Sérgio Mamberti diz que preservar culturas populares é fundamental para a democracia

Brasília - A preservação das culturas populares tem um papel fundamental na construção da verdadeira democracia. A opinião é do secretário de Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti. Ele foi o convidado do jornalista Florestan Fernandes Júnior no programa Diálogo Brasil desta quarta-feira (16), gerado pela TV Nacional de Brasília e exibido pela rede pública de televisão para todo o país.

Também participaram do programa os representantes do Fórum de Culturas Populares, Indígenas e Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro, Joana Correa, e do Fórum Permanente de Culturas Populares de São Paulo, Maurício Fonseca, respectivamente convidados da TV Cultura e TVE. O tema em debate no programa desta semana foi a diversidade cultural brasileira e as políticas de valorização e proteção desses costumes.

No início do programa, Florestan Fernandes Júnior lembrou a crítica feita por uma colunista social ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que promoveu uma festa junina na Granja do Torto. A jornalista considerou a festa - na qual os convidados estavam vestidos a caráter - uma coisa "brega" e "de país de terceiro mundo".

Para Mamberti, a crítica é reflexo de um processo iniciado nos anos 70, quando as festas juninas começaram a perder prestígio, especialmente no estado de São Paulo. "Na época, essas comemorações eram muito prestigiadas e representavam um momento tão importante quanto é hoje o carnaval. Eram festas populares, mas que todas as camadas sociais participavam. Nunca ninguém se lembrou nessa época que isso era coisa brega, porque não era!", afirmou.

O secretário disse que considerou muito oportuno que o presidente Lula comemorasse a festa junina na Granja do Torto, restaurando e revitalizando uma tradição. "A opinião dessa colunista me parece, no mínimo, desinformação e preconceito, na mesma medida em que sempre houve muito descaso das elites com a questão da cultura popular".

Maurício Fonseca lembrou que o país já perdeu muito do que já foi considerado uma das maiores diversidades culturais do mundo. Ele citou o caso das línguas indígenas, faladas por mais de mil povos no Brasil depois do descobrimento. "Hoje são somente cerca de 220 povos indígenas no país, falando somente cerca de 180 línguas. Apesar do Brasil já ter perdido muito, e continuar perdendo, nós ainda temos grandes possibilidades de revitalizar e fortalecer a nossa cultura popular", disse.

Para Joana Fonseca, a influência que vem do rádio, da TV e da indústria cultural, de forma geral, tem sido a maior responsável pela descaracterização da cultura popular brasileira. "Eles tiram o foco dessas manifestações tradicionais. O que acontece é que muitas vezes essas tradições não se renovam, pois não há interesse da juventude".

Sérgio Mamberti defendeu a "circulação" da produção cultural das diversas regiões por todo o país como forma de fazer com que a riqueza dos costumes populares seja conhecida pelos brasileiros. Para ele, este podia ser um dos temas curriculares do ensino fundamental.