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Cultura
Sexta - 25 de Fevereiro de 2005 às 08:07
Por: Alessandra Bastos

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Brasília - Almerice da Silva Santos, a dona Tetê, começou a trabalhar aos oito anos. Desde pequena, ela se encantava com a dança e o canto das canções regionais do Maranhão. "Não tive oportunidade de estudar, mas fui crescendo e querendo aparecer", diz. Hoje, ela é uma representante do Tambor de Crioula e veio a Brasília pela primeira vez para cantar e participar das discussões do I Seminário Nacional de Políticas Públicas para as Culturas Populares, que se realiza até sábado no Complexo Cultural da Fundação Nacional da Arte (Funarte). "Repara só como cresci um pouquinho, vim pra cá de avião e já fui até em Portugal cantar", afirma.

Orgulhosa, Almerice revela que, ainda pequena, saía à noite escondida de casa, pulava a cerca e ia assistir às cirandas e ver as pessoas cantar. "Era ruim porque apanhava e bom porque aprendia", se recorda. Sua primeira apresentação foi durante uma peça teatral encenada na Semana Santa, aos 12 anos de idade. "Imagina me colocarem para ser uma freira, logo eu, que sou assanhada e gosto de aproveitar a vida", diz.

As histórias a fazem rir, mas o motivo que a trouxe a Brasília é bastante sério. "Vim aqui pedir ao povo da Cultura que olhe pra gente e dê uma força pra gente poder fazer nossas coisas", afirma. Assim como dona Tetê, representantes de vários estados brasileiros estão na capital para definir as políticas públicas que podem ajudar na preservação e no fomento da cultura popular.

Maria Lucinelma veio do Pará representar o Artesanato de Cuias. "Com esse trabalho conheci várias cidades e hoje estou conhecendo Brasília", se orgulha. Mas o dia-a-dia das mulheres que trabalham com artesanato no Pará não é tão fácil. "O governo e a prefeitura nunca valorizaram nosso trabalho". Hoje, as trabalhadoras do Pará formaram uma associação para juntas darem seguimento ao trabalho. Mas a falta de apoio e de dinheiro esvaziou a atividade. "Só sete pessoas ainda fazem artesanato, o restante desistiu", diz. Lucinelma também veio à capital com um pedido especial. "Queremos uma casa onde possamos mostrar o nosso trabalho".

Marliete Rodrigues da Silva mora em Caruaru (PE). Como Maria, também é artesã. Trabalha com cerâmica e se emociona ao falar da luta para ganhar o pão com a arte. "Cada peça que faço é uma emoção especial", diz. O amor ao trabalho é tanto, que Marliete diz que às vezes fica sem coragem de vendê-lo. "Uma vez até chorei ao vender, a moça veio buscar e eu não queria entregar. Fico me despedindo das peças antes de vender", revela emocionada.

Vindo de Pernambuco, Severino Ferreira da Silva, o mestre Ferreira, denuncia. "Quando é para mostrar o balé da França, todas as luzes do teatro são acesas, para uma ciranda não".

O índio Benke Ashaninka, representante dos conhecimentos dos povos indígenas da Amazônia, conta que "nunca entrei em uma sala de aula, mas aprendi que o conhecimento está para aquele que sabe respeitar", afirma. E foi exatamente para pedia respeito e conhecimento aos brancos que Benke veio participar do Seminário. "Muitas pessoas olham os índios como um só, sem ver as variedades de etnias e tribos", reclama.





Fonte: Agência Brasil

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