Embaixador Rubens Ricupero defende baixa dos juros

São Paulo - Baixar os juros e aumentar as reservas do país é a política correta que o governo deveria manter, segundo o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e ex-secretário-geral Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O diplomata proferiu aula magna com o tema O Cenário e as Perspectivas da Economia Mundial, ao tomar posse como diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.

Segundo Ricupero, apesar do bom momento econômico pelo que passa o Brasil, o endividamento causado pela alta taxa de juros e a taxa cambial tornam o país vulnerável a crises. "O Brasil depende muito dos humores do mercado financeiro mundial. Se a tendência persistir teremos problemas muito sérios", afirmou o ex-ministro.

Para diminuir a vulnerabilidade, Ricupero defende o aumento das reservas, que hoje giram em torno dos US$ 30 bilhões. "Os países asiáticos, por exemplo, aumentaram as reservas não apenas para evitar a apreciação da moeda, mas para se blindarem contra uma possível crise do setor externo", diz ele. Além disso, o embaixador afirma que o governo precisa combater os capitais especulativos que chegam ao país atraídos pela alta taxa de juros. Para Ricupero, é necessário cobrar impostos sobre operações financeiras que permitem a entrada desses capitais.

A valorização do Real frente ao dólar também é citada por Ricupero como um dos problemas para o futuro da economia nacional. "O câmbio, que caminha para R$ 2,50, seguramente liquidará a exportação de diversos setores, sobretudo os industriais. Não há dúvida de que, se essa tendência permanecer por muito tempo, a crise é inevitável no horizonte de alguns meses", afirma.

Quanto ao crescimento do país em 2004, Ricupero acredita que se deve muito aos bons índices que a economia mundial teve no ano passado. "A economia cresceu muito bem e nós crescemos juntos, não quero tirar o mérito do que se fez no Brasil, mas se não tivéssemos crescido em 2004 seria um escândalo", disse.

Para este ano, o embaixador prevê um crescimento menor do que em 2004. "Não espero nenhum cenário catastrófico. Acho que vamos continuar com um cenário relativamente positivo. O ministro da Fazenda está fazendo um excelente trabalho em matéria fiscal. Apenas lamento que, com essa política de juros, boa parte do trabalho é desfeita", completou Ricupero.