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Internacional
Terça - 04 de Janeiro de 2005 às 20:59

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Um dos criadores do programa Fome Zero, o economista Walter Belik afirma que a pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelando que a obesidade atinge 38,8 milhões de brasileiros com 20 anos ou mais de idade não pode ser entendida como a superação do problema da desnutrição e da insegurança alimentar no País. O número faz parte da 2ª etapa da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003, que traz capítulos sobre a composição da dieta alimentar e do estado nutricional dos brasileiros.

Para ele, um dos principais problemas do país não é a falta de oferta de alimentos, mas a dificuldade do acesso de grande parcela da população à comida.

"Já se sabia que o número de desnutridos no Brasil estaria em torno de 4% a 5%. O Brasil, de fato, não tem problemas de fome crônica, não é um país que sofre de problemas de carência alimentar crônica. Pelo contrário, o Brasil é um grande produtor de alimentos, então não temos problema de oferta, não falta comida no Brasil. O que falta é dinheiro para comprar comida. Então, grande parte dos problemas de desnutrição se refere à pobreza", avalia Belik, ao destacar que a pesquisa do IBGE já havia chamado a atenção para esse ponto.

Para Belik, a "análise apressada" de alguns analistas e de parcela da mídia acabou "desvirtuando" o estudo. "A pesquisa do IBGE, para alguns, veio como um presente de Natal. Para alguns, ela provocou um certo alívio, porque eles pensaram assim: "então está tudo bem no Brasil, não temos problemas de desnutrição, o maior problema é a obesidade, somos um país rico?"", criticou Belik, hoje professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) e diretor da Organização Não-Governamental Associação de Apoio a Políticas de Segurança Alimentar (Apoio Fome Zero).

Ele explicou que a POF foi realizada numa parceria com o Fome Zero. "A gente trabalhou com o IBGE no sentido de desenhar o tipo de pesquisa que deveria ser feita para alimentação. Cada pesquisador passou nove dias completos na casa dessas famílias", salientou.

Belik ressaltou que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a obesidade pode estar relacionada à desnutrição. "Uma pessoa que foi subnutrida na sua infância e adolescência tem uma tendência muito grande à obesidade, porque o organismo está acostumado a trabalhar com um número de calorias muito baixo. Quando essa pessoa começa a consumir alimentos muito calóricos, como, por exemplo, refrigerantes, frituras, há uma tendência muito grande à obesidade, ela não consegue eliminar rapidamente essas calorias. Ela se transforma num obeso, mas que tem resquícios de subnutrição".

Junto com o agrônomo e economista José Graziano, Belik coordenou a versão original do Fome Zero, lançada pela ONG Instituto Cidadania em 2001. A entidade era coordenada por Luiz Inácio Lula da Silva antes de ele se candidatar à Presidência da República em 2002 e elaborava propostas de políticas públicas para o país. Posteriormente, o Fome Zero foi adaptado e adotado por Lula para seu projeto de governo.




Fonte: Agência Brasil

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