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Politica Brasil
Sexta - 06 de Maio de 2005 às 15:00

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Se fosse levar ao pé da letra a cartilha do "Politicamente Correto", elaborada pelo próprio governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia incorrer em preconceito e discriminação em alguns discursos.

Algumas palavras ou expressões, cujo uso em tons pejorativos não é recomendado pelo guia, aparecem nos discursos de Lula. Ainda que sua intenção não seja preconceituosa nem discriminatória, o presidente chega a citar algumas palavras várias vezes, como "louco", "peão" e "burro".

O pequeno manual vem criando polêmica desde a semana passada, quando o governo iniciou a distribuição da primeira tiragem, de 5.000 exemplares. Na segunda-feira, o ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) resolveu enviar a publicação para exame do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.

Muitas palavras desaconselhadas pelo manual são amplamente utilizadas pela população, como "barbeiro" para designar maus motoristas. Nesse caso, o guia informa que o uso pejorativo pode ofender os profissionais que vivem de aparar a barba.

Ao discutir a questão ontem, o comitê decidiu que o tema é relevante, mas ainda precisa ser debatido. Para isso, propôs seminário em julho, com o título "Linguagem, Poder e Preconceito". Até lá, a distribuição da cartilha está suspensa, por decisão de Nilmário.

O ministro decidiu pedir o exame do comitê depois de conversa telefônica com o escritor João Ubaldo Ribeiro, na segunda-feira, que criticou a cartilha. E também com base nos comentários que a publicação vem recebendo.

Não à toa, muitas das expressões fazem parte da oratória do próprio presidente. Um dos exemplos mais significativos foi o discurso de Lula no lançamento da Política Nacional de Saúde Mental, na qual chamou, repetidas vezes, os portadores de deficiência mental de "loucos".

"A dura realidade é que todos nós temos um pouco de loucos dentro de nós", disse Lula. Em seguida, chamou as instituições de saúde mental de "fábrica de loucos". Segundo o manual, o termo "louco" é visto como insulto.

O termo "peão" também é vedado pelo manual porque tem conotação pejorativa e pode inferiorizar trabalhadores braçais do campo ou da cidade. Porém, é herança do vocabulário sindical de Lula. Em discurso em São Bernardo do Campo (SP) no mês passado, o presidente contava da dificuldade de entregar o boletim sindical aos "peões".

"Porque vocês sabem que, no nosso meio, tem peão folgado. A coisa que me dava mais raiva era quando você ia entregar um boletim, na porta de fábrica, e o peão passava, às vezes às 5h da manhã, o peão estava nervoso, porque tinha trabalhado a noite inteira, e os sindicalistas estavam nervosos porque tinham se levantado às quatro da manhã."

O politicamente correto é evitar estereótipos sobre grupos de pessoas. Porém, Lula generalizou quando falou sobre africanos e latino-americanos num discurso em Moçambique, em 2004. "Somente os africanos e os latino-americanos é que são alegres, mesmo na pobreza. Essa é a grandeza fantástica do nosso povo."

Segundo a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o objetivo da cartilha é provocar o debate sobre o uso das expressões. Em nenhum momento, o texto do guia é incisivo, proibindo ou censurando palavras e expressões, apenas recomenda a preferência por termos mais amenos.





Fonte: 24 Horas News

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