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Internacional
Quinta - 02 de Junho de 2005 às 09:46

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A fonte secreta que ajudou a desvendar o escândalo de Watergate, o então subdiretor do FBI Mark Felt, e o jornalista Bob Woodward competem agora pelos lucros que podem obter com a revelação de toda a história, segundo a edição desta quinta-feira do jornal The New York Times.

O jornal nova-iorquino revela que Woodward, agora diretor adjunto do Washington Post, "enfrentou meses, e inclusive anos, a pressão competitiva" da família Felt.



Woodward, que tem já preparado um livro sobre o lendário "Garganta Profunda", e seria publicado após a morte de Felt, de 91 anos, quer colocar a obra à venda o mais rápido possível.

Estimulado por sua filha e com o objetivo de deixar uma boa herança para seus netos, Felt decidiu reconhecer publicamente que há 33 anos foi o "Garganta Profunda".

Após esta revelação, Woodward adiantou nesta quinta-feira mesmo no Washington Post uma parte do seu livro.

Felt não duvidou em afirmar que, após a publicação nesta semana de seu muito comentado artigo na revista Vanity Fair, em que revelou o mistério da identidade de "Garganta Profunda", agora tentará "escrever um livro ou algo assim e conseguir todo o dinheiro que puder".

O diretor da Vanity Fair, Graydon Carter, disse que não pagou muito pelo artigo, escrito pelo advogado da família Felt, John O'Connor, mas afirmou que os Felt agora podem vender os direitos para livros ou filmes baseados nas memórias do ex-número dois do FBI.

Woodward, no fragmento de seu livro publicado nesta quinta-feira no Washington Post, conta que conheceu Felt por acaso em 1970 quando, sendo tenente da Marinha, o almirante do gabinete em que trabalhava o enviou à Casa Branca para entregar alguns papéis.

Estando os dois em uma sala de espera, Woodward conversou durante um longo tempo com Felt, que depois vazou para ele informações sobre a investigação do autor do atentado contra o candidato presidencial e ex-governador segregacionista do Alabama, George Wallace, gravemente ferido em maio de 1972 durante sua campanha eleitoral.

Alguns meses mais tarde, após a prisão da equipe que tinha entrado na sede do Partido Democrata no edifício Watergate em Washington, Felt organizou um sistema para se reunir clandestinamente com Woodward de madrugada em um estacionamento subterrâneo na localidade de Rosslyn, na Virginia.

Para pedir uma reunião, o jovem repórter devia retirar um vaso com uma bandeira vermelha que ficava na sua janela e no dia seguinte, na página 20 do jornal New York Times que recebia todas as manhãs, encontraria um pequeno desenho das agulhas de um relógio para indicar a hora do encontro na mesma noite.

Woodward comenta que Felt sentia rancor em relação à Casa Branca de Richard Nixon por causa de suas tentativas de diminuir a independência do FBI e ficou indignado principalmente quando, após a morte de J. Edgar Hoover em 1972, o presidente designou como novo diretor do FBI um amigo seu, L. Patrick Grey.

Ao publicar no Washington Post este fragmento de seu livro sobre o "Garganta Profunda", Woodward segue sua prática habitual, em que libera aos poucos, através do jornal, as revelações de seus livros de investigação.

O New York Times, citando um executivo da editora Simon and Schuster, "que pede o anonimato", informou nesta quinta-feira que a publicação do novo livro será feita em breve, possivelmente em julho.

Woodward, seu parceiro na investigação de Watergate, Carl Bernstein, e o então diretor do Washington Post, Ben Bradlee, sendo as únicas pessoas que sabiam quem era o "Garganta Profunda", tinham jurado não revelar sua identidade até a morte da fonte.

Agora que a própria fonte revelou quem era, eles estão contentes por ter cumprido sua palavra, embora isso tenha custado o furo de reportagem.

Bradlee comentou: "acho que se ganha tanto em prestígio ao cumprir a palavra como se pode perder ao deixar escapar o furo", segundo o New York Times.

Perguntado se a revelação por Felt de seu papel em Watergate ajudava Woodward, já que havia aqueles que suspeitavam que o "Garganta Profunda" era uma invenção ou um conjunto de fontes misturadas, Bradlee respondeu: "desde já não duvido que esteja a caminho do banco" (para depositar seus lucros).





Fonte: EFE

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