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Agronegócios
Terça - 12 de Outubro de 2004 às 13:54
Por: MAURO ZAFALON

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A partir deste ano, o Paraná, líder nacional na produção de milho, deverá rever os conceitos de safra. O que era considerado só uma safrinha e uma complementação na produção de milho nos últimos anos --o cultivo no período de inverno-- deverá passar a ser a principal safra do Estado.

Se confirmados os dados do Deral (Departamento de Economia Rural), será destinado à safra de verão, a que está sendo plantada agora, apenas 1,25 milhão de hectares de terra, área que vem mostrando redução ano a ano nesse período. Já o plantio da chamada safrinha --cultivo do milho durante o inverno-- subirá para 1,4 milhão de hectares, suplantando a área de verão pela primeira vez na história.

"O mercado de milho virou de ponta-cabeça", segundo o analista Fernando Muraro, da Agência Rural de Curitiba. Fatores internos e externos assustam os produtores, que, apesar da forte redução nos preços da soja, ainda preferem a oleaginosa.

Internamente, três fatores pesam na decisão dos produtores, segundo a pesquisadora Vera Zardo, responsável pelo setor de milho do Deral. O primeiro se refere a custos, um item que está furando o bolso de todos os produtores, mas que, no caso do milho, é ainda mais acentuado. Nas últimas duas safras, o custo de produção do milho subiu 106%, enquanto o do trigo aumentou 59%, e o da soja, 57%.

A taxa do câmbio neste segundo semestre também foi uma ducha de água fria no setor. O produto brasileiro, de boa aceitação no mercado externo, perde competitividade devido à valorização do real em relação ao dólar.

Outro fator que afasta os produtores do plantio do milho é a paralisação do mercado interno, segundo Zardo. Apesar do recorde nas exportações de carnes, a analista diz que o produtor ainda não se sente seguro em investir na produção de milho apenas para o consumo interno.

A conjugação desses fatores torna o cenário incerto e derruba os preços. No ano passado, os produtores chegaram a negociar a saca de milho a R$ 25. Hoje o produto vale R$ 14 no Paraná.

Mas não são apenas os fatores internos que trazem incertezas para o milho. Muraro diz que o cenário internacional de 2005 também trará profundas mudanças. "Este foi o ano do hemisfério Norte", diz ele. Há excesso de produção de soja, milho, trigo e canola. E essa boa produção por lá vai dificultar a comercialização do produto brasileiro. Esse cenário é o oposto do ocorrido nos últimos anos, quando a América do Sul praticamente foi a única a abastecer o mercado externo de cereais.

Supersafra mundial

Pelo menos 85% da safra brasileira de grãos vem de apenas dois produtos: soja e milho. E são exatamente esses dois produtos que estão com uma supersafra mundial em 2004/05. Os Estados Unidos vão colher a maior safra da história tanto de soja como de milho. "A safra é tão grande que, pela primeira vez, vão ter problemas de armazenagem", acrescenta.

Só a safra de milho deverá atingir 284 milhões de toneladas, volume que vai ajudar a repor os baixos estoques mundiais. Mesmo com essa safra recorde, os estoques ainda não voltam aos padrões normais, mas já será suficientes para diminuir a pressão nos preços internacionais, segundo o analista.

O rendimento da soja foi imbatível nos últimos anos, e o cenário apontava que os produtores só voltariam a plantar mais milho quando os preços da oleaginosa recuassem. A soja recuou, mas o milho também. "Ruim por ruim, os produtores acabam, mais uma vez, optando pelo produto que dá mais liqüidez: a soja", afirma Muraro. Para ele, a soja ao preço atual de R$ 30 por saca ainda remunera o produtor, mas o milho a R$ 15, não.

Apesar desse cenário desfavorável, "há futuro para o plantio do milho", na avaliação de Vera Zardo. A produtividade, no entanto, deverá ser uma preocupação cada vez maior dos produtores. O Paraná, com média de 5.600 quilos por hectare, tem produtividade superior aos 3.600 quilos da média nacional. Mas o Estado tem de caminhar para uma produção de 9.000 a 10 mil quilos, tal qual a que já consegue em algumas regiões, como a de Ponta Grossa, onde os produtores se especializaram nesse plantio e usam boa dose de tecnologia.

Esse deslocamento da produção de milho para a safrinha pode ser um perigo para o abastecimento do país. Devido às geadas, a cultura do milho no período de inverno tem um componente maior de risco do que no verão. Uma quebra de safra no Paraná, o líder nacional, pode comprometer o abastecimento interno.

O abastecimento do próximo ano, no entanto, não está comprometido, mesmo com a provável redução de 7% da área plantada neste ano. O chamado estoque de passagem --o volume que sobra de um ano para outro-- é elevado e deve garantir parte da demanda de 2005. Mais uma má notícia para o produtor porque mercado bem abastecido é sinal de preços baixos.




Fonte: Folha De São Paulo

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