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Economia
Sexta - 06 de Maio de 2005 às 15:37
Por: Fábio Calvetti

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São Paulo – A empresa do setor aéreo com o melhor resultado operacional do país é de aviação, mas não do setor de serviços. A Embraer atravessa sua melhor fase, com um lucro recorde de R$ 1,256 bilhão, resultado considerado muito expressivo pelo seu presidente, Maurício Botelho. Paradoxalmente, a empresa tornou-se a maior exportadora de produtos industriais do Brasil, mas suas vendas no mercado interno são baixas. Durante a apresentação do balanço de 2004 da Embraer, Botelho falou, entre outros assuntos, sobre a venda de aviões militares para a América Latina, o álcool como combustível na aviação, o mercado brasileiro e as perspectivas da empresa para o futuro.

ABr: Vocês estão conversando com a Venezuela para vender aviões de reconhecimento e também houve conversas com a Colômbia. Existe alguma influência do governo norte-americano sobre esses governos para que não comprem aviões de defesa? Existe algo diplomático que pode atrasar a venda de aviões para a América Latina? Maurício Botelho: Nós pretendemos vender aviões Super Tucano, versão ALX, armados para a Colômbia e, para a Venezuela, o AMX-T, e já há um contrato de quatro anos que ainda não se efetivou por questões de financiamento. Sobre esses dois produtos, não há restrição diplomática, ao contrário. Nós não estamos falando de instrumentos de desestabilização regional, pode ser que existam restrições com relação a uma anunciada compra de Sukhoi 27 pela Venezuela, que são aviões pesados de defesa aérea, complexos, com instrumentos realmente de ataque. Mas tudo que estou dizendo é coisa que leio pela imprensa. Com relação a nossos aviões, eles são basicamente aviões de treinamento e de ataque leve. O que é ataque leve? É basicamente proteger as fronteiras de talvez uma das grandes ameaças que o mundo hoje se defronta que é o tráfego de drogas, que corrói, corrompe e destrói a sociedade. O que pretendemos vender à Venezuela e à Colômbia é um instrumento de apoio da diplomacia mundial.

ABr: Qual o futuro do álcool como combustível para a aviação comercial? Botelho: Há uma grande vantagem para nós, no Brasil, no uso do etanol como combustível. Em primeiro lugar, o preço. O etanol custa 20% do preço da gasolina de aviação. É um enorme benefício para o operador. O custo operacional dele é muito menor do que usando o até agora disponível na aviação. Outra vantagem é a questão da disponibilidade. Há uma disponibilidade grande do álcool combustível em detrimento do que acontece com gasolina de aviação, não tem disponibilidade ampla desse combustível.

ABr: Por que é tão baixa a presença da Embraer no mercado brasileiro?

Botelho: Nós temos, entregues, 900 aviões da família ERJ 145; já entregamos 46 da família 170, todos eles para empresas nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia. Tem até avião na África, mas no Brasil nós tínhamos só 15 da família ERJ 145 e alguns deles, hoje, não estão mais na Varig, foram retomados. Alguns estão colocados na Força Aérea Brasileira e outros serão colocados no mundo.

Hoje, por que se opera um avião estrangeiro de mesma categoria que um brasileiro? O problema é a falta de financiamento e a questão tributária. É mais caro comprar um avião feito no Brasil para se operar no Brasil do que comprar um avião estrangeiro. O que é um contra-senso total. Ao comprar um avião estrangeiro você tem problema de divisa, problema de fragilidade da empresa que passa a sofrer da volatilidade da taxa de câmbio e você tem ainda uma estrutura de custos inadequados, porque ela vende em reais e paga em dólares. Quer dizer, nós estamos contribuindo para a fragilização do processo. A saída para isso vem sendo estudada, é a saída do financiamento em reais e a adequação dos tributos a essa situação.

ABr: A América do Norte representa mais de dois terços (76,3%) da receita por mercado da Embraer. Há como mudar isso com uma presença maior na Europa e na China?

Botelho: Isso é uma verdade para a Embraer e para todas as empresas que fabricam aviões. O mercado aeronáutico americano é de longe o maior e isso é verdade para nós e para nossos competidores. Têm mais de sete mil aviões executivos em operação nos Estados Unidos, enquanto tem cerca de 2.500 na Europa toda. A predominância do mercado americano é nítida e acho que não vai mudar.

ABr: Em 2005 será possível repetir o bom desempenho do ano passado?

Botelho: O cenário não mudou, o cenário continua de crise e crise forte para esse setor. Nós temos até o aumento do número de passageiros transportados, mas o lucro que as linhas aéreas estão obtendo por passagem, por viagem, é muito menor. Ou seja, há uma compressão nas tarifas. Isso afeta o mercado, fragiliza as empresas, torna-as mais fracas e, portanto, com capacidade de crescimento reduzida. Esse contexto foi previsto por nós ao reduzirmos as nossas expectativas de entregas de aviões para 2005, que eram de cerca de 170, para 145. A mesma coisa em 2006.

Portanto, eu acho que nós estamos adequados para esse cenário. A empresa está forte, está estrategicamente bem posicionada, com uma linha de produtos diferenciados e melhor do que a da competição. A empresa é considerada extremamente capaz na sua ação de servir aos clientes, portanto, esse é um fator de relevância. Por outro lado, na área de defesa, novos produtos, novos mercados tem sido alcançados e com isso há um novo segmento que se abre. A aviação corporativa nós temos penetrado, assegurado e firmado a posição do nosso Legacy-Executive, que é um avião corporativo que nós introduzimos no mercado. Aprendemos, estamos aprendendo, e estamos nos preparando para nos lançar nesse mercado com uma visão de uma área de crescimento nova, que é assim que nós vemos os anos à frente.





Fonte: Agência Brasil

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