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Politica Brasil
Sexta - 31 de Dezembro de 2004 às 07:40
Por: Janaína Pedrotti

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A vereadora reeleita Chica Nunes (PSDB), que encabeça a chapa para a presidência da Câmara Municipal de Cuiabá, revelou durante entrevista para a Folha do Estado sua total desaprovação pelo Pacto por Cuiabá, que é uma espécie de acordo de ajuda mútua entre prefeitura e vereadores, tudo em nome da cidade. Após costurar apoio de partidos que prometiam entrar na disputa pela presidência com o grupo oposto ao seu (Renovação), Chica inviabilizou a oposição e ainda acredita em conseguir agregar o único partido que está fora do entendimento: o PT. Cuiabana de nascimento, Chica Nunes, caso eleita, será a segunda mulher a presidir o Legislativo municipal - a primeira foi Ana Maria do Couto (1965). Na hipótese de comandar a Casa, ela já anuncia que colocará em discussão a redução dos cargos comissionados presentes na administração interna da Casa.

Folha do Estado - Como a senhora avalia a redução de mulheres eleitas para o cargo de vereadora em Cuiabá?

Chica Nunes (PSDB) - Para mim foi uma surpresa, mesmo com todo esse movimento feminino ainda houve um encolhimento. A vereadora Enelinda Scala (PT), por exemplo, foi muito atuante aqui na Casa, foi minha colega de parlamento, então, posso dizer isso com muita certeza. O fato dela não ter conseguido retornar não aconteceu e isso foi surpreendente, mas, como na política tem muita mudança, podemos encarar que essa foi uma dessas alterações imprevistas. Agora acho que para mudar isso temos que, nós mulheres, hoje no parlamento, ir em busca de outras mulheres, fazer reuniões, palestras, para que elas possam despertar para a política e conscientizá-las da força que cada uma delas têm e do que podem alcançar em termos de vida pública.

Folha do Estado - Há diferença em ser mulher no poder legislativo?

Chica Nunes - Há com certeza, a mulher é mais sensível a todas as causas, ela tem o pressentimento, o famoso sexto sentido. A partir do momento que você pressente algo, você pode prevenir, não estou dizendo em termos de ‘bruxisse’, mas do sentido apurado que temos. Isso acaba por aumentar a nossa habilidade de tratar assuntos delicados.

Folha do Estado - Como a senhora vê esse atraso no duodécimo (repasse obrigatório para a câmara, pelo Executivo)?

Chica Nunes - Isso não é normal, até porque atraso é sempre atraso. Isso é resultado de, não vou dizer que seria incompetência, mas eu diria que foi uma falta de responsabilidade da secretaria municipal Financeira, onde pagaram para ver acontecer. Não é porque peguei uma empresa que estava à beira da falência que foi fazer essa justificativa, pois a partir do momento que você encara um cargo também tem que assumir o ônus disso. Então, a sua administração tem que ser um marco diferenciado daquelas que ficaram a beira da falência. Isso que faltou: o interesse em se fazer uma administração diferenciada das anteriores. O que senti é que ao invés da meta de ser diferentes algo melhor no sentido de não se repetir, as pessoas dão declarações de que isso é normal, como : ‘nós pegamos com cinco e estou entregando com três, então, estou dois pontos a frente’. Acho que isso é muito ruim para os servidores efetivos, até porque eles já não ganham a altura de sua função e ainda ficam nessa situação...

Folha do Estado - Como a senhora avalia a gestão de Roberto França (PPS)?

Chica Nunes - É um leão para trabalhar, ele tem uma força incrível, ele é uma pessoa que demonstrou que ama Cuiabá, infelizmente acredito que o corpo gerencial que o acompanhou não passou para ele ou não conseguiu sensibilizá-lo para a real prioridade de sua gestão. Porque se você tem em sua casa uma estrutura descontente, ninguém ali vai produzir a contento. Porque não adianta construir 200, 300, 400 obras sociais se você não tem estrutura física para colocar nessa creche, por exemplo. Temos por exemplo, uma fábrica de leite de soja, lá há máquinas caríssimas, ao lado desse empreendimento tem uma padaria, também com equipamentos de alto custo. Mas o problema é saber como vamos trabalhar com tudo isso, se o básico que é ter alguém com salário em dia, para cuidar de tudo aquilo, não é feito. Como vamos construir creches se não temos recursos humanos para trabalhar lá? O França na pessoa física dele demonstrou que trabalhou muito por Cuiabá, mas faltou priorizar algumas ações, o resultado final não foi satisfatório. Hoje você vê que o corpo efetivo da prefeitura está totalmente desestimulado e desacreditado.

Folha do Estado - Ainda sobre o repasse do duodécimo, os vereadores seguraram a votação para pressionar pelo repasse?

Chica Nunes - Não, isso não aconteceu. O que houve foi um atraso primeiro porque foi necessário fazer algumas modificações na LDO, vereadores que quiseram dar uma mexida no orçamento. Tivemos muitas mensagens do executivo, algumas que são de interesse da próxima gestão. Estamos trabalhando até hoje sem receber nenhum centavo por isso. Tivemos também projetos de vereadores que estavam saindo do parlamento e que priorizamos a apreciação desses projetos. Agora com relação ao executivo eu não sei porque demoraram tanto para enviar essas mensagens, se já sabiam que esse material teria que vir para cá. Mas, demonstramos nossos compromisso com Cuiabá. Agora nós também temos o repasse com pessoal, porque atrasa o duodécimo e os servidores ficam sem receber seus respectivos salários e têm dificuldade de vir, mas, todos foram muito parceiros.

Folha do Estado - A tendência é que a senhora seja candidata única para a presidência da Câmara?

Chica Nunes - É! Nós estamos trabalhando para isso, pois Cuiabá ganha. Acho que com a disputa interna o Legislativo acaba perdendo, na medida que fica o desgaste e você começa o trabalho já com aquela coisa ruim. O meu sonho é que seja de consenso, mas deve ter um partido que vai marcar em branco, se abster, que é Partido dos Trabalhadores. Mas ainda não tive oportunidade de conversar com eles. Ainda estou aberta para o diálogo sobre essa questão.

Folha do Estado - Como a senhora conseguiu atrair os partidos que formaram o denominado grupo Renovação?

Chica Nunes - É bíblico, ‘nenhuma folha cai por acaso’, acho que tudo que está acontecendo tinha que acontecer. Acho que essa formação de um grupo dos antigos com essa chapa renovação foi salutar internamente, porque nós tivemos a oportunidade de refletir nossas ações e o grupo Renovação também pôde discutir e se conhecer. Acho que tudo isso contribuiu para que meu nome você decidido entre as duas chapas. Eu só tenho a agradecer pela escolha do meu nome nesse diálogo, acho que será uma responsabilidade muito grande, tenho consciência disso. Quero dar o melhor de mim, juntar a minha sensibilidade, meu sexto sentido, minhas premonições. Acho que até a hora da votação, ainda podemos ter o PT conosco.

Folha do Estado - Por ser uma sigla que elegeu três vereadores, vocês abririam espaço na mesa diretora?

Chica Nunes - A mesa já está composta, só por isso não é possível. Mas todo o vereador tem como contribuir para a administração interna da Câmara. Eu, como primeira secretária, acredito que nós contribuímos muito para tornar o Legislativo uma uma Casa cidadã.

Folha do Estado - Pretende fazer alterações na administração interna?

Chica Nunes - O nosso duodécimo reduziu muito. Hoje é de R$ 1.315 milhão, no entanto, no ano que vem vai ficar em torno de R$ 1.186 milhão, por aí. Sobre a redução do número de vereadores não vamos ter folga, pois teremos que contabilizar o aumento no salário dos parlamentares, vai ficar elas por elas. Essa redução em nossa verba deve-se ao fato do nosso repasse ser de 5% sobre o total arrecadado e nesse ano tivemos uma queda considerável na captação de tributos. Vamos ter que trabalhar em cima da realidade de arrecadação desde ano. A princípio terei que economizar tudo, até o cafezinho. Vamos entrar o ano com uma folha e meia em atraso, pois não pagamos os fornecedores (novembro) e o mês dezembro todo também vai ficar. Vamos ter que economizar telefones.

Folha do Estado - Sobre os cargos comissionados, hoje são 14 por vereador, o que será cortado afinal?

Chica Nunes - Isso vai continuar porque já fizemos uma redução, na época do vereador João Malheiros. Nós temos como reduzir, por exemplo, gasto com telefone que hoje é altíssimos, hoje são em média R$ 40 mil mensais por esse serviço. Vamos ter que rever também o nosso consumo de energia que é alto, todas as salas com ar-condicionado. Vamos reduzir também pessoas que prestam serviço para Casa e até a própria estrutura de comissionados da Casa, hoje são cerca de 50. Mas não vou fazer isso sozinha, vou sentar com a mesa diretora e ver sobre essa possibilidade. Também vamos implantar aqui o pregão para fazer nossas aquisições e priorizar o pagamento dos servidores.

Chica Nunes - Qual sua avaliação sobre o pacto por Cuiabá, feito entre o Legislativo e o Executivo?

Folha do Estado -Acredito que a Câmara ficou engessada devido a essa decisão pelo pacto por Cuiabá. O legislativo é um agente fiscalizar, então, considero que se desempenharmos um papel orientador para o Executivo a população ganha muito mais que um pacto. Até porque, a partir do momento que você faz um pacto é difícil até buscar estar acrescentando alguma coisa para melhorar as ações. Então, acho que se fosse trabalhar de forma que os poderes sejam de fato - porque de direito já são - independentes a população ganha muito mais. A Câmara não pode ser refém do Executivo e nós vamos lutar para que isso não aconteça, para que possamos manter a nossa independência enquanto poder.

Folha do Estado - Da forma como está não há independência?

Chica Nunes -Já foi pior, eu diria que nessa legislatura que estamos terminando agora o pacto já foi rompido. Agora, na minha primeira legislatura, em 1997, posso dizer que até em produção do Legislativo, embates, audiências públicas, ficou tudo muito amarrado. Porque você fica com receio de atingir uma das partes. O pacto por Cuiabá não foi salutar ao Legislativo.

Folha do Estado - Na época a senhora foi contrária a tal pacto?

Chica Nunes - Fui, mas estava em meu primeiro mandato, então, não tinha tanta experiência. Aquilo que você não conhece muito bem você tem receio, como tinham muitos vereadores antigos eu apostei na experiência dos parlamentares da Casa, então eu discordava, mas não tinha como dizer, não tinha firmeza para dizer que não vai dar certo, não vai ser bom. Pagamos um preço caro para ver, sentir e vivenciar. Definitivamente o pacto não foi bom para Cuiabá, se tivéssemos realmente exercido nosso papel de firmeza com o Executivo, eles não estariam nessa situação de hoje. As vezes só de gerir os recursos não significa que esteja totalmente certo do que está fazendo. Pelo pacto nós deixamos 100% por conta do executivo, concordávamos com tudo.

Folha do Estado -Como vai ficar essa independência, uma vez que o prefeito eleito, Wilson Santos é do seu partido, o PSDB. Isso irá interferir?

Chica Nunes - De jeito nenhum, até porque Santos já foi vereador. Nesse período ele demonstrou a sua satisfação por um Legislativo independente. Tanto é que ele foi um político que cresceu muito e de uma forma independente. Até quando ele perdeu a eleição para Roberto França ele ajudou Cuiabá, trazendo recursos para cá.




Fonte: Folha do Estado

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