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Politica Brasil
Sexta - 03 de Dezembro de 2004 às 21:03
Por: Onofre Ribeiro

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Gostaria de juntar neste artigo duas conversas recentes e diferentes, que se fecham num mesmo ponto. A primeira, foi no Sesc Pantanal, com uma professora de segundo grau numa escola da rede estadual na periferia no Coxipó. A outra, com uma executiva da área de varejo em Cuiabá.

Com a professora foi uma conversa profundamente reveladora. Ela contou-me que na sua escola os alunos maciçamente vêm de famílias muito mal-estruturadas ou desestruturadas completamente. Pai desempregado, alcoólatra, mão empregada doméstica. Filhos criados soltos na rua sujeitos às intempéries sociais. Em casa, a violência física do pai ou do padrasto contra a mãe, ou contra os filhos e, às vezes, sexual contra as filhas. E, fora tudo isso, a promiscuidade de famílias numerosas vivendo em espaços mínimos, sujeitas a assédios e outras formas de violência.

Na escola, segundo a professora, o aluno aprende muito pouco, comporta-me mal ou comporta-se alheio. Abordado, costuma ser agressivo com os professores e chegam a ameaçar. A idéia de violência é presença natural na vida da maioria dessas crianças e jovens.

O sexo começa muito cedo entre meninos e meninas. Mas não é um sexo conseqüente. É uma atividade sem maior importância, feito com a naturalidade da desimportânica. A gravidez das meninas chega a ser motivo de status. No fim, a mãe cuida da criança e a menina segue a sua vida sem maiores constrangimentos ou responsabilidades.

Foi uma conversa longa mais ou menos nessa linha.

A outra conversa com a executiva da área de varejo foi noutra direção, mas que, no fim, acaba muito próxima da primeira. Disse-me ela que, muito frequentemente não consegue empenho permanente do pessoal de vendas. Nem tampouco consegue um ambiente de responsabilidade. É quase regra o pessoal colocar-se diante dos problemas com responsabilidade genérica e alheios.

O ponto em comum, é que muitas dessas pessoas têm a sua origem em bairros e em escolas como aqueles citados pela professora.

Ora, se um desses jovens consegue sair do seu ambiente e projetar-se num bom emprego fora dali, em princípio ele é um sobrevivente. Tem que trabalhar, afirmar-se, construir uma personalidade social, compreender o mercado de trabalho, e ainda se planejar. Seria uma tarefa mais ou menos natural, se ele trouxesse da família uma base de estabilidade. Como não traz, de repente é obrigado a defrontar-se com um universo para o qual não está pronto.

Pode parecer apocalíptico esse quadro. Mas ele é verdadeiro. Bem verdadeiro.

Aí, o troca-troca de empregos se sucede e ao mesmo tempo o jovem constrói uma percepção de que a vida é dura demais para ele. Mas a questão está muito ligada à formação na escola que é muito ruim e distante da sua realidade. A família não compensa nada. E a igreja que, tradicionalmente, foi parceira da educação, já não educa.

Isso explica, por exemplo, que para contratar 20 jovens do sexo feminino para o trabalho, recrutou-se 200 e, no fim, aproveitou-se o que pôde.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM onofreribeiro@terra.com.br




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