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Agronegócios
Sábado - 12 de Novembro de 2005 às 11:25

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Na expectativa de medidas oficiais e de fatos novos no mercado que possam reverter a atual crise na agropecuária, os produtores rurais de Mato Grosso, reunidos com representantes do governo federal e de instituições financeiras, na Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), nesta sexta-feira (11/11), traçaram um cenário ainda mais difícil, em 2006. "As perspectivas são sombrias. Se medidas curativas não forem tomadas pelo governo federal, a situação vai se agravar", afirmou o presidente da Famato, Homero Pereira. Entre as ações apontadas como fundamentais pelos produtores rurais estão, a liberação da importação de agroquímicos e mudanças na captação dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) Giro Rural - linha de crédito disponibilizada para o pagamento dos débitos junto as trades - que não surtiu efeitos práticos.

A Famato estuda acionar o governo federal na justiça para que a Constituição e O Estatuto da Terra sejam cumpridos. De acordo com a lei, o preço mínimo estipulado pela União tem que considerar o custo de produção. Por isso, além do reajuste do preço mínimo a assessoria jurídica da Famato avalia a possibilidade de indenização dos agricultores que receberam menos que o seu custo de produção ao negociar com o governo federal. Um exemplo típico da última safra é o do arroz, cujo preço mínimo é de R$11,00 e o custo de plantio ultrapassa os R$ 20, 00, na região norte do Estado.

O secretário-executivo do Conselho de Deliberativo do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), Otaviano Muniz, disse que será analisado pelo Conselho Deliberativo do FAT (Codefat) o prolongamento das linhas FAT integrar e do Giro Rural para atender os produtores com a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), mais o spread de 4% a 6% do banco, com três ou quatro anos de prazo para pagar. Muniz informou também que o volume de recursos do FCO em 2006 deve chegar a R$1,967 bilhão, além de R$ 400 milhões que não serão aplicados do orçamento de 2005. A previsão é de que até R$ 1,5 bilhão deve ser destinado à Cédula do Produtor Rural (CPR) e para a comercialização da safra 2005/2006.

Ainda este ano, de acordo com o diretor do Departamento de Abastecimento Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Silvio Farnese, serão liberados R$ 65 milhões para comercialização de 180 mil toneladas de arroz e 100 mil toneladas de milho via Aquisição do Governo Federal (AGF) e do Prêmio para Escoamento de Produto (PEP), além de R$ 50 milhões por meio do Prêmio de Risco de Opção Privada (Prop), para o algodão. "A crise é maior do que a capacidade do governo federal resolver o problema", admitiu o representante do Mapa.

Para o setor, esse volume de recursos não vai amenizar a situação já que em Mato Grosso o volume estocado de arroz e milho é de cerca de 1,5 milhão de tonelada, em função do baixo preço no mercado.

Os estoques elevados de alguns produtos são apenas uma das conseqüências provocadas pela crise. Homero Pereira elencou também o endividamento do setor, os custos elevados de produção, os baixos preços de comercialização, a taxa de câmbio que supervaloriza o real, a falta de crédito a juros controlados e, por fim, a infra-estrutura e logística de escoamento inadequadas da produção mato-grossense.

Pereira criticou a exigência do Banco do Brasil que na negociação para prorrogar as dívidas de custeio da Safra 2004/2005 exige que o produto do agricultor. "Produto que não está mais na mão do agricultor e que precisa quitar suas dívidas. É preciso mudar esta exigência", destaca. Segundo ele, de um ano para cá, a saúde financeira do produtor rural, piorou. "Muitos produtores rurais estão inscritos no Cadim (cadastro de inadimplentes). O índice de inadimplentes do Banco do Brasil saiu de 1% para 50% ao ano" constatou.

Os custos de produção continuam elevados. Quem conseguiu adquirir insumos com o dólar a R$ 2, 50, hoje já está no prejuízo considerando que a moeda americana está cotada a R$ 2,20. "O nosso maior problema é, justamente, a alta taxa de juro e a supervalorização do real em relação ao dólar. Estamos perdendo em competitividade no mercado. Sem contar que o crédito a juros de 8.75% está limitado. Quando o mundo inteiro subsidia a agricultura, no Brasil, o agricultor tem que pagar juros de mercado", considerou Homero Pereira.

SAFRA 2005/2006 - "Nós estamos fazendo esta safra sem dinheiro" garantiu o produtor e presidente do sindicato rural de Canarana (823 km de Cuiabá), Marcos da Rosa. O agricultor conta que perdeu R$ 700 mil na Safra 2004/2005 "por burrice e em função de todo o contexto do setor".

A dívida do setor agrícola no Banco do Brasil é de R$ 2 bilhões. Os reflexos da falta de crédito para a próxima safra foram comprovados pelo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No Brasil, a previsão é de uma queda na área plantada em 2005/2006 de 2,8 milhões de hectares (ha), em Mato Grosso a redução é de quase um milhão de ha. São 180,6 mil ha a menos no plantio de algodão, 40% em relação à safra passada; 427,3 mil ha a menos na área de arroz, 55% de redução e 8% na área de soja o que equivale a 488,4 mil ha. "A situação é de desespero, os produtores vão quebrar. Não tenha dúvida", disse o presidente do sindicato rural de Tangará da Serra, Normando Corral.

O balanço da crise na agricultura um ano depois do primeiro alerta realizado, em 11 de novembro de 2004, pela Famato reuniu além dos representantes do governo federal e os presidentes dos sindicatos de 60 municípios, o diretor de Operações Indiretas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Yoiti Abe, o representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luciano Carvalho, o senador Jonas Pinheiro e o superintendente do Banco do Brasil de Mato Grosso, Dan Conrado e o presidente da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Rui Prado.





Fonte: Famato

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