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Internacional
Sábado - 02 de Abril de 2005 às 11:43

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Roma - Os jornais italianos não esperaram o anúncio oficial da possível morte do papa para publicar balanços do pontificado, biografias de João Paulo II e comentários sobre sua herança política e espiritual e por isso receberam críticas de vários especialistas no Vaticano.

O jornal La Stampa, um dos mais conceituados do país, chegou até a dar como título de sua primeira página "João Paulo II 1978-2005", em letras garrafais. O Il Tempo saiu com o título "Ciao Karol".

Detalhes sobre o que acontece logo após o falecimento do pontífice e informações exaustivas sobre o conclave (reunião de cardeais para eleger o novo papa) também não foram omitidas à espera do momento crucial, assim como as listas de cardeais eleitores e dos candidatos mais cotados como sucessores de Karol Wojtyla.

O vaticanista (como são chamados os especialistas nas questões da sede da Igreja Católica) do La Stampa, Marco Tosatti, um dos profissionais mais sérios na cobertura das notícias ligadas à Igreja Católica e ao pontificado, justificou o título de seu jornal citando as declarações de dois importantes religiosos.

"Quando o cardeal Camillo Ruini afirmou, durante a homilia (pregação, comentário) da missa de sexta feira à noite, que o papa já vê e toca o Senhor, ou o arcebispo Angelo Comastri, que, antes de rezar o terço na Praça de São Pedro, disse que esta madrugada Cristo vai escancarar as portas ao papa, é uma espécie de autorização", explicou Tosatti.

Críticas

No entanto, vários vaticanistas criticaram a decisão dos jornais italianos. "Inaceitável e desrespeitoso", na opinião do escritor e estudioso de questões vaticanas Giancarlo Zizola, autor do livro O Sucessor.

"A imprensa italiana tem muita pressa, não espera os eventos, quer chegar antes e às vezes exagera nessa corrida", comentou o chefe do escritório da agência de noticias italiana Ansa junto ao Vaticano, Franco Pisano.

"É culpa da concorrência das agências de notícias. Os jornais não querem perder espaço e acabam cometendo erros de avaliação", analisa Benny Lai, o decano dos vaticanistas italianos. Lai cobriu cinco conclaves e inventou o termo vaticanista em 1960, quando publicou um livro que contava os últimos cinco anos do pontificado do papa Pio XXII.

De acordo com ele, a concorrência de agências de noticias, televisão e internet condiciona a qualidade dos jornais. "No passado, os vaticanistas tinham mais poder, autoridade, podiam tomar certas decisões. Agora é a máquina quem decide, e nessas decisões considera-se talvez demais a concorrência", observa.

Lai mostra com orgulho a carteirinha de jornalista que leva a data de 1952 e é assinada por Giovanni Battista Montini, na época substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, que se tornou mais tarde o papa Paulo VI.

"O Vaticanismo, que é o conhecimento do mundo do Vaticano, uma coisa nada fácil, mudou muito. Há poucos profissionais com sérias competências. Mas eles também acabam sendo vítimas desse circo midiático que alguns querem incrementar", analisa Benny Lai, que recorda a morte do papa João XXIII em 1958.

"Foram dez dias de agonia, mas a cobertura era certamente mais enxuta e menos apelativa", disse, observando que João Paulo II tem um coração muito forte e que ainda pode resistir.




Fonte: BBC Brasil

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