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Politica Brasil
Domingo - 24 de Outubro de 2004 às 21:24

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A Gazeta - Foi difícil chegar a reeleição?

Nilson Leitão - A reeleição, no nosso caso, não se iniciou no dia 30 de junho, com a convenção do partido. Começou no nosso mandato, com a evolução da administração, aliás, a administração mais premiada de todo o Centro-Oeste pela Lei de Responsabilidade Fiscal, pela aplicação do dinheiro público, pelo avanço da cidade. Isso tudo fez parte da nossa vida política nos três anos e meio para poder chegar no período eleitoral e disputar realmente com muito mais tranquilidade. Mas foi uma eleição difícil, principalmente porque disputamos contra a máquina do governo do Estado, disputamos por um partido que foi derrotado em 2000 no governo estadual e federal e tínhamos que provar, apenas, a nossa competência municipal e essa que foi a grande diferença. E conseguimos fazer mais que 50% dos votos e isso já nós deixa feliz. Foi uma eleição muito difícil.

A Gazeta - Em algum momento da campanha o senhor observou algum tipo de favorecimento do governo estadual para seu adversário Baiano Filho acima do normal?

Nilson - O que confundia a cabeça da população, e até na nossa, é que a frase usada pelo governo não era apoio do governador. Ele dizia: "o meu governo apóia esse candidato, o meu governo vai ajudar esse candidato". Esse tipo de frase é que pesou na campanha e a presença do governador em obras, iniciando quadras de esportes na gleba Mercedes em pleno período eleitoral, lançamento de obras e promessas de obras, vereador que estava sendo candidato do meu lado, do PFL, que tinha possibilidades de ser eleito, de repente desistiu da candidatura, por promessas da equipe do governo do Estado de que no bairro dele seriam construídas quadras de esporte se acaso ele apoiasse o adversário. Então houve sim uma pressão enorme por parte do governo do Estado. Eu não respondi, não critiquei, ao contrário, me calei. E me calei não por ser omisso, mas por que acreditei que era a melhor estratégia da minha parte, porque as pesquisas mostravam que eu tinha uma vantagem eleitoral. Mas realmente, houve uma pressão bem grande de muitas pessoas e lideranças que estavam me apoiando antes do período começar e logo depois foram virando de lado. O governador visitando pessoalmente essas pessoas, como foi o caso do presidente da Câmara. O governador visitou pessoalmente o presidente da Câmara, que era do meu partido, e ele, de última hora, mudou de lado com a visita do governador na casa dele. Então houve sim essa presença física do governador. E eu respeito, pois acho que é um direito que ele tem de fazer a campanha para o candidato dele e isso realmente pesou para nós, mas fazia parte da disputa.

A Gazeta -O senhor foi lançado a prefeito pela primeira vez pelo ex-governador Dante de Oliveira...

Nilson - Quando eu fui candidato a vereador fui o mais votado do meu partido. Em seguida na minha candidatura para deputado, o (ex) governador Dante ainda não me conhecia. E eu fui candidato a deputado até em uma situação engraçada, porque não tinha nenhum candidato representante de uma cidade-pólo do norte do PSDB. Eu me coloquei à disposição. Naquela época eu era solteiro e não tinha nenhuma preocupação maior e tinha uma carreira que gostaria de seguir e sabia que minha chance de ganhar era muito pouca. Foi a partir daí que o ex-governador passou a me conhecer.

A Gazeta - Durante esta campanha eleitoral, Dante esteve em seu palanque lá em Sinop?

Nilson - Na verdade, eu só fiz um comício em Sinop. Então ele não esteve no palanque nesse comício. Mas ele esteve presente, esteve em reuniões, ajudou a organizar a campanha e não tive nenhum problema, pelo contrário, tenho muita admiração pelo governador Dante de Oliveira, pelo papel que ele transformou e principalmente pelo o que ele fez lá em Sinop durante o mandato.

A Gazeta - Qual foi a sua relação nos últimos dois anos com o governador Maggi e como pretende levá-la na nova gestão?

Nilson - Eu apoiei o senador Antero Paes de Barros na eleição de 2002. Quando terminou as eleições, o governador eleito Blairo Maggi esteve em Sinop, antes de tomar posse, para receber um título de cidadão dado pela Câmara Municipal, antes mesmo de tomar posse como governador. Eu fiz um discurso naquele dia, que eu só não estenderia um tapete vermelho para ele porque a minha cor é amarelo e azul, mas eu estenderia um tapete azul todas as vezes que ele fosse como governador, mesmo não sendo do partido dele. O nosso relacionamento foi sempre bom, nunca tivemos nenhum problema, tivemos obras em convênio e, inclusive, fui convidado para estar no grupo político dele. Não fui. Eleição municipal é uma eleição caseira e quem decide isso é a população. Acho que a campanha eleitoral trouxe sim algumas coisas que machucaram bastante, teve secretário de governo que foi em Sinop acusar a administração pública de mal uso da máquina. Sei que não sou o melhor prefeito do mundo, tenho meus defeitos, mas sou premiado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, todas as minhas contas foram e são aprovadas e sou aprovado pela população de Sinop. Eu não critiquei o governo, não critiquei o grupo do governo e não ataquei o candidato do governo com coisas pessoais ou que pudessem denegrir a imagem dele para disputar eleição.

A Gazeta - Neste pleito, o PSDB elegeu apenas sete prefeitos. Essa redução preocupa o senhor e o faz pensar em migrar para outra legenda ou teme isolamento?

Nilson - Eu não posso julgar a redução de prefeituras administradas pelo PSDB ou que o PSDB piorou ou melhorou a sua forma de administrar. Eu costumo dizer o seguinte, o PSDB tem sua ideologia e quem criou a nova forma de administrar foi o PSDB, através da lei de Responsabilidade Fiscal, que fez com que o Ministério Público tivesse mais força, fez com que o mau uso do dinheiro público fosse mais esclarecido para a imprensa e para a população. Isso é natural, pois o governador é do PPS. Quando o governador era do PFL, a maioria das prefeituras era do PFL, o mesmo acontecia com o PMDB e está acontecendo com o PPS. Eu sou um prefeito que não quero ser diferente, nem melhor nem pior que ninguém, mas eu escolhi seguir no mesmo partido. Na minha região, nós fomos vitoriosos. No pólo de Sinop tem seis municípios e desses seis o PSDB ganhou em quatro. O partido do governador só ganhou em uma cidade desses seis municípios, que é em União do Sul - uma das menores cidade da região. Eu tentei administrar o município nesses quatros anos com o governo anterior e com o atual governo, sem levar no peito a sigla partidária, que fica para o momento da forma de administrar e para a hora das eleições. A ideologia de um plano de governo, eu tenho o meu, o PPS vai ter o plano de governo deles, que ao final das contas vão ser muito parecidos. O que decide eleição é o povo, não é o prefeito. Quanto à questão administrativa, eu repito, os governos do Estado e federal têm que cumprir com sua obrigação, de lei, de transferir para o município aquilo que é de direito nosso, direito do povo. Veja bem: de 100% dos impostos arrecadados em todo o Brasil, só 14% voltam para o município e 86% ficam com o governo federal e o governo estadual, e o povo mora no município. E quando acontece uma invasão de sem-terra em uma cidade, quem banca a cesta básica é o município e não é o governo federal.

A Gazeta - O senhor pretende, dentro desse raciocínio, liderar algum tipo de reivindicação para ser levado para o governo federal, para que isso de certa forma seja resolvido...

Nilson - Eu quero fazer uma grande reunião iniciada pela nossa região. Vou respeitar o trabalho feito pela AMM. Em nível de Estado tem uma luta e acredito que por enquanto foi uma luta inglória, porque tem um empurra-empurra na questão da distribuição do ICMS, que na minha opinião é vergonhosa a questão do ICMS. Tem municípios com menos habitantes e proporcionalmente recebem muito mais que os com mais habitantes, ou seja, 70% da população de Mato Grosso está sendo, não está sendo beneficiada da forma que devia pelo dinheiro do ICMS.

A Gazeta - Neste segundo mandato, quais áreas o senhor vai priorizar?

Nilson - Vamos investir bastante em pavimentação asfáltica, em drenagem. Como nós superamos a questão da água tratada, que eu achava que chegaríamos a 70% e chegamos a quase 100%, agora a grande luta é o esgoto. Porque Sinop é o primeiro município da Amazônia Legal, é a porta da Amazônia em Mato Grosso. Vamos trabalhar com essa linha de esgoto, para tentar fazer com que a cidade de Sinop seja uma cidade totalmente saudável e não só para as pessoas, mas também para o ambiente. Então esse trabalho nós já começamos, fomos a Brasília, já começamos um trabalho e temos uma proposta da Caixa Econômica, de financiamento do programa de esgoto. Vamos aplicar muito em habitação e procurar investimentos, inclusive com o governo do Estado, através da Fethab e da Caixa Econômica e outros programas que já colocamos em prática no primeiro mandato e é claro que queremos avançar ainda mais a educação. Hoje, Sinop está cada vez se consumando como um pólo de educação. Temos mais de 20 cursos universitários.

A Gazeta - O senhor foi reeleito com o apoio de seis partidos. Como será a distribuição de cargos, formação de secretariado...

Nilson - Eu tento ter o pensamento firme de que todos são companheiros numa eleição. E na hora de administrar você tem que fazer com aquilo que você tem de melhor. E é uma nova administração. Eu tenho que respeitar inclusive o novo vice, que veio do PFL. Se na composição dos partidos tiverem pessoas importantes para compor com competência e que tenha o perfil para compor o quadro da prefeitura, não tenha dúvidas que vai participar da administração. Mas tem que participar efetivamente, cumprindo com seu papel. Não podemos mais, e eu não fiz isso no primeiro mandato, olhar o emprego como uma dívida de campanha. Então não existe compromisso de cargos, nem antes do período eleitoral, nem durante. O que existe é administrar Sinop bem, melhor do que no primeiro mandato. Nós temos é que avançar, então vai ter mudanças no secretariado, sim. Vai ter reforma administrativa, quero extinguir alguns cargos e criar novos. Em Sinop, tem uma Secretaria de Obras, e eu não vou ter mais secretaria de obras a partir de 2005. Vou apresentar uma reforma administrativa onde vou ter uma secretaria de Urbanismo para cuidar da cidade e uma secretaria de Assuntos Rurais para cuidar das estradas, dos pequenos e médios produtores. Vou criar uma secretaria, onde hoje só tem uma coordenação de habitação, eu vou precisar juntar ela a uma secretaria de trabalho, habitação e assistência social. Uma tem muita haver com a outra. Eu criei a guarda municipal de trânsito, estou municipalizando o trânsito, porém não tem uma secretaria ligada direta ao gabinete. Precisamos criar algo ligado direto a isso. Nós criamos, no primeiro mandato, a Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo, e a Secretaria de Esporte que era apenas uma coordenadoria. E agora montamos uma Casa da Memória, que é um mini-museu, a Casa do Artesão e eu quero criar a Secretaria de Cultura e investir muito mais neste setor. São vários os setores que temos que avançar. Tenho um sonho ousado, mas é sonhando que podemos alcançar. Quero tornar Sinop a cidade mais importante do interior de Mato Grosso.

A Gazeta - E sobre a polêmica relativa à divisão do Estado. Sinop, na condição de cidade-pólo, caso os projetos avancem, poderá tornar-se capital de um novo estado. Como o senhor vê essa possibilidade e qual sua opinião sobre o assunto?

Nilson - Eu nunca defendi a divisão de Mato Grosso. Sou contrário. O que eu quero deixar claro, é o que me entristece nessa história é que em 2002, inúmeros políticos, e inclusive o meu adversário que disputou as eleições comigo, a bandeira dele, o slogan dele quando candidatou a deputado era "Araguaia já!" e acabou as eleições ninguém mais falou em divisão. Quer dizer, o próprio grupo do atual governador discutiu muito, apesar do próprio governador dizer ser contra, membros do PPS discutiram muito e inclusive usaram como slogan de campanha e depois esqueceram do assunto. Para dividir é preciso, antes de tudo, saber se existem recursos para dar conta de toda a estrutura necessária para um eficiente funcionamento público.




Fonte: A Gazeta

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