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Politica Brasil
Segunda - 04 de Abril de 2005 às 08:32
Por: Severino Motta

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Em entrevista exclusiva à Folha do Estado o ex-governador Dante de Oliveira (PSDB) faz sua análise dos cenários políticos mato-grossense e nacional. Acredita na vitória do PSDB nas urnas contra o governador Blairo Maggi (PPS) e contra o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Dante diz, com todas as letras, que seus adversários tentam destruí-lo. “Querem destruir tudo aquilo que possa representar uma ameaça para eles”.

Dante nega ter estado ausente na campanha de Wilson Santos e diz nunca ter se “licenciado” do cenário político local. Sobre seu retorno e as críticas a Blairo ele alega que nenhuma delas é leviana ou irresponsável, e diz que o atual governante fez pouco em razão das ‘condições favoráveis que assumiu o Estado’. “Um dos problemas de Blairo Maggi é a presunçosa atitude de achar que está acima do bem e do mal, de desconhecer a história administrativa dos governos anteriores”, taxou. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

Folha do Estado: O que motivou sua ausência, ou ao menos diminuta aparição, na campanha de Wilson Santos?

Dante de Oliveira: Estive presente e atuante durante todo o processo eleitoral que culminou com a vitória do prefeito Wilson Santos. Visitei bairros, participei dos comícios, reuniões, caminhadas e carreatas. Pedi votos e fiz tudo o que estava ao meu alcance para ajudar o Wilson e o PSDB a vencer as eleições em Cuiabá, que é tradicionalmente a minha mais forte base eleitoral.

Folha: O senhor já falou sobre ondas que sobem e descem. O senhor estaria num ponto baixo durante a campanha e começou a se recuperar agora?

Dante: Essa visão, de estar por baixo, é um artifício recorrente dos meus adversários políticos. Quando perdemos as eleições, em 2002, a avaliação que fizemos era de que a sociedade queria uma experiência administrativa nova para o Estado, o que é absolutamente legítimo. Mais que isso, vimos o resultado eleitoral como um indicativo de que o PSDB deveria assumir um papel de oposição. Ao assumirmos publicamente a condição de um partido de oposição acabamos por motivar o que há de mais medíocre e mesquinho no ser humano, o desejo de destruir quem pode ou representa uma ameaça. Com um maquiavelismo provinciano e baixo, nossos adversários políticos adotaram uma estratégia de combater a boa imagem de homem público que construímos ao longo da nossa trajetória política. Criaram a tal de “caixa-preta”, que logo amarelou, e trataram de alimentar a mídia com denúncias falsas, com leviandades e disparates de toda ordem. Hoje se percebe, claramente, que toda essa estratégia escondia a fragilidade política e administrativa de quem não tinha e ainda não tem projeto consistente para Mato Grosso.

Folha: Por que, após a vitória de Wilson, o senhor demorou em retornar ao cenário político?

Dante: Nunca saí do cenário político. Deixei o governo, do qual me orgulho, para a disputa eleitoral do Senado. Assumi a presidência regional do PSDB e vice-presidência nacional, participei ativamente da campanha do Wilson e continuo trabalhando, como sempre trabalhei, em defesa dos interesses de Mato Grosso. Sou político, tenho uma longa e profícua folha de serviços prestados a Cuiabá, a Mato Grosso e ao Brasil. Uma história de que me orgulho e, estou certo, orgulha a sociedade mato-grossense. É isso que incomoda meus adversários, mas estou tranqüilo porque ninguém constrói patrimônio político injuriando, difamando e caluniando a honra alheia.

Folha: Por que, em sua primeira fala pública após o processo eleitoral, atacou o governo Maggi?

Dante: Nunca ataquei o governador ou o governo de forma leviana e irresponsável. Ao contrário, passei dois anos dando tempo ao governo, até para que qualquer crítica nesse período não fosse interpretada como mágoa por eu ter perdido as eleições. Mas sempre tive claro que o povo votou para o PSDB ser oposição. O que fiz e continuarei fazendo são críticas à falta de um projeto de desenvolvimento para Mato Grosso, algo que está muito evidente para toda a sociedade. O que cobro do governo Maggi são investimentos e políticas públicas eficientes na Educação, na Saúde, na Segurança Pública, Meio Ambiente e em ações sociais que contribuam para o desenvolvimento humano. Alias, nas áreas de Educação e Meio Ambiente a gestão é desastrosa, um enorme retrocesso. Um dos problemas de Blairo Maggi é a presunçosa atitude de achar que está acima do bem e do mal, de desconhecer a história administrativa dos governos anteriores. Essa atitude vaidosa, prepotente e autoritária não permite autocrítica, nem o justo reconhecimento das boas coisas realizadas pelos governos anteriores. No fundo esse grupo que está provisoriamente no governo acha que Mato Grosso só passou a existir a partir dele. Quanta presunção e desconhecimento histórico.

Folha: Quais os pontos positivos e negativos do governo Blairo Maggi? Qual sua avaliação do atual governo?

Dante: Todos se lembram das enormes dificuldades que enfrentamos quando assumimos o governo, em 95. Eram tempos difíceis, o País entrava num processo de profundas reformas, sobretudo no que diz respeito à gestão pública. Tivemos que realizar uma ampla reforma administrativa e fiscal para permitir que Mato Grosso pudesse alcançar o equilíbrio em suas contas. Foram anos de trabalho árduo, enfrentando resistências e desgaste político. Mas o resultado foi compensador. Com a casa arrumada equacionamos problemas estruturais graves, como a questão da energia, por exemplo. Foram usinas, o gasoduto, a termelétrica, linhas de transmissão, a Ferronorte, a usina de Manso... um amplo esforço do governo, em cima de um Plano de Metas, em parceria com a União e a iniciativa privada, que culminou na redenção energética do Estado, que passa a exportar, este ano, 830 MW de energia excedente. Depois, estruturamos um grande projeto de desenvolvimento centrado nas cadeias produtivas. Nenhum governo investiu tanto, fomentou tanto o agronegócio como o nosso. O algodão é um bom exemplo. Mato Grosso transformou-se em Estado campeão em produção e produtividade. Na metade do nosso segundo mandato (Abril de 2000) instituímos o Fethab, instrumento valiosíssimo para enfrentar outro problema estrutural de Mato Grosso, as estradas e a habitação. É importante ressaltar que no período de 2000 a 2002 arrecadamos 243 milhões de reais, e nos dois primeiros anos do atual governo arrecadou-se R$ 430 milhões, isto porque o governo que havia prometido baixar impostos fez o contrário, ampliando as contribuições para os setores da madeira e do algodão. Sem se esquecer que eles entraram na Justiça contra o Fethab quando da sua criação. É por isso que estou convicto de que Blairo Maggi, diante das condições amplamente favoráveis que encontrou o Estado, faz um governo pequeno, um governo para um só segmento, quando Mato Grosso precisa de um governo para todos.

Folha: Sobre as eleições de 2006, Nilson Leitão e Rogério Salles podem vencer Blairo Maggi nas urnas?

Dante: São dois nomes excepcionais do PSDB e podem vencer as eleições, sim. O governo Maggi não enfrentou oposição, não recebeu críticas duras e nem foi investigado a fundo. Até agora. Blairo teve os dois últimos anos para mostrar a que veio. Como opositores do governo, e numa atitude responsável, como é característica do PSDB, esperamos o tempo necessário para que o governo se projetasse. Hoje já é possível avaliar o governo, seu desempenho, seus interesses e seus limites. Portanto, é o momento de iniciar um amplo debate com a sociedade sobre o atual governo e sobre o presente e o futuro de nosso Estado. Este é o papel a cumprir do nosso futuro candidato.

Folha: Seria possível uma aliança entre o PSDB e o PFL, com Jayme Campos encabeçando a chapa?

Dante: Neste momento estamos reestruturando o partido, discutindo com a militância o fortalecimento partidário e renovando o projeto tucano para Mato Grosso. O PFL, embora ainda faça parte da base de apoio do governo Maggi, também trilha o mesmo caminho no sentido de seu fortalecimento. PSDB e PFL mantiveram uma aliança altamente positiva para o País durante os dois governos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Essa aliança, no plano nacional, pode se repetir agora em 2006. Mas ainda é cedo para falar em composição.

Folha: Como o senhor estará conduzindo as discussões partidárias para 2006?

Dante: Tenho conversado com o ex-governador Jayme Campos e com o senador Jonas Pinheiro do mesmo modo que converso com o PP, o PL e o PTB. Nossa posição é de ter uma candidatura própria, mas não estamos fechados ao diálogo. Até porque há uma insatisfação muito grande entre os partidos que apóiam Maggi. O governo trata partidos e políticos de maneira equivocada, populista e preconceituosa. Não respeita quem dedica a vida para o setor público. Então é possível que num determinado momento todas essas insatisfações que começam a aflorar agora sejam canalizadas para um projeto eleitoral alternativo e de oposição.

Folha: Por que o senhor não disputa o governo do Estado?

Dante: Já fui governador duas vezes, já fui prefeito de Cuiabá duas vezes, fui ministro de Estado, fui deputado estadual e federal. É evidente que não deixarei a vida pública e que continuarei disputando eleições, até porque essa é a minha vocação: servir ao meu Estado e ao meu país. Mas entendo que tenho como obrigação ajudar o meu partido a formar novos quadros, novas lideranças. Não sou ambicioso, nem vaidoso em relação a cargos públicos. Graças a Deus herdei de meus pais muitas qualidades, entre elas a de não ter apego ou ambições materiais. Já ocupei todos esses cargos públicos e continuo sendo o que sempre fui: um cidadão de classe média, sem soja, sem boi, sem fortuna. Já reviraram minha vida e podem continuar revirando que tudo o que vão encontrar é o patrimônio moral que herdei dos meus pais.

Folha: A CPMI do Banestado pode dificultar a reeleição de Antero – visto as críticas de José Mentor, alegando que Antero atrapalhou as investigações e teria interesse nas informações do relatório de Arcanjo?

Dante: O senador Antero tem sido um dos mais importantes parlamentares da República, com uma atuação respeitadíssima nacionalmente. A CPMI do Banestado, presidida por Antero, proporcionou o fim da lavagem de dinheiro do crime organizado por meio das CC-5. Mais que isso, permitiu a recuperação, pelo Brasil, de milhares de dólares em divisas. As futricas do deputado José Mentor, do PT, têm origem no fato de Antero ter denunciado o escandaloso caso Waldomiro Diniz, que mostrou ao País o envolvimento do PT e do governo Lula com o jogo do bicho e do crime organizado.

Folha: E o PSDB no cenário nacional? Alckmin sai para a Presidência da República?

Dante: O PSDB de Mato Grosso foi o primeiro a apoiar, internamente, a candidatura do governador de São Paulo à Presidência da República. Propusemos, inclusive, que o partido antecipasse para o quanto antes o nome que vai defender no pleito de 2006. Na minha opinião é um dos melhores quadros do partido para essa disputa contra o Lula. Alckmin é um homem competente, sério e honrado que faz um grande governo no Estado mais rico da Federação.

Folha: É possível derrotar o Lula? Como?

Dante: O governo Lula tem demonstrado não apenas ineficiência administrativa, mas completa inépcia para a gestão pública. Não cumpriu as promessas de campanha e faz um governo desastroso na área social. Desestruturou o que havia de melhor no governo FHC e não consegue implantar um único programa social que funcione a contento. Prometeu 10 milhões de empregos que ninguém viu até agora. A economia continua sem crescimento e ele, que tanto criticava a política econômica de FHC, se mostra incapaz de promover as mudanças necessárias. O PT, diferentemente do que fez o PSDB sob FHC, não produziu nenhuma transformação no País. A sociedade brasileira está visivelmente decepcionada com esse governo. Basta uma campanha eleitoral clara e crítica, pontuando os erros de Lula e com um programa de governo que contemple o crescimento econômico, a distribuição de renda e a melhoria da qualidade de vida da população. Não tenho dúvida de que o PSDB vai vencer as eleições, tanto lá como aqui.




Fonte: Folha do Estado

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