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Politica Brasil
Domingo - 24 de Outubro de 2004 às 09:36

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Diário de Cuiabá - Qual análise o senhor faz sobre o quadro político em Mato Grosso após as eleições municipais?

José Riva - Essas eleições tiveram um grande diferencial em relação às anteriores: o que definiu o resultado não foi a força do partido ou das lideranças políticas do Estado. O que definiu foi a capacidade de se articular localmente, onde quem agregou mais lideranças, em quase todos os casos, acabou se elegendo.

Diário - O senhor acha que houve um rearranjo de forças, com lideranças antigas perdendo peso e influência, e outras novas lideranças surgindo no cenário político?

Riva- Não necessariamente. Como já disse, a influência das lideranças foi pequena. Vejamos o exemplo do prefeito Jaime Campos, que não ganhou em Várzea Grande, mas ganhou inúmeras prefeituras que apoiava. Eu acho que houve um enfraquecimento acentuado do PSDB e uma certa frustração em relação aos candidatos do PT. Eu esperava muito mais do PT, que tem o presidente da República e o peso dos órgãos federais. o Incra, por exemplo, foi utilizado nitidamente como um cabo eleitoral do PT nos municípios.

Diário - Por que o senhor acha que houve esse novo comportamento nessas eleições?

Riva – Acho que o cidadão começou a pensar de maneira mais pragmática e localizada, ou seja, quem vai governar sua cidade não é o presidente da República ou o governador, mas o prefeito, que vai estar no município durante os quatro anos.

Diário - O senhor acha que isso é um sinal de amadurecimento político?

Riva- Sem dúvidas. Mas, paralelamente, a influência do poderio econômico ainda é muito grande - e tem definido diversas eleições em todo o país. E eu acho que a capacidade analítica em relação a escolha aumentou, mas essa influência econômica é inegável.

Diário - Em que sentido, especificamente, o senhor se refere ao poderio econômico?

Riva – No sentido de estrutura como um todo: desde o cartaz, o carro de som, a gasolina, os cabos eleitorais, enfim, quem não teve estrutura para isso encontrou muitas dificuldades. Uma exceção foi o caso de Tangará da Serra, onde o jornalista Júlio Ladeia se elegeu praticamente sem estrutura, só com seu discurso e o apoio dos amigos.

Diário – O senhor acha que a compra de votos é uma ameaça ao processo democrático?

. Infelizmente a compra de votos existe. Mas essa questão se acentua muito depois das eleições, porque muitos candidatos derrotados a usam como desculpa e começam a fazer denúncias. Essa é uma questão fundamental no processo, mas é preciso ter discernimento. Eu tenho certeza que o Ministério Público e a Justiça Eleitoral têm esse discernimento, até para não cometer injustiças.

Diário – O senhor acha que existe um trabalho efetivo de combate a essa prática?

Riva - Sem dúvidas. Isso vem sendo coibido pela atuação do Ministério Público, pelo Poder Judiciário, pelo Tribunal Regional Eleitoral. Temos, inclusive, o exemplo de um deputado federal que perdeu seu mandato (Rogério Silva). E a investigação precisa se aprofundar, pois é preciso ter provar concretas. Não basta um simples testemunho armado para prejudicar quem venceu. É preciso ter provas, materiais e consubstanciadas, para que não se cometa nenhuma injustiça.

Diário – O fato de o governador Blairo Maggi ter perdido em algumas cidades e pólos importantes, como Sinop, não pode ser um indicativo de que esteja faltando algum tipo de articulação política, um trabalho mais direcionado pra este setor?

Riva- O fato é que o governador mais trabalha administrativamente do que faz política. E isso pode ser um problema, caso ele tenha pretensões de se reeleger. Acho que ele precisa se articular um pouco mais politicamente. Não dá para questionar o trabalho que Blairo Maggi vem fazendo para Mato Grosso, mas isso precisa ser capitalizado politicamente.

Diário - Definida a sucessão municipal em Mato Grosso, com exceção a Cuiabá, as atenções se voltam para 2006. O senhor acha que o governador Blairo Maggi vai encontrar dificuldades para se reeleger?

Riva – Até agora, Maggi praticamente não teve adversários políticos. A tendência é que isso mude, mas ainda é cedo para dimensionar qual será o tamanho da oposição que ele terá nos municípios, dos deputados e lideranças políticas. Afinal, muitos políticos, entre eles deputados estaduais e federais, perderam a disputa em municípios de suas bases tendo o governador como adversário.

Diário – Mas essa provável oposição pode representar uma ameaça ao projeto de reeleição?

Riva - É inegável que o governador Blairo Maggi é, hoje, a maior liderança política do Estado. Mas volto a repetir: isso não foi construído politicamente, mas administrativamente. Outro ponto favorável é que sua administração nunca discriminou um prefeito em função da cor partidária. Portanto, eu acredito que entramos em uma nova fase política, mas tenho convicção de que a imagem de Blairo Maggi continua absolutamente sólida e gozando de imensa credibilidade junto a população. Particularmente, acho que ele não terá dificuldade para se reeleger.

Diário – Quais os nomes poderão fazer frente ao governador em 2006?

Riva – A senadora Serys Slhessarenko (PT) é uma candidata em potencial a qualquer cargo, especialmente ao de governador. Temos outras grandes lideranças, como o prefeito Jayme Campos (PFL), que já foi governador e sempre cumpriu seus mandatos em alta. Também ressalto a liderança do deputado federal Pedro Henry (PP), um dos mais influentes de Mato Grosso na Câmara Federal, que saiu muito fortalecido destas eleições e que também seria um nome muito forte. Posso citar ainda o deputado federal Carlos Abicalil (PT), os próprios candidatos a prefeito de Cuiabá Alexandre Cesar (PT) e Wilson Santos (PSDB).

Diário – E quanto a Dante de Oliveira?

Riva – Sim. Ele tem uma liderança natural e histórica, mas acho que o seu projeto está mais para o Senado ou para a Câmara Federal. Temos o senador Antero Paes de Barros (PSDB), que é um dos destaques no Senado pela atuação forte e polêmica, e o prefeito Roberto França (PPS), que tem força pra ser candidato ao governo, ao Senado ou Câmara Federal. Enfim, são nomes fortes que serão colocados no tabuleiro sucessório.

Diário - Como o senhor analisa o apoio do governador ao candidato do PT, aqui em Cuiabá. Claro que essa definição também passou pelo Palácio do Planalto. O senhor acredita que o governador tenha feito o melhor para a Capital do Estado?

Riva – Acredito que o apoio do governador a Alexandre Cesar seja mais no sentido de reforçar a parceria com o governo Federal. Pode ter havido, é claro, um compromisso já com vistas a 2006, caso contrário o governador estará fortalecendo o seu principal adversário.

Diário - Qual a situação da eleição em Cuiabá?

Riva – Ela não está decidida. O candidato Alexandre Cesar fechou sua campanha muito bem no primeiro turno. Mas o candidato Wilson Santos tem potencial para virar essa disputa e ganhar. A eleição vai ser definida voto a voto.

Diário – O senhor ajudou a eleger 22 prefeitos. Como foi esse trabalho?

Riva – Foi um trabalho de grupo, muito bem articulado e com uma dedicação integral da minha assessoria. Ganhamos em Juína, com Hilton Campos (PP); em Colíder, com Celso Banazeski (PTB); em Poconé, com Clovis Martins (PTB); em Jauru, com Pedro Ferreira (PTB), que é uma liderança nova, sem contar as três prefeituras do Vale do Arinos: Novo Horizonte do Norte, com Júnior Pereira Neves; Porto dos Gaúchos, com Revelino Trevisan e Tabaporã, com Rogério Riva, todos do PTB. Em síntese, me sinto vitorioso porque ampliei a base de prefeitos que me apóiam e reforçarei o meu trabalho para fazer jus a esse apoio.

Diário - O senhor está sendo considerado um dos políticos que mais saíram fortalecidos nestas eleições e, no entanto, seu candidato não venceu em Juara. O que aconteceu?

Riva – O sentimento de mudança foi preponderante e explica grande parte da derrota. Tínhamos o melhor candidato, as melhores propostas, os maiores apoios. O prefeito Priminho fez uma revolução na cidade nos últimos oito anos, transformando a cidade num canteiro de obras. Só para você ter idéia, ele asfaltou o equivalente a 65 quilômetros de ruas dentro da cidade. Mas um conjunto de fatores fez com que perdêssemos a eleição. O importante é que nosso grupo continua forte no município, pois dos nove vereadores, elegemos seis.

Diário – Como o senhor vai atuar no município, agora na oposição?

Riva – É bom dar uma reoxigenada (risos). Em hipótese alguma farei oposição a Juara, mas ao grupo político que a governará a partir de 2005. Continuarei a lutar pelo município e a dispensar ainda mais atenção à sua população. Mas quero que o novo prefeito, Oscar Bezerra (PSB), experimente um pouco do seu próprio veneno.

Diário - Qual a análise o senhor faz sobre o papel da Justiça eleitoral nessas eleições?

Riva – A Justiça Eleitoral de Mato Grosso tem sido referência para o país. O desembargador Flávio Bertin, presidente do TRE, fez um trabalho excepcional na Justiça Eleitoral, deu segurança aos candidatos, à própria sociedade e houve uma total imparcialidade por parte dos juízes eleitorais.

Diário - O Orçamento para 2005 está tramitando no Legislativo. Qual sua expectativa para aprovação?

Riva – A maioria das emendas já está inserida no orçamento porque o governo do Estado, através do secretário Yênes Magalhães (Planejamento), nos ofereceu condições de discutir a peça antes mesmo dela vir para a Assembléia. Não acredito que vamos ter muitas mudanças. Lógico que elas existirão: as emendas dos deputados, especialmente para atender as demandas regionais – isso é muito natural; os Poderes já discutiram o orçamento e concordaram com o que foi proposto.

Diário - Além do Orçamento, há na Casa uma outra matéria bastante importante: a Emenda Constitucional que amplia o número de desembargadores de 20 para 30. Qual a sua avaliação sobre essa iniciativa?

Riva – É de extrema relevância. Mato Grosso cresceu muito e os atuais desembargadores estão trabalhando no limite. Se o número de vagas não aumentar, cada desembargador ficará com aproximadamente 1.100 processos para relatar. Isso é um absurdo. Com a criação de mais dez vagas, esse total de processos será reduzido para cerca de 700, o que ainda não é o ideal, mas já bem próximo disso. Outra coisa: em 1992, Mato Grosso tinha 36 comarcas e agora vamos ter 82. Quer dizer: não adianta um juiz de primeira instância dar uma sentença se o recurso parar no Tribunal de Justiça por falta de desembargadores e de estrutura para julga-la com agilidade. O Estado tem, especialmente nestes últimos mandatos – e aqui quero fazer uma deferência toda especial ao desembargador José Ferreira Leite – colocado a Justiça mais próxima do cidadão. Por isso, a emenda será aprovada pelos parlamentares estaduais antes do início do recesso, que começa em 15 de dezembro.




Fonte: Diário de Cuiabá

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