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Meio Ambiente
Domingo - 27 de Fevereiro de 2005 às 17:38

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Animais de estimação favoritos entre reis e nobres na Idade Média, para ostentar poder e soberania, os leões (Panthera leo) vivem hoje uma realidade muito diferente. Perseguida por caçadores e colecionadores, a espécie está ameaçada de extinção, principalmente em seu hábitat, as savanas africanas. Uma esperança para a preservação deles no planeta parte de ação inédita desenvolvida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Minas Gerais.

Na semana passada, o órgão repatriou para a África do Sul dez exemplares que estavam confinados em ambiente inadequado, em Pará de Minas, na Região Central.

Foi a primeira leva de 77, que terão o mesmo destino, provavelmente ainda neste ano.

O processo tem por objetivo principal evitar a introdução de espécies exóticas na natureza, o que vem ocorrendo em larga escala, com outras oriundas de terras estrangeiras, como a tartaruga tigre-d'água (Trachemys dorbignyi), também alvo do processo de transferência do órgão federal, sobretudo para os Estados Unidos. No caso dos leões, observa a analista ambiental do Ibama Maria Beatriz Boschi, foram três anos de tentativa de repatriação, barradas por liminares da Justiça. Organizações não-governamentais, segundo ela, argumentavam que os bichos seriam soltos em áreas de safari, para serem executados por caçadores.

Os leões que seguiram na noite de segunda-feira para o Animal and Reptile Park Zoo, na África do Sul, em um Jumbo 747 exclusivamente fretado para eles, que partiu do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Transportados em carreta, os animais foram 'escoltados' pelas Polícias Militar Ambiental e Rodoviária Federal. Dez horas depois, desembarcaram sãos e salvos, a 20 minutos do novo lar. Acordo entre os dois Governos garantiu a transferência, que tem por meta reintroduzir filhotes na natureza e evitar a ocorrência, em escala ainda maior, de relações consangüíneas.

O Ibama reconhece que a demanda aumenta a cada dia. Além do ônus com a alimentação para manutenção da espécie em cativeiro, é imprescindível, como determina instrução normativa, espaço com no mínimo 70 metros quadrados para dois indivíduos, com nível de segurança máximo e adequado afastamento do público. No zoológico inacabado da Prefeitura de Pará de Minas, segundo Beatriz Boschi, os leões (cinco machos e cinco fêmeas, dois deles muito feridos) estavam confinados, há 12 anos, em espaço reduzido e em precárias condições de segurança. Tanto que, no ano passado, um conseguiu escapar, mas não chegou a sair do zoológico municipal. "Além de irregular, o zoológico de Pará de Minas mantinha os animais, recolhidos de circos, de forma inadequada, ocasionando risco à saúde e segurança deles e também da população", diz Beatriz Boschi.

O prefeito de Pará de Minas, Inácio Franco (PFL), disse que a população não deu importância alguma à perda. E negou que o zoológico da cidade, que segundo ele será inaugurado em dois anos, abrigava os leões de forma inadequada. "São 15 mil metros quadrados de área.

Além disso, os animais sempre foram bem tratados", garantiu. "Os leões, por exemplo, alimentavam-se de frangos doados por criadores da região, que são muitos", completou. Ele informou que o zôo abriga cerca de 80 indivíduos de 15 espécies, entre elas uma onça-pintada (Panthera onca), outra espécie do topo da cadeia alimentar também ameaçada de extinção, e que chegou há cinco anos. Embora não concluído, ainda segundo o prefeito, o zôo recebe visitas, "em geral de grupos de estudantes". Para ele, a repatriação dos leões foi uma surpresa. "Poderiam ter deixado pelo menos um casal", lamentou, revelando que pretende, antes mesmo de concluir as obras, adquirir novos exemplares da espécie.

Invasões biológicas são ameaça à biodiversidade

Também chamado de invasão biológica, o processo de introdução e adaptação de espécies exóticas, embora pouco estudado, é apontado por ambientalistas como a segunda maior causa de perda da biodiversidade no Mundo, perdendo apenas para a ação humana.

Conforme a bióloga da Fundação Biodiversitas Cristiane Azevedo, uma vez introduzidas a partir de outros ambientes, as espécies exóticas invasoras se adaptam e passam a reproduzir-se a ponto de ocupar o espaço de espécies nativas. Além disso, provocam alterações nos processos ecológicos naturais, tendendo a tornar-se dominantes após um período de tempo mais ou menos longo requerido para sua adaptação. "Trata-se de espécies que estabelecem novos territórios nos quais proliferam, se dispersam e persistem, em detrimento de espécies e ecossistemas nativos".

Ainda segundo a especialista, as conseqüências das invasões biológicas são, ao contrário de outros problemas ambientais, crescentes com o passar do tempo. "Ela tende a se multiplicar e espalhar, impedindo a recuperação dos ecossistemas afetados. Espécies exóticas introduzidas podem estar livres de seus competidores, predadores e parasitas naturais, tendo, assim, relativa vantagem em comparação às nativas".

Em 2001, o Ministério do Meio Ambiente promoveu a primeira conferência sobre espécies exóticas invasoras no Brasil. O evento foi realizado em parceria com o Programa Global de Espécies Invasoras (Gisp), e nele foi firmado o compromisso de se realizar um inventário nacional de espécies exóticas invasoras até o final deste ano. Esse levantamento inclui espécies de ecossistemas marinhos, dulcícolas (que vivem em água doce) e terrestres. "A meta é realizar um mapeamento das invasões biológicas em todo o país, para que haja o reconhecimento oficial do problema pelo Governo e pelo público em geral", diz Cristiane Azevedo.

Enquanto o processo não é finalizado, quem quiser se desfazer de um animal, seja ele exótico ou da fauna brasileira, deve procurar o Ibama (0800-61-8080) ou a Polícia Militar Ambiental (31-2123-1600 ou 3483.2055, às segundas, terças, quintas e sextas-feiras, das 14 as 17 horas; e às quartas-feiras, das 8 às 13 horas), ou em uma das dez companhias regionais. As doações voluntárias não serão processadas criminalmente.





Fonte: Hoje em Dia

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