Saul diante da coragem de Davi derrotando o gigante Golias; centenas de cenas de violência moderna, incluindo torturas do tempo da ditadura militar e assassinatos domésticos; a lenda de Parsifal, escondido da violência do mundo pela mãe que o superprotege a ponto de negar-lhe conhecimentos fundamentais acerca da vida e dos homens, proteção que se revelará insana e inútil; Édipo e seu crime duplo, o parricídio e o incesto, e a conclusão de que a consciência é terrível, além de inútil; e Hamlet, com seu destino inquietante que eternamente inspira a arte.

Embora no título esteja a palavra "angústia", o tema é a violência física e moral. O termo escolhido por W. J. Solha refere-se à forma como todos lidamos com essas tragédias, de um jeito perturbador, sempre angustiado. Não poderia ser diferente. Para o escritor e crítico Paulo Bentancur, "a angústia encontrou, afinal, não seu remédio, mas um lugar fiel que reúne grandes capítulos de tormento da humanidade: o da ficção e o real".

Sobre o autor - W. J. Solha nasceu em Sorocaba (São Paulo), em 1941, e renasceu na Paraíba em 1962. Publicou vários romances e livros de poesia, produziu longas-metragens e trabalhou como ator. Além disso é artista plástico, autor dos painéis "Homenagem a Shakespeare", do auditório da reitoria da UFPb, e "A Ceia", do Sindicato dos Bancários da Paraíba.




Fonte: A Gazeta

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