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Politica Brasil
Sábado - 12 de Março de 2005 às 10:55
Por: Carmen Munari

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O senador José Sarney (PMDB-AP) confessou que compareceu armado a uma reunião do PDS em 1984 que escolheria Paulo Maluf como candidato à Presidência da República. Na época, Sarney presidia o partido e era frontalmente contrário à candidatura. O ex-presidente, que governou o país de 1985 a 1990, fez outra revelação: disse que foi uma "uma decisão errada" a moratória decidida por ele em 1987.

As declarações, em tom confessional, marcam os 20 anos da redemocratização do país e foram dadas em gravação de entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, que vai ao ar na próxima segunda-feira.

Sarney foi o primeiro presidente civil depois da ditadura militar (1964-1985). Eleito vice-presidente por um colégio eleitoral em chapa encabeçada por Tancredo Neves, que morreu sem ter sido empossado, Sarney assumiu a Presidência em 15 de março de 1985.

Antes de se unir a Tancredo, Sarney abandonou o PDS, e aderiu à Frente Liberal. O rompimento com o partido que dava apoio aos militares se deu exatamente na escolha de Maluf. Ele conta que, em 1984, no encontro da legenda que escolheria o candidato à Presidência pelo partido, os adeptos de Maluf o ameaçaram, dizendo que usariam de violência.

"Nós tivemos uma reação contra a candidatura do Maluf. Alguns adeptos de Maluf se excederam e disseram que iam usar violência. Outros falaram que iam me tirar a tapa da presidência do partido, outros disseram que iam tirar meu bigode, cabelo por cabelo, então eu achei prudente que eu fosse armado", detalhou após o programa.

"Não é do meu feitio, não é do meu jeito. É até uma cosia que choca, mas aconteceu." Para ele, Maluf levaria o país a uma "convulsão social". O candidato acabou perdendo para Tancredo no colégio eleitoral. Quanto à moratória da dívida externa, disse que realmente não havia recursos para pagá-la e que as reservas cambiais eram enganosas naquele momento por estarem "maquiadas". Mesmo assim, admite: "Deveríamos ter chamado os bancos credores para negociar". Também não houve apoio de outros países, nem da América Latina. "O Brasil ficou com a moratória na mão."

Seu governo também marcou a estréia do primeiro plano de choque na economia, o cruzado, em fevereiro de 1986. Para controlar a inflação, congelou preços e salários e acabou com a correção monetária. Sarney contou que não tinha apoio para fazer plano ortodoxo, com controle das contas públicas e da moeda, que levaria, segundo ele, ao desemprego.

Já sobre o Cruzado 2, ele se arrepende. "Foi um erro que custou caro, preferiria cortar a mão (a fazê-lo)." O plano previa gatilho salarial e elevação de alguns produtos considerados supérfluos como perfume e combustível.

Já o balanço político é positivo. "O Brasil até hoje usufrui da tranquilidade da transição", avaliou o escritor Sarney, que entrega ainda este ano à editora o primeiro volume de suas memórias.





Fonte: 24 Horas News

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