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Politica Brasil
Quinta - 28 de Outubro de 2004 às 18:31
Por: Marli Moreira e Paulo Montoia

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O Cardel Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, defende a abertura dos arquivos com documentos referentes ao período do regime militar. Para Dom Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer "adiar a abertura dos arquivos para não provocar agora um movimento que poderia ser prejudicial à democracia". O cardeal afirma, no entanto, que os documentos precisam ser conhecidos "o quanto antes" para que "a verdade apareça".

Dom Paulo dirigiu a Arquidiocese da capital paulista durante a ditadura militar e foi um dos mais ativos cidadãos na luta pelo respeito aos direitos civis, à integridade e a vida humana. De seu escritório em São Paulo, o cardeal concedeu por telefone entrevista à Agência Brasil.

Agência Brasil - Qual a importância da liberação desses documentos ao público?

Dom Paulo Evaristo Arns - Minha opinião é a seguinte: que o presidente da República não quer abrir imediatamente os arquivos por dois motivos muito razoáveis. Primeiro porque o predecessor dele, Fernando Henrique, adiou para 50 anos e, depois, porque ele próprio, o Lula, teve algumas dificuldades com a linha dura do Exército. Então me parece que ele quer adiar a abertura dos arquvios para não provocar agora um movimento que poderia ser prejudicial à democracia.

Abr - Muitas autoridades têm questionado esse período de 50 anos definido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Qual a sua opinião?

Arns - Cada instituição tem as suas leis para abrir seus arquivos. Até a Igreja, tanto o Vaticano, como a igreja particular, como São Paulo, também tem seus regulamentos. Eu por exemplo, depois de três anos, passo tudo o que é do arquivo para o arquivo geral. Depois de trinta anos, nós abrimos tudo para todo mundo. Assim poderia acontecer também com o Lula para evitar qualquer incômodo maior, no momento em que nós estamos ainda com a democracia um pouco vacilante.

Abr - O senhor acha que a abertura dos arquivos trará alguma colaboração para a sociedade?

Arns - Eu penso que para a sociedade seria muitíssimo importante. Primeiro porque muitas testemunhas ainda vivem e, daqui a dez, vinte anos, não viverão mais. Em segundo lugar, para os descendentes, os parentes, os interessados, e mesmo a grande imprensa, todos esperam saber o quanto antes as novidades para reconstituir o tempo da ditadura militar - desde 1964 até 1985.

Acho que a liberação não deve demorar porque, quanto antes a gente esclarece as notícias, antes também se resolvem os problemas que possam surgir a respeito da abertura ou a respeito de algumas pessoas que não querem ver seus nomes expostos ao público.

Estou a favor de que se abra o quanto antes para que a verdade apareça e se resolvam as dificuldades históricas que podem ser esclarecidas por pessoas que ainda vivem ou por pessoas que de fato têm os elementos necessários para reconstituir os fatos assim como eles se deram.

Abr - Há algum outro aspecto que o senhor considera relevante?

Arns - Acho que muita coisa vai ser esclarecida. Por exemplo, eu não sei nada a respeito do que aconteceu no Araguaia. Mas participei de tudo e de todas as coisas que aconteceram em São Paulo. Por isso, nós somos pessoas interessadas no que aconteceu no Araguaia, onde eu perdi, aliás, um discípulo amigo meu. Eu gostaria que isso tudo fosse posto a limpo e com o cuidado de ser bem exato em todas as informações, o que só pode acontecer com a abertura dos arquivos. Os arquivos vão revelar as assinaturas ou os documentos que provam tal e tal fato, como ele aconteceu.




Fonte: Agência Brasil

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