Neila e a família, que mora no bairro São Matheus, quase perdeu o filho recém-nascido

A água da chuva chegou a cintura da dona de casa Neila Corsino da Silva, 38, que mora com sete filhos e o marido no bairro São Matheus, em Cuiabá. O barraco onde ela reside fica justamente em frente do córrego que transbordou. Com medo do que possa acontecer, ela adianta que não tem para onde ir. "Já fiz a inscrição em 1994 para ganhar uma casa e até agora nada. Para onde vou com meus filhos?". Toda vez que chove é o mesmo sofrimento. Neila já perdeu três geladeiras, vários colchões e móveis.

Ela relata ainda que em 2000, quase perdeu o filho recém-nascido afogado. É que ela e a família estavam dormindo quando a água começou a entrar. "Quando acordamos o berço estava coberto pela água e o bebê todo molhado. Não gosto nem de lembrar, foi horrível". Depois disso, Neila e o marido jamais dormem uma noite inteira quando faz tempo de chuva.

No barraco da aposentada Maria Santana de Jesus, 67, ficou tudo debaixo de água também. Quando a equipe de reportagem chegou, ela lutava para retirar a água e arrumar a bagunça deixada pela enxurrada. Apesar do medo, ela diz que não tem para onde ir.

Na rua Santa Maria, do bairro São Matheus, a moradora Joedilma Silva Barbalho, 23, tentava fazer um escoamento para a água da chuva com uma enxada. "Toda vez que chove é assim, já estamos acostumados", desabafa. O primo dela, que trabalha em serviços gerais, Cleober Moura da Silva, 23, faltou ontem ao trabalho. A rua dele ficou ilhada até às 11 horas de ontem.

Para Jandira da Silva, 42, há 12 anos no São Matheus, falta investimento do poder público para a estruturação do bairro. "Não tem boca-de-lobo por aqui. A água não tem para onde escoar. Então vai para dentro da casa da gente".

No Parque Geórgia, de 20 a 30 casas ficaram ilhadas. Os moradores foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros de barco, com apoio do helicóptero da PM.

Várias pessoas também ficaram ilhadas no bairro Praeirinho, parcialmente alagado.

Na feira do bairro Verdão, um monza azul, placa JYL 9469, foi destruído por um muro que caiu. O fato ocorreu durante o pico da chuva.(RD)