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Nacional
Quarta - 08 de Dezembro de 2004 às 14:53

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Um dia antes da sua promulgação, marcada para hoje (08) às 11h, a emenda constitucional da reforma do Judiciário quase perdeu o seu principal ponto: a criação dos conselhos nacionais de Justiça e do Ministério Público, os órgãos de controle externo. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), decidiu que essa parte da emenda precisaria ser novamente votada pelos deputados, porque teria sofrido mudanças substanciais no Senado.

A decisão provocou uma crise política. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, conversaram entre si e com João Paulo e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), para tentar reverter o quadro. Eles temiam que, excluída agora, essa parte terminasse arquivada.

No início da noite, após reunião entre Sarney, João Paulo e a deputado Zulaiê Cobra (PSDB), relatora da reforma na Câmara, o Congresso decidiu recuar e promulgar a reforma com o controle externo. A polêmica sobre a validade do rito de tramitação da emenda deverá ser explorada pelos juízes que resistem ao controle externo.

Pela jurisprudência do STF, o Senado pode suprimir expressões do texto aprovado na Câmara, mas não pode fazer alterações no mérito das normas. A AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) já anunciou que prepara ação direta de inconstitucionalidade contra o Conselho Nacional de Justiça, argumentando que ele fere a independência do Judiciário, porque tem a participação de pessoas que não integram esse Poder.

O presidente da Câmara foi advertido das falhas por sua assessoria técnica e tomou a decisão de excluir o controle externo da promulgação ontem à tarde, após se reunir com deputados que integram a Comissão de Constituição e Justiça. Em seguida, foi ao gabinete de Sarney para anunciá-la. A promulgação é um ato conjunto das duas Casas.

Se a decisão dele prevalecesse, para que os dois conselhos fossem instalados, a Câmara teria de aprovar uma nova proposta de emenda específica sobre o controle externo, e a grande maioria dos deputados (60%) teria de referendar mudanças feitas pelos senadores, como a retirada do poder dos conselhos de decretar a perda do cargo do juiz, procurador ou promotor que cometer falta grave.

Em 2000, a Câmara aprovou o texto da reforma dando esse poder aos conselhos. O governo defendeu a sua manutenção, mas o Senado alterou a norma porque entendeu que juízes, procuradores e promotores só podem perder o cargo por decisão judicial. O receio é que não houvesse os 308 votos necessários na Câmara para referendar a mudança.

Se a Câmara a rejeitasse, obrigaria o arquivamento de todo o texto sobre o controle externo até o ano seguinte, por causa de normas de regimento sobre tramitação de proposta de emenda. O texto aprovado pelo Senado fixa o prazo de 180 dias para a instalação dos dois órgãos de controle externo.

Eles poderão punir juízes e membros do Ministério Público acusados de corrupção ou negligência com medidas administrativas, como advertência e aposentadoria compulsória. Dos 15 membros, nove são juízes, dois são advogados, dois são do Ministério Público e dois são cidadãos que serão indicados pelo Congresso.

A reforma do Judiciário tramita há quase 13 anos. Ela promove várias mudanças no funcionamento da Justiça para torná-la mais ágil e transparente. O artigo que cria a súmula vinculante, outro importante ponto da emenda, também esteve sob risco de cair, por causa da inclusão da palavra constitucional pelo Senado, mas os deputados não chegaram a se opor à sua promulgação. Por ele, juízes das instâncias inferiores ficarão obrigados a seguir determinadas orientações do STF, para reduzir o volume de recursos a esse tribunal




Fonte: Infojur

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