A delegada Juliana Buzetti, que pediu a prisão preventiva do suspeito, disse ter levado em consideração o depoimento da vítima. "Pela oitiva ficou evidente a prática de tortura", pontuou. Além da adolescente, a polícia ouviu outras testemunhas, inclusive a mãe e a madrasta dela.
A adolescente contou ao G1 que o pai a torturou, a agrediu no momento em que raspava a sua cabeça e, ao final, ainda a obrigou a recolher os cabelos que ficaram no chão. Além disso, o microempresário ainda ameaçou matá-la com uma arma de fogo e disparou um tiro para o alto com o intuito de assustá-la.
"Ele começou a me agredir na frente dos meu amigos, que moram perto da minha casa, e disse que a primeira coisa que iria fazer era cortar meu cabelo e que se eu mexesse enquanto ele cortava iria furar a minha garganta. A todo o tempo ele me batia e quando eu caía no chão ele mandava eu levantar só para ele ver o tombo. Numa hora dessas, eu caí e ele ficou apontando a arma para mim", relatou a vítima, que após a agressão encontra-se escondida junto com a mãe, que é separada do pai. Elas afirmam que estão com medo, já que o suspeito ameaçou matá-las.
Segundo a adolescente, o pai sabia o quanto ela gostava dos cabelos e se irritava pelos cuidados que ela tinha. "No dia que ele raspou a minha cabeça, eu tinha cortado e franja e pintado meu cabelo", afirmou. Após a agressão, ocorrida no dia 25 do mês passado, ela disse ter passado a noite acordada com medo de que o pai pudesse matá-la. "No outro dia cedo ele mandou que eu fosse trabalhar mesmo careca. Daí fui limpar meus sapatos. Ele ficava o tempo todo atrás de mim. Comecei a tremer e a chorar", lembrou.
Depois, conforme a vítima, o pai disse que ela não iria mais trabalhar. "Ele falou que não era para eu trabalhar mais e que eu tinha perdido meus cabelos, meu emprego e o ano letivo". No mesmo dia à tarde, o suspeito a levou até um salão de beleza de um amigo dele e mandou que terminasse de raspar a cabeça dela. No entanto, a adolescente falou que não queria e o cabeleireiro se recusou a fazê-lo sem o consentimento dela.
Ela ainda sugeriu ao pai que comprasse uma peruca para ela. O suspeito aceitou e a vítima pediu o telefone para ligar para a mãe e alegou que queria saber onde poderia conseguir uma peruca, mas disse que seria para uma amiga. No entanto, a mãe desconfiou e perguntou se o pai havia cortado o cabelo dela. A adolescente respondeu que sim e a mãe procurou o Conselho Tutelar para fazer a denúncia. No entanto, segundo a vítima, o Conselho não foi até a residência porque a mãe não soube informar o endereço ao certo.
No dia seguinte ao crime, o suspeito pretendia levar a vítima para uma chácara afastada da cidade na companhia da madrasta. No entanto, a mãe da adolescente conseguiu que a Polícia Militar fosse até a residência do ex-marido e, em seguida, localizasse a casa onde a filha dela estava. "Meu pai disse que alguém iria nos buscar na casa da minha madrasta e nos levar para uma chácara, só que depois ele ligou e falou para mim que a minha mãe estava indo me buscar com a polícia. Disse que era para eu contar toda a verdade, mas que até a noite iria matar a minha mãe e eu", frisou.
Notas baixas
Segundo a adolescente, o pai havia pedido ao coordenador da escola onde ela estudava, já que hoje não está frequentando as aulas por medo, que entrasse em contato com ele caso a filha faltasse às aulas. Ela contou que o pai lhe perguntou se ela tinha reprovado e ela respondeu que imaginava que sim, pois tinha tirado notas ruins em três disciplinas: matemática, sociologia e física. "Tirei 2, 3 e até zero", revelou.
A vítima argumenta que não tinha tempo para estudar porque trabalhava o dia todo como caixa em um supermercado da cidade e ainda tinha que cuidar da limpeza da casa. "Eu estava muito cansada e às vezes nem jantava antes de ir para a escola", disse.
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