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Cultura
Segunda - 23 de Maio de 2005 às 18:50

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Com o corpo coberto por pinturas tradicionais, oito índios caiapós saíram do Brasil pela primeira vez e estão na França para fazer compartilhar sua cultura e, assim, poder preservá-la.

Tumbre "está emocionado". Seu curta-documentário, que apresenta algumas danças rituais da tribo, acaba de ser exibido ao público no "Festival do Oh!", evento que a cidade de Val-de-Marne, perto de Paris, dedica anualmente à água, e do qual o Brasil é convidado de honra.

Perguntado sobre sua obra, o jovem e sorridente índio com o rosto pintado de preto e vermelho, explica: "somos nós que temos que mostrar nossos costumes. Até agora, só os brancos o faziam".

Marc Bruwier, grande especialista em tribos amazônicas, com as quais compartilhou a vida, não esconde a admiração pelos caiapós.

"Não deixam ser dominados. Já durante a colonização, estavam entre os grupos que mais resistiram", garante.

De tradição guerreira, espalhados pelo sul do estado do Pará e no norte do Mato Grosso, a maioria dos sete mil caiapós vive em uma reserva protegida de 195.000 quilômetros quadrados, obtida após muitos esforços.

Em 1989, um de seus chefes, o cacique Raoni, fez uma turnê com o cantor britânico Sting e se reuniu com vários chefes de Estado, como o então presidente francês, François Mitterand, e o Papa João Paulo II.

No domingo, depois de uma reunião com o imponente e plácido cacique Bepkraico, o vice-prefeito de Choisy, Jean-Joel Lemarchand, elogiou a exigência de autonomia do povo caiapó.

"Não vieram nos pedir ajuda. São muito organizados", o que "contradiz muitos preconceitos", afirmou.

Bepkraico, que exibia um cocar de penas multicoloridas, declarou: "queremos ter uma relação direta e pessoal para divulgar nosso estilo de vida".

Com a ajuda de intérpretes, os caiapós explicam aos visitantes do festival o uso, o significado de seus objetos artesanais e de suas pinturas.

Seus corpos estão pintados com grandes faixas pretas verticais, uma marca de identidade deste povo de caçadores e pescadores que está ameaçado, assim como muitos outros ameríndios, pelo desmatamento, pela colonização agrícola e pelos garimpeiros.

"Com freqüência, a área preservada onde vivem é alvo de violações", explica Rafael Pessôa, etnólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acompanha os índios em sua primeira viagem fora do Brasil.

Para ele, "é paradoxal que os índios tenham que vir à Europa lutar por sua preservação. No nosso país são desprezados. No colégio, as crianças (indígenas) aprendem que pertencem ao passado".

Esta rejeição complicou inclusive a viagem dos índios à França. "No Brasil, os índios ainda são considerados como menores", lamentam os organizadores.





Fonte: AFP

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