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Internacional
Quarta - 14 de Novembro de 2012 às 15:18
Por: Guilherme Tosetto

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O fotógrafo canadense Robert Burley registrou a demolição de antigas fábricas de equipamentos fotográficos, empresas abandonadas com material de fotografia e lojas fechadas nos últimos 7 anos. A decadência da indústria fotográfica tradicional (foto analógica, feita com filme) neste período foi reunida em seu último trabalho, o livro intitulado "The disappearance of darkness" ("O desaparecimento da escuridão", em tradução livre).
 

IMPLOSIONS OF BUILDINGS 65 AND 69, KODAK PARK, ROCHESTER, NEW YORK [#1] OCTOBER 6, 2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)
Implosão dos edifícios 65 e 69 no Kodak Park, em Rochester, Nova York (1). 6 de outubro, 2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)

 
- IMPLOSIONS OF BUILDINGS 65 AND 69, KODAK PARK, ROCHESTER, NEW YORK [#2] OCTOBER 6, 2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)
Implosão dos edifícios 65 e 69 no Kodak Park, em Rochester, Nova York (2). 6 de outubro, 2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)


O trabalho que resultou no livro foi feito justamente com o produto em extinção, película fotográfica. Atualmente Robert também trabalha com fotografia digital, mas busca outros tipos de imagem com a tecnologia digital, conforme conta em entrevista por email ao G1.

O projeto começou com o registro da demolição de uma fábrica da Kodak em 2005 no Canadá. Desde então o fotógrafo persegue indústrias como Kodak, Agfa e Polaroid que estão deixando de produzir e derrubando prédios com equipamentos fotográficos.
 

Um dos momentos mais marcantes no trabalho, segundo o fotógrafo, foi a implosão de dois edifícios da Kodak em Rochester, Nova York. Robert posicionou a sua câmera em meio a equipamentos de outros fotógrafos e de antigos funcionários e logo uma nuvem de poeira os cobriu. A contradição logo veio à cabeça do fotógrafo, ele estava registrando a cena com o material que a aquela fábrica estava deixando de produzir.

Leia a entrevista na íntegra:

G1 - Como fotógrafo que ainda trabalha com filme, como você lida com o final desta era?
Robert Burley - Muitos como eu usam mídia digital e ficamos constantemente espantados com esta tecnologia. No entanto, acredito que as fotografias analógica e digital são ferramentas fundamentalmente diferentes para os artistas. Acredito que ainda estamos em uma fase de transição de "carruagem sem cavalos": continuamos a comparar câmeras de filme e digitais ainda que os dois tenham muito pouco a ver um com o outro. Em termos fotográficos, os meios digitais têm redefinido não só como criar imagens, mas também a forma como compartilhar e interagir com elas. Em uma década ou duas eu acho que a natureza exata desta mudança na fotografia ficará mais clara e espero que meu trabalho possa contribuir para essa conversa.

G1 - Você começou este projeto pensando no fim da fotografia analógica?

Burley - Quando eu comecei a fotografar a fábrica da Kodak Canadá em Toronto, em 2005, eu entendi que o fechamento da fábrica foi uma ação da empresa em resposta às câmeras digitais. As pessoas estavam comprando menos filme e por isso a indústria teve que encolher fechando instalações como essa. No entanto, em 2007, eu estava fotografando o coração da Kodak em Rochester, Nova York, onde a empresa estava explodindo um enorme edifício após o outro. Um ano depois, eu estava em Boston fotografando a fábrica da Polaroid sendo demolida. Por estar presente nesses eventos pude perceber que eu estava testemunhando não só uma mudança radical na mídia fotográfica, mas também um momento vertiginoso na história.

Por estar presente nesses eventos pude perceber que eu estava testemunhando não só uma mudança radical na mídia fotográfica, mas também um momento vertiginoso na história.
Robert Burley

Nessa altura, a tecnologia digital foi mudando a maneira como vivemos nossas vidas e o desaparecimento da indústria fotográfica mostrou o quão rapidamente essas mudanças aconteceram. Hoje, a mudança para a mídia digital está quase completa, mas parece improvável que qualquer uma destas empresas, antes poderosas, rentáveis e inovadoras, vão se adaptar ao século XXI. Parecia inevitável assistir à Kodak declarar falência como aconteceu no ano passado, e oito meses depois anunciar planos para vender suas divisões de fotografia, em um esforço para sobreviver.

G1 - Qual foi a foto mais impactante dentro deste trabalho?
Burley - Quando eu assisti às implosões programadas de fábricas da Kodak eu sabia que estava assistindo à história. Esses eventos notáveis foram chocantes, tristes e irônicos ao mesmo tempo. Eu posicionei minha câmera no meio da multidão de ex-funcionários da Kodak e, juntos, fotografamos a auto-destruição de uma das lendas dos negócios da América; eu usei filme, o material que havia sido fabricado no interior do edifício cuja redução a pó eu registrei em questão de segundos.

G1 - Você poderia comentar o título do livro ‘The Disappearance of Darkness’?
Burley - Toda a fotografia já foi escuridão, no sentido literal e figurativo, e isso a diferencia de outros meios. No sentido literal, tanto a produção e processamento de materiais são sensíveis à luz, filmes e papéis fotográficos, e a escuridão é necessária. Figurativamente, as empresas que fabricam esses materiais sempre operaram no escuro, guardando um mundo secreto de patentes e altos lucros, e estão desaparecendo.
 

AFTER THE FAILED IMPLOSION OF THE KODAK-PATHÉ BUILDING GL, CHALON-SUR-SAÔNE, FRANCE DECEMBER 10, 2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)
Falha de implosão no edifício da Kodak em Chalon-sur-Saône, França. 10 de dezembro,2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)

 
FILM WAREHOUSE, AGFA-GEVAERT, MORTSEL, BELGIUM 2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)
Armazém de filmes AGFA-GEVAERT, Mortsel, Bélgica 2007 (Foto: Robert Burley/Divulgação)

 
FILM, ILFORD, MOBBERLEY, UNITED KINGDOM 2010 (Foto: Robert Burley/Divulgação)
FILM, Ilford, Mobberley, Reino Unido 2010 (Foto: Robert Burley/Divulgação)

 
INTERIOR OF BUILDING W1, POLAROID, WALTHAM, MASSACHUSETTS 2009 (Foto: Robert Burley/Divulgação)
Interior do edifício W1, Polaroid, Waltham, Massachusetts 2009 (Foto: Robert Burley/Divulgação)





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