Andrucha Waddington faz filme para "duas Fernandas"

Em seu quarto filme, Casa de Areia, o diretor carioca Andrucha Waddington dá início a uma trajetória mais autoral, deixando de lado sua inspiração por Nelson Rodrigues, de cuja obra extraiu seu longa de estréia, Gêmeas (99). O cineasta disse que o projeto foi feito para "as duas Fernandas", ou seja, Fernanda Torres, sua mulher, e Fernanda Montenegro, sua sogra. As duas atrizes mostraram-se parceiras inestimáveis e foram pacientes ao enfrentar situações adversas no set, ambientado na região árida dos Lençóis Maranhenses.

Com estréia nacional marcada para 13 de maio, Casa de Areia começou com uma simples foto, que mostrava uma casa encoberta por uma duna. A imagem foi vista no Ceará pelo produtor Luiz Carlos Barreto, que deu a Andrucha a idéia de desenvolver um enredo a partir desse simples fragmento.

"Ele me dizia: 'esse filme é a tua cara"', recorda-se Andrucha, em entrevista exclusiva por telefone. Conversando com Barreto, o cineasta quis saber mais detalhes sobre a residência da foto. Descobriu-se, por exemplo, que uma mulher morou por lá sua vida inteira.

Quando ela morreu, o lugar foi engolido pelo areal. Andrucha sonhou com a história e escreveu o argumento inicial, desenvolvido em parceria com Barreto e Elena Soárez, que já havia participado de Gêmeas e Eu Tu Eles e acabou tornando-se a roteirista da versão final. Foram gastos dois anos no estudo das locações. Depois, foi elaborado o planejamento para filmar 12 semanas dentro um parque nacional preservado pelo IBAMA, mantendo como centro das operações uma vila de 1.900 habitantes chamada Santo Amaro, a quase cinco horas de distância de São Luís.

Para a montagem dessa estrutura, Andrucha fez 12 viagens antes de começar a rodar. "Meu desafio era trabalhar nas paisagens mais bonitas que vi na vida e não transformá-las num filme turístico", observa o diretor.

O forte sol da região também era um fator de preocupação para os iluminadores. Por isso, as filmagens começavam por volta das 6h30 da manhã.

"Era preciso proteger especialmente as atrizes. Essa luz muito dura ressalta as olheiras nas mulheres", comenta. A produção dispunha de uma frota de 23 carros, mas em alguns dias só sete funcionavam, apesar do plantão de uma improvisada oficina instalada ali mesmo. O expediente do diretor era longo: filmava 12 horas por dia, depois esticava mais oito na produção. Dormia não mais do que três horas por noite. "Foi o maior desafio que enfrentei até hoje", confessa.

O cineasta descreve sua história como uma "fábula de um homem que leva a mulher para um lugar como se fosse a lua". A mulher, no caso, é Áurea (Fernanda Torres), levada grávida, junto com sua mãe (Fernanda Montenegro), pelo marido Vasco (Ruy Guerra) para uma aventura num lugar aparentemente próspero.

A presença do veterano cineasta Ruy Guerra no set nas duas primeiras semanas de filmagem também foi comemorada por Andrucha. "Foi maravilhoso ter a energia dele ao meu lado".

No elenco, estão os músicos Seu Jorge e Luiz Melodia, que interpretam o personagem Massu, na juventude e na maturidade.