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Cultura
Terça - 29 de Novembro de 2005 às 07:41
Por: Beatriz Coelho e Silva

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Nem Zezé di Camargo e Luciano salvam a bilheteria do cinema no Brasil em 2005. 2 Filhos de Francisco, cinebiografia da dupla, da infância à fama, está no topo do ranking do ano, fato inédito desde os anos 70 (foi visto por quase 6 milhões de espectadores), mas os números totais do setor não são para comemorar. Até o fim de outubro, houve uma queda de 24% no público total (98.634.651 em 2004, contra 74.786.694 este ano). Os filmes brasileiros levaram um tombo. A fatia do mercado diminuiu de 15% para 13% e o número de ingressos caiu 36%.

Foram 15.072.809 em 2004 e 9.609.923 este ano - mais da metade da bilheteria nacional foi da dupla. Nada indica que os lançamentos de dezembro mudem a situação.

Os dados são da revista eletrônica Filme B, cujo diretor, Paulo Sérgio de Almeida, recomenda cuidado, mas sem alarme. "Os anos de 2003 e 2004 foram excepcionais para o cinema nacional por causa de Carandiru, Olga e Cazuza, todos com mais de 3 milhões de espectadores. No quadro geral, tivemos um fenômeno em 2004, Homem-Aranha, que não se repetiu em 2005", afirma. "O que havia até dois anos atrás era uma demanda reprimida que trouxe a expansão do mercado, resultado de um investimento em salas de exibição em todo o País. Para o futuro, se continuarmos com as 2 mil salas existentes no Brasil, a venda de ingressos se manterá em torno de 100 milhões por ano. Resta saber que fatia dessa cifra o cinema brasileiro vai ocupar."

O editor da Filme B, Pedro Butcher, lembra que essa queda na venda de ingressos aconteceu no mundo inteiro e pode ter duas explicações. "Parte da indústria credita à fraca oferta de títulos com apelo comercial, o que não significa queda de qualidade", ressalta. "Outra parte atribui à popularização do DVD, mas quase não há medida de quanto e como o vídeo doméstico interfere na bilheteria das salas de cinema. Há até quem diga que quem compra e aluga filmes é a mesma pessoa que sai de casa para assisti-los. O certo é que Hollywood promete melhorar a oferta em 2006, inclusive com o lançamento de filmes de franquia."

Até para a Conspiração Filmes, produtora de 2 Filhos de Francisco, essa bilheteria de 6 milhões de espectadores foi uma surpresa, pois a expectativa era fazer 1,5 milhão e 2 milhões de ingressos. "O sucesso do filme deve-se à popularidade do Zezé di Camargo e Luciano, à qualidade do filme, ao desempenho dos atores e da equipe técnica e ao trabalho de marketing da Globo Filmes e da Columbia, nossas parceiras", teoriza o produtor do filme, Leonardo Monteiro de Barros.

"Mas o estouro de bilheteria se deve ao diretor, que soube armar bem a história, fez um belíssimo filme. E também ao mistério do cinema. Nenhum grande sucesso foi previsto e este é mais um caso."

2 Filhos é exceção num ano em que até a oferta de títulos nacionais ficou abaixo da expectativa. Desde a retomada, a curva ascendeu, com um pulo nos anos recentes: 32 filmes em 2003 e 51 em 2004. Mas este ano caiu para 40. As bilheterias também ficaram muito aquém das previsões da indústria. Tanto que, entre os dez mais de 2005, só figuram Zezé di Camargo e Luciano e, quando o ranking é nacional até meados de outubro, o segundo lugar, Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida, tem um terço do público do campeão e o terceiro lugar, O Casamento de Romeu e Julieta, não completou 1 milhão de espectadores. São casos exemplares, uma vez que Xuxa costuma esbarrar nos 2 milhões e Paula Barreto, produtora de O Casamento, contava superar essa cifra. Nem a Conspiração escapou.

Tinha expectativas modestas para Casa de Areia, seu outro filme de 2005, mas pelo menos o dobro dos 200 mil ingressos vendidos. "Cinema é assim mesmo", conforma-se Leonardo Monteiro de Barros. "Em todos os países, as dez melhores bilheterias ficam com 30% dos ingressos e o restante se distribui entre todos os lançamentos. Não dá para adivinhar por que um filme faz um sucesso enorme e outro com tudo para acontecer é pouco visto."

Para Paulo Sérgio de Almeida, só adivinhos podem prever como será 2006, mas tendências podem ser avistadas. Segundo a Filme B, janeiro e fevereiro, meses de pico de bilheteria, terão lançamentos fortes, como A Máquina (de João Falcão), Didi Caçador de Tesouros (Paulo Aragão), Se Eu Fosse Você (Daniel Filho), Quem Tem Medo de Irma Vap? (Carla Camuratti), Crime Delicado (Beto Brant), JK: Uma Bela Noite para Voar (Zelito Vianna, coincidindo com a série da Rede Globo). Em março, vêm Mulheres do Brasil (Mau Marinho) e 1972 (José Emílio Rondeau), em abril, O Maior Amor do Mundo e, em agosto, Zuzu Angel (Sérgio Rezende).

Indica um planejamento de alguns produtores, mas nada comparável ao cinema norte-americano, que tem previstos os lançamentos até 2007. Para Paulo Sérgio de Almeida, essa falta de definição prejudica o crescimento do cinema brasileiro. "Um bom lançamento tem data desde quando começa a ser feito porque garante espaço no cinema e na previsão do público", afirma.




Fonte: A Gazeta

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