Publicidade
Repórter News - www.reporternews.com.br
Internacional
Quarta - 04 de Maio de 2005 às 13:20
Por: Noah Barkin

    Imprimir


Berlim inaugura na próxima semana um memorial em homenagem aos judeus mortos na Europa, culminando assim um debate de 17 anos sobre como a Alemanha deveria lembrar o capítulo mais obscuro da sua história.

Situado em um vasto terreno entre o portão de Brandemburgo e os restos do bunker subterrâneo de Adolf Hitler, o memorial é visto por seus simpatizantes como um símbolo corajoso da disposição alemã em enfrentar o seu passado sombrio.

Mas os detratores criticam o projeto — um campo aberto, semelhante a um cemitério, repleto de pilares retangulares na cor grafite. Para eles, a obra é feia, excessivamente abstrata e um convite aos vândalos.

A inauguração do memorial, em 10 de maio, não deve encerrar a polêmica que toma conta dos meios políticos, religiosos e artísticos da Alemanha desde que a jornalista Lea Rosh lançou a idéia, em 1988.

"Não é óbvio que uma nação coloque um memorial no centro da sua capital lembrando os piores atos, os crimes mais hediondos da sua própria história", disse Wolfgang Thierse, presidente do Parlamento alemão e defensor do projeto.

"Ninguém pode dizer como este memorial vai funcionar, como será aceito e se as críticas vão terminar. Acho que o debate e as lutas que ele provocou continuarão."

Projetado pelo norte-americano Peter Eisenman, o memorial consiste em 2.711 pilares, com alturas que variam de alguns centímetros até 4,7 metros e por entre os quais visitantes podem caminhar.

À distância, parece um oceano plácido e escuro. Ao descer para o terreno irregular, os blocos de concreto ficam mais imponentes, se viram em ângulos irregulares, e o barulho da rua some.

A idéia é reproduzir a sensação de desconforto e solidão, remetendo aos seis milhões de judeus que morreram nas mãos do regime nazista alemão (1933-45).

Eisenman vê esse campo como uma metáfora do regime nazista e da louca natureza do genocídio que provocou.

"O campo parece racional, alinhado", disse Eisenman em uma entrevista. "Então você descobre que as pedras não são perfeitamente horizontais ou verticais. Há uma sensação de distorção. É perturbador. Parece racional de fora, mas quando se entra está fora de controle."

A pedido do governo, o conjunto de pilares foi complementado por um centro de informações abaixo do nível do solo, que documenta as histórias de judeus mortos pelo Terceiro Reich.

A definição da forma final do memorial foi um assunto complicado, cheio de reviravoltas, desde que a obra foi anunciada pelo então chanceler (primeiro-ministro) Helmut Kohl, em 1993.

Kohl rejeitou os planos iniciais, considerados pouco práticos, de construir uma superfície de concreto com 20 mil metros quadrados, cheia de ângulos, coberta com o nome de todos os judeus vítimas do Holocausto. O então chanceler insistiu em mudanças no projeto de Eisenman, o que levou o escultor Peter Serra, parceiro do arquiteto, a abandonar a obra.

Em 2001, a fundação do memorial teve de retirar cartazes que se destinavam a arrecadar verbas, mas só conseguiram despertar polêmica. Eles tentavam atrair a atenção dos transeuntes com o título "O Holocausto nunca aconteceu".

E, em outubro de 2003, a obra teve de ser interrompida com a revelação de que a empresa que controla a Degussa, companhia que fornece a proteção antigrafite para os pilares do memorial, havia sido fornecedora do gás Zyklon B usado pelos nazistas nos campos de concentração.





Fonte: Reuters

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/341629/visualizar/